Desde que minha filha sofreu um grave acidente de carro e foi internada no hospital Carlos Fernando Malzoni, em Matão, no interior de São Paulo, tenho refletido muito sobre qual o mundo eu quero estar e deixar para as futuras gerações.
Ela foi atendida num hospital relativamente pequeno, com excelente estrutura, mas nada comparado aos famosos hospitais da capital. O que mais me chamou a atenção é que o atendimento humanizado fez a diferença em todo o processo.
Para se ter uma ideia, uma das enfermeiras acessou o Instagram da minha filha, viu que ela era adepta às práticas de Reiki e baixou mantras em seu celular para deixar tocando enquanto ela estava em coma. Com essa atitude, ela percebeu que os batimentos cardíacos começaram a baixar e, portanto, deixaram os mantras para ela ouvir.
Depois de 22 dias, fizemos a transferência para a capital paulista, e tivemos acesso a mais diversa tecnologia de ponta para cuidar de sua saúde. E lógico, auxiliou muito, mas posso afirmar que o atendimento humanizado dos profissionais de Matão fizeram toda a diferença. Por terem um número de atendimento menor, eles podiam dar mais atenção e mais qualidade de vida ao paciente.
Aqui na capital, a diferença é gritante. Enfermeiros muito capacitados numa correria louca, pois o número de pacientes para atender é bem maior. São gentis da mesma forma, mas a equação não fecha. Equipes são sempre reduzidas, para diminuir custos e o atendimento é mais rápido, pois não se tem tempo de baixar mantras de Reiki, como fez a enfermeira em Matão. Por isso eu comecei a me perguntar: Que equação é essa maluca que nos faz trabalhar feito loucos nas grandes capitais e nos deixar também doentes, principalmente, pós-pandemia?
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em parceria com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), 12 bilhões de dias de trabalho no mundo são perdidos anualmente por causa de afastamentos em relação à depressão e ansiedade.
A pandemia deixou isso ainda mais evidente e dentro do Instituto Mulheres do Varejo temos discutido muito sobre as relações de trabalho, principalmente porque nós mulheres somos ainda mais afetadas por termos, em pleno século 21, a casa e os filhos para cuidar.
Criamos o conceito dos 4Rs que englobam Relevância, Respeito, Reputação e Resultado para trazer uma nova expansão de consciência às empresas e pessoas:
1 – Relevância: sinônimo de importância, ter valor, significado. Qual a relevância tem a sua empresa, serviços ou produtos para seus colaboradores, para os clientes ou para o mundo? Quando pensamos no tão falado ESG (a governança ambiental, social e corporativa), é muito importante que saber globalmente qual o valor eu tenho para todos os meus stakeholders. Estou sendo relevante no que eu faço? Qual o meu papel no mundo para ser relevante?
2 – Respeito: oriundo do latim respectus, que significa “olhar outra vez”, algo que merece um segundo olhar. Aliando à relevância, o respeito faz sentido quando olhamos o outro, o consultamos para assim ter uma troca rica de experiências, pois “tentar se passar pelo outro”, não traz o mesmo efeito. Conversando com uma amiga que já atuou numa grande indústria farmacêutica, ela contou que a empresa concedia um estagiário para dirigir o carro quando uma mulher ficava grávida. Mas quem disse que as mulheres precisam de alguém para dirigir só porque ficaram grávidas? Não seria melhor perguntar para ela? Um homem não pode decidir, pois nunca vai saber o que é ficar “grávido”. Por isso, respeito é outro item relevante para o crescimento de uma empresa humanizada.
3 – Reputação: Construir castelos de areia não funciona mais, ou melhor, nunca funcionou. Empresas que apostaram o marketing para mentir, não duram muito. Agora com as redes sociais, você tem de ser congruente no que faz e fala. Por isso, se tiver relevância e respeito, sua reputação já está praticamente construída. E temos de pensar nisso. Segundo pesquisa realizada pela Global Tolerance, 84% dos entrevistados trocariam sua empresa atual por outra com uma reputação ética.
4 – Resultado: Hoje a pesquisa Melhores para o Brasil, realizadas pela Humanizadas, através de ciência de dados, elege as empresas com maior percepção de impacto positivo nos ecossistemas em que atuam, avaliando também como elas geram valor e nutrem os relacionamentos com seus interlocutores. E pasmem. Somente duas empresas varejistas foram eleitas pela Humanizadas: o Magazine Luíza e o Da Santa. Utilizando relevância, respeito e reputação você certamente chegará ao resultado se quiser realmente fazer parte de empresas que transformam e deixam legado para as futuras gerações.
Temos um longo caminho pela frente e é nisso que o Instituto Mulheres do Varejo vai se pautar nos próximos anos para que o ponteiro ande mais rápido, pois precisamos de líderes cada vez mais humanizados.
Será cada vez mais frequente a pergunta: Com quem eu quero estar?
Pense nisso!
Sandra Takata é presidente do Instituto Mulheres do Varejo.