As empresas analisadas refletem em seus balanços a melhora gradual e contínua do cenário de consumo, com avanços importantes no desemprego (o menor patamar registrado pelo IBGE desde 2012), massa salarial em nível recorde e inflação relativamente controlada. Os planos de otimização das operações iniciados em 2022/2023 pelas varejistas continuam sendo destaque em seus balanços, e seus frutos continuam a ser colhidos, com empresas mais enxutas, eficientes, focadas em operações rentáveis (muitas vezes às custas da perda de vendas) e com menor alavancagem.
Nesta análise, foram considerados os resultados das duas maiores varejistas de capital aberto em cada segmento: Alimentação (Carrefour e Assaí), Eletromóveis (Magazine Luiza e Grupo Casas Bahia), Farmácias (RD Saúde e Pague Menos) e Vestuário (Renner e Riachuelo).
Em média, neste terceiro trimestre de 2024, as empresas expandiram suas vendas em 6,8% e reverteram um prejuízo acumulado de R$ 184 milhões no 3T23 para um lucro acumulado de R$ 986 milhões no 3T24
Os principais fatores que contribuíram para essa melhoria incluem:
- Vendas e margem: 7 das 8 empresas analisadas expandiram suas vendas (exceto o Grupo Casas Bahia, que tem feito movimento estratégico de reduzir suas vendas em categorias não rentáveis), e todos os negócios mantiveram ou melhoraram significativamente suas margens brutas;
- Melhoria expressiva dos resultados financeiros: os braços financeiros das varejistas voltaram a ser fortes contribuidores do lucro líquido das empresas, com a expansão nas vendas, redução da taxa de juros e controle (ou redução) da inadimplência;
- Redução de custos financeiros: as empresas continuam focadas na diminuição dos custos financeiros;
- Desalavancagem: praticamente todas as empresas conseguiram reduzir seus níveis de endividamento;
- Digital: forte destaque para o crescimento e penetração dos canais digitais em todos os segmentos;
Em média, neste terceiro trimestre de 2024, as empresas expandiram suas vendas em 6,8% e reverteram um prejuízo acumulado de R$ 184 milhões no 3T23 para um lucro acumulado de R$ 986 milhões no 3T24.
O quadro abaixo com o resumo dos resultados desses varejistas:
Como perspectiva para o futuro, temos uma clara mudança de ventos no cenário macroeconômico com o início de um ciclo de altas, descontrole da inflação e o consequente aumento na taxa de juros. Esses movimentos são de longo prazo e não devem afetar a sequência de bons resultados para o 4T24, mas definitivamente terão efeito negativo a partir do início e meados de 2025.
Veja abaixo a análise e destaque por empresa:
Carrefour
A análise do desempenho do Grupo Carrefour Brasil no terceiro trimestre de 2024 mostra uma estratégia focada na expansão e na eficiência operacional. A empresa registrou R$ 29,5 bilhões em vendas, um crescimento de 4,8% em relação ao ano anterior, com destaque para o Atacadão, que apresentou um crescimento de 5,6% em LFL.
O e-commerce também teve alta expressiva, com aumento de 21%, refletindo o crescimento do canal no segmento alimentar, com expressiva representatividade nas vendas de 10,5%. As sinergias da fusão com o Big estão próximas da maturidade estimada da companhia, que capturou R$ 2,7 bilhões dos R$ 3 bilhões (meta até 2025). A empresa ainda registrou Ebitda ajustado de R$ 1,5 bilhão, com margem de 5,7%, e redução de 1,5% nas despesas operacionais.
Assaí
O desempenho do Assaí no terceiro trimestre de 2024 reflete a continuidade do plano de expansão e otimização da gestão financeira da empresa. O faturamento foi de R$ 20,2 bilhões, um aumento de 9,3% em relação ao ano anterior, com 77,5 milhões de tickets, um crescimento de 6%. O Ebitda somou R$ 1 bilhão, alta de 12%, com margem de 5,5%.
O lucro operacional avançou 83%, alcançando R$ 260 milhões, impulsionado pela maturação das novas lojas e melhorias no resultado financeiro. Destaca-se a expansão com 21 novas lojas nos últimos 12 meses, enquanto o plano para o ano prevê cerca de 15 inaugurações. Em relação ao endividamento, o Assaí iniciou um ciclo de redução da dívida.
Magalu
O Magalu deu destaque para a consolidação como ecossistema de negócios com uma nova leitura da sua mandala de negócios. Após o ciclo inicial de aquisições e digitalização, a empresa agora colhe os frutos de uma estratégia centrada em múltiplos fluxos de receita que protegem o negócio das instabilidades econômicas, como o Magalu Bank, Magalu Ads, Magalu Cloud e Magalog.
No último trimestre, o Magalu registrou lucro líquido de R$ 70 milhões, com forte geração de caixa e expansão em vendas digitais e fulfillment multicanal. A parceria com AliExpress, por exemplo, reforça sua posição no mercado de produtos de tíquete intermediário e baixo. Além disso, o avanço em serviços financeiros, como o CDC Digital e seguros, e o crescimento do Magalu Ads, destacam a evolução contínua de um modelo de negócios resiliente e focado no consumidor.
Grupo Casas Bahia
O Grupo Casas Bahia apresentou resultados do terceiro trimestre de 2024 com avanços nas margens operacionais pelo quarto trimestre seguido, crescimento nas lojas físicas e maior penetração de serviços.
O grupo destacou o seu posicionamento como especialista multicanal, apesar da queda de 1,6% no GMV total em relação ao mesmo período de 2023, mas com uma relevante mudança na configuração das suas vendas: queda de 22,6% nas vendas 1P e crescimento de 18,3% nas vendas 3P, totalizando R$ 3,8 bilhões em vendas. O desempenho nas lojas físicas foi positivo, com aumento de 4,6% no GMV. Além disso, a empresa reportou margem Ebtida ajustada de 7,7%, uma melhora significativa em relação ao ano anterior.
RD Saúde
A RD apresentou forte desempenho no 3T24, destacando-se pela expansão contínua, eficiência operacional e ganhos de market share. A empresa terminou o 3T24 com 3.139 farmácias, 72 novas aberturas e crescimento de receita bruta de 15,9%, alcançando R$ 10,7 bilhões. As vendas digitais cresceram 40,2%, com uma penetração de 19% no varejo, impulsionadas pela conveniência de entregas em até uma hora.
Além disso, a empresa tem buscado fortalecer seus pontos e conexão com os clientes por meio do seu ecossistema e do programa de fidelidade Stix (que já conta com 9,2 milhões de usuários ativos). Em relação aos resultados financeiros, o Ebitda ajustado aumentou 23,2%, e o lucro líquido ajustado cresceu 25,5%, totalizando R$ 336,8 milhões.
Pague Menos
A análise sobre a Pague Menos destaca o sólido desempenho no 3T24, impulsionado pela integração das operações da Extrafarma e melhorias operacionais. Com 1.649 lojas ao final do trimestre, a rede teve um crescimento de vendas de 13,9% alavancadas pelas conversões das bandeiras Extrafarma para Pague Menos, que resultaram em um aumento de 30,4% nas vendas das lojas convertidas.
Além disso, o crescimento de clientes e a maior adesão ao app fortaleceram as vendas digitais, que responderam por 15,2% das vendas totais. A empresa apresentou um lucro líquido ajustado de R$ 53,9 milhões, revertendo prejuízos do ano anterior, e atingiu uma margem líquida de 1,5%, com destaque para a melhora da margem e o controle das despesas financeiras.
Renner
A Lojas Renner apresentou uma forte evolução no terceiro trimestre de 2024, impulsionada pelo crescimento de 13% nas vendas de vestuário e pela melhora de 1,1 p.p. na margem bruta. A companhia destacou melhorias operacionais por meio de avanços na alavancagem e na cadeia de abastecimento omnichannel, otimizando os tempos de reposição e aumentando a eficiência.
O resultado foi uma elevação do lucro líquido para R$ 255 milhões e geração de R$ 412 milhões em fluxo de caixa livre. No digital, o GMV avançou 24%, enquanto a unidade financeira, Realize, registrou resultados positivos pelo quarto trimestre seguido, reforçando a relevância para o varejo.
Riachuelo
A Riachuelo demonstrou um crescimento robusto no terceiro trimestre de 2024, com um aumento de 11,5% nas vendas e 10% no conceito de mesmas lojas (SSS). Com foco em fortalecer a proposta de valor, a empresa aprimorou sua logística e gestão de estoques, reduzindo rupturas e a necessidade de remarcações.
A estratégia de clusterização de lojas e o fortalecimento das linhas de entrada impulsionaram as vendas em regiões populares, elevando o volume de peças vendidas em 14%. A margem bruta do vestuário aumentou 4 p.p., atingindo 54,8%. A operação financeira do grupo voltou a contribuir fortemente para o resultado da companhia, crescendo 5,6 vezes devido a melhorias na gestão de carteira e inadimplência. Com uma margem Ebitda de mercadorias em 12,6%, a Riachuelo reverteu o prejuízo apontado em 3T23 e registrou lucro líquido de R$ 45,1 milhões.
Eduardo Yamashita é COO da Gouvêa Ecosystem.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
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