A loja de departamentos que virou suco e alimentos

Sobre os desafios que envolvem a re-invenção das tradicionais lojas de departamentos já se falou muito. E sobre algumas das iniciativas nessa direção também.

Mas o que o El Corte Inglés tem feito nesse processo é marcante e está criando um benchmarking global.

Pudemos constatar recentemente essas mudanças em visitas às lojas de Madrid e Marbella na Espanha e, na semana passada, em Lisboa,  quando da reunião semestral do Grupo Ebeltoft.

Na loja inaugurada no final de dezembro, houve uma renovação total do 7o andar, que se transformou, figurativamente, num Eataly dentro do El Corte Inglés, porém ainda mais ambicioso em sua proposta com ampla oferta de bebidas, alimentos, produtos gourmet e restaurantes temáticos, operados por estrelados chefs, dentre os melhores da cidade, com uma oferta total de mais de mil lugares para sentar em 5000 m2 de loja.

Além dos restaurantes de chefs como José Avillez e Henrique Sá Pessoa, a área ainda conta com operações de sorvetes, chocolates (Godiva), Gin Lovers, o Club Gourmet, ampla área de vinhos com adega exclusiva e espaço para charutos. Tudo integrado no mesmo andar, com a marca Gourmet Experience.

Rapidamente se transformou num novo destino turístico e gastronomico em Lisboa, já que além desse 7o andar totalmente remodelado, ainda opera no primeiro subsolo um supermercado gourmet que é para deixar qualquer um com muita vontade de ficar preso por lá quando a loja é fechada à noite.

Da mesma forma como faz a rede Whole Foods, eles também estão disponibilizando nessa operação, espaços para consumo local de produtos, mesclando a venda de alimentos para levar para casa com a de alimentos para serem consumidos no local.

Essa loja em Lisboa do El Corte Ingles mais se aproxima da ideia de um Shopping Center, num dos pontos mais bem localizados da cidade, junto ao Parque Eduardo VII, e essa reformatação, assim como as outras que eles têm feito, mostra o vigor da expansão dos serviços no varejo, quando os operadores respondem com novos formatos e propostas à crescente demanda por serviços integrados com produtos, criando soluções. Neste caso, com alimentos prontos num ambiente integrado com experiências e variedade.

De alguma maneira, essa iniciativa mostra a convergência de algumas tendencias já definidas.

Reflete a busca de novos modelos para operações de shopping centers pela alimentação e serviços, como tem acontecido em todo o setor.

Reflete a crescente oferta de serviços pagos no varejo por demanda de consumidores que cada vez pedem mais soluções para tornar sua vida mais prática. Reflete alternativas pelas quais as lojas de departamentos estão se reinventando pela inclusão de mais alimentos em sua oferta, como já fazem outras marcas, como Harrod’s, Selfridges na Inglaterra, Printemps e Galleries Lafaiette na França, assim como Rinascente na Itália e outras mais, tentando reverter o ciclo de declínio que assola o formato.

Importante lembrar que o El Corte Ingles já tem diversos formatos e operações em seu portfolio de negócios na área de alimentos, como hipermercados Hipercor, supermercados Supercor, as conveniências Opencor e Supercor Express.

Opera também serviços óticos na Optica 2000, as lojas de material de construção e acabamento Bricor, o El Corte Ingles Viajes, a loja especializada em moda Sfera, é ainda operadora de celular e também atua com um negócio dedicado à Tecnologia e Informática, além de estar presente de forma bastante agressiva no ecommerce em quase todas suas bandeiras e formatos.

Seu braço financeiro inclui seguros, financiamento e cartão de crédito, tendo o Santander como sócio em algumas dessas atividades.

O faturamento consolidado e reportado do grupo é de US$ 18,6 bilhões. Já teve operações também através de licenciamento em outros mercados e, em algum momento próximo, prevê-se que irá expandir operações para a América Latina, onde já realizou algumas sondagens para avaliar possibilidades.

Da mesma forma que o Sonae, em Portugal, o Grupo El Corte Ingles é aquele conglomerado de varejo que tem escala global por seu faturamento, multiplicidade de negócios, formatos, marcas e canais, mas que prefere concentrar regional e geográficamente suas operações físicas.

A globalização do varejo, especialmente precipitada pela internet, vai impor nos próximos anos novas alternativas de atuação para o Grupo, para se tornar mais competitivo em seus próprios territórios tradicionais e outros mais, fora de sua zona de conforto.

*Imagem reprodução

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