Muita calma nessa hora, mas vale a pena acreditar

Wooden chess and hand holding the queen

Por Marcos Gouvêa de Souza*

As pedras estão colocadas no tabuleiro. Jogando o jogo que é possível ser jogado num quadro onde o grau de incerteza é ainda muito alto.

Definitivamente não podem ser minimizados os desafios do processo de recuperação da economia e da confiança de consumidores e empresários de todos os setores. Os estragos foram de grande monta.

O cataclisma que se abateu sobre o País demandará tempo, muita ação, foco, negociação e, acima de tudo, bom senso e perseverança para ser revertido.

É uma longa e complexa jornada, mas tudo indica que podemos estar na direção correta, se levarmos em conta o que foi defendido no programa “Uma ponte para o futuro”, primeira proposta articulada pelo atual presidente em exercício.

As incertezas envolvem especialmente a negociação no âmbito do Congresso, das medidas que podem redirecionar o País para a construção de uma outra realidade, alinhada com uma visão estratégica, visando a competitividade do País e sua viabilidade no longo prazo.

Não podemos mais pensar apenas nos próximos 5 anos. Temos que promover um choque quântico e discutirmos o Brasil que queremos para os próximos 20 anos. Para as próximas gerações.

Nessa perspectiva, podemos até transigir com alguns pontos no curto prazo como mal necessário desde que, e somente se, estejamos perfeitamente alinhados com a visão de longo prazo e como chegaremos lá. Basta de mesquinhez estratégica.

Os desafios envolvem também a pressão pela sonhada e desejada reversão, mas que não pode ser operada de forma plena pela simples mudança de liderança, pois muito existe para ser discutido e negociado e onde os agentes continuam sendo exatamente os mesmos que antes estavam nessa mesma arena. Muitos apenas trocaram a camisa.

E vamos lembrar que não se ensina truque novo para cachorro velho.

Eis a maior fonte de preocupação.

Os agentes responsáveis pela ansiada e cobrada transformação são os mesmos que, de alguma forma, contribuíram para que estejamos vivendo o que temos vivido.

É verdade que existem alguns aspectos diferentes e relevantes nesse cenário e, claramente, o mais importante deles é o recém adquirido protagonismo da Justiça, investigando, processando e condenando quem estava anteriormente com o sentimento pleno de impunidade.

Mas o que poderia decisivamente contribuir para uma mudança radical de perspectiva seria a mobilização do setor empresarial fazendo-se mais presente na discussão dos grandes temas nacionais e trazendo uma visão muito mais comprometida com o longo prazo e a competitividade do País, associados com maior equidade no plano social.

Esse aspecto pode se tornar decisivo na construção do futuro do Brasil, mas eis o alerta: não é isso que se percebeu na composição do time que terá a responsabilidade de trabalhar nessa direção.

Sobram políticos tradicionais e falta mente, coração, discurso e prática com visão mais estratégica e empresarial.
Temos razões sérias para temer com esse time do presidente Temer.

Esperamos sinceramente que seja apenas uma contingência de curto prazo.

Mas para que esse quadro possa ser redesenhado, é preciso que o setor empresarial, de forma orquestrada e integrada, entre em campo em condições de articular, atuar, compor e direcionar esse necessário processo mais estratégico.

Até lá, é preciso muita calma para termos a certeza que o conjunto de medidas está alinhado com o que o Brasil precisa.

Mas dá para acreditar que o passado recente possa ser definitivamente enterrado. E isso já será um ótimo começo de jornada.

*Marcos Gouvêa de Souza (mgsouza@gsmd.com.br) é diretor-geral da GS&MD – Gouvêa de Souza. Siga-o no Twitter: @marcosgouveaGS

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