A incorporação da BRF pela Marfrig, formalizada por meio de uma incorporação de ações, garantirá prêmios significativos aos acionistas e pagamentos extraordinários que somam até R$ 6 bilhões, explicaram executivos da empresa em entrevista coletiva. A operação prevê que os acionistas da Marfrig receberão um prêmio de cerca de 38% sobre os preços atuais dos papéis, enquanto os da BRF terão um ganho de 15% a 20%.
Além disso, a transação inclui o pagamento de proventos extraordinários de até R$ 3,5 bilhões por parte da BRF e R$ 2,5 bilhões pela Marfrig.
Segundo os executivos das companhias, esses valores fazem parte da lógica de valorização usada para definir a relação de troca – estabelecida em 0,8521 ação da BRF para cada ação da Marfrig – com base na metodologia conhecida no mercado como soma das partes.
Após a convocação das assembleias gerais, acionistas que não desejarem integrar a nova companhia terão 30 dias para exercer o direito de recesso. Apenas aqueles que permanecerem farão jus aos dividendos e proventos previstos na reestruturação. Quem não quiser participar da incorporação vai receber dinheiro em vez de ações: R$ 19,89 por ação.
A nova empresa será denominada MBRF e terá uma estrutura executiva ainda a ser definida. A incorporação, segundo os envolvidos, não exigirá aprovação regulatória externa, com análises já concluídas indicando que o aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) não será necessário para a operação.
Lucro cresce
A Marfrig Global Foods encerrou o primeiro trimestre de 2025 com lucro líquido de R$ 88 milhões, alta de 40,3% ante os R$ 63 milhões de igual período de 2024, informou a companhia na quinta-feira, 15, depois do fechamento do mercado. O Ebitda subiu 20,8% ante o primeiro trimestre de 2024, de R$ 2,646 bilhões para R$ 3,196 bilhões. Já a margem Ebitda ficou em 8,3%, abaixo dos 8,7% de um ano antes. A receita líquida aumentou 27%, de R$ 30,371 bilhões do primeiro trimestre de 2024 para R$ 38,562 bilhões de janeiro a março deste ano.
De acordo com a empresa, a dívida líquida consolidada fechou o primeiro trimestre de 2025 em R$ 38,125 bilhões, queda de 5,3% ante igual período de 2024. A alavancagem, medida pela relação entre dívida líquida e Ebitda ajustado, passou de 3,43 vezes ao fim de março de 2024 para 2,69 vezes no término do primeiro trimestre deste ano. O fluxo de caixa operacional atingiu R$ 3,079 de janeiro a março. Os investimentos consolidados no primeiro trimestre foram de R$ 1.439 bilhão.
Operações
A operação América do Norte, capitaneada pela National Beef, registrou receita líquida de US$ 3,266 bilhões, alta de 15,4% em relação a igual período de 2024. O Ebitda gerencial ficou em US$ 6 milhões, queda de 89,7%. A margem Ebitda da operação foi de 0,2%, contra 2,1% um ano antes. O volume total comercializado pela unidade foi de 502 mil toneladas, alta de 5,2%. Do total, 432 mil toneladas foram destinadas ao mercado interno e outras 69 mil toneladas ao mercado externo.
Já na operação América do Sul, a receita líquida aumentou 35,2%, para R$ 4,082 bilhões no primeiro trimestre de 2025. O Ebitda alcançou R$ 453 milhões, alta de 56,2%, enquanto a margem Ebitda ficou em 11,1% ante 9,6% de um ano antes. O volume de vendas foi de 206 mil toneladas, 24,5% maior na comparação anual. Foram 66 mil toneladas exportadas e 139 mil toneladas destinadas ao mercado interno.
A companhia classificou o resultado da BRF, com receita líquida de R$ 15,425 bilhões (alta de 15,7% em um ano), Ebitda de R$ 2,752 bilhões (+30,1%) e margem Ebitda de 17,8%, como “ótimo”.
Desempenho
O presidente do Conselho de Administração da Marfrig, Marcos Molina, informou, no documento de divulgação dos resultados do primeiro trimestre, que a empresa segue a busca “pela melhor alocação de capital e a redução da alavancagem financeira”. Ele ressaltou ainda o “oitavo trimestre consecutivo de redução” da alavancagem, atualmente em 2,69 vezes em reais. “Quando medida em dólares, a alavancagem financeira foi de 2,63 vezes”, disse.
Segundo Molina, a Marfrig “fortaleceu ainda mais” as iniciativas conjuntas com a BRF, “intensificando o uso conjunto” de marcas. “Nossa integração cada vez maior foi fundamental para mitigar os efeitos não recorrentes e sazonalidade do primeiro trimestre”, reforçou.
O executivo ressaltou ainda que a decisão estratégica de concentrar a produção em complexos industriais com maior foco em produtos de alto valor agregado “foi fundamental para que a Operação América do Sul apresentasse um crescimento de mais de 35% em receita líquida de vendas, alcançando R$ 4,1 bilhões no primeiro trimestre de 2025”.
Os resultados na América do Sul e da BRF “foram fundamentais” para compensar o trimestre desafiador da operação na América do Norte, “que passa por um momento de baixa disponibilidade de animais e maior custo de matéria-prima”.
Molina destacou também que a conclusão da aquisição das unidades de confinamento e produção agrícola da MFG Agropecuária Ltda. No primeiro trimestre deste ano foi “outro passo importante” para garantir o fornecimento de matéria-prima; mitigação do custo de ociosidade dos complexos industriais e o fornecimento de animais de alta qualidade, acrescentou o presidente do Conselho de Administração da Marfrig.
Com informações de Estadão Conteúdo (Leandro Silveira, Isadora Duarte e Tânia Rabello).
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