Kris Hammond, professor de ciência da computação na Universidade Northwestern, nos Estados Unidos, e referência quando se trata do tema interação homem-máquina, esteve no Brasil em junho para falar sobre um dos maiores temores dos trabalhadores modernos: os computadores chegarão a substituir a mão de obra humana?
No evento Knowledge Exchange Sessions, Hammond mostrou que a capacidade dos sistemas de processar e analisar uma grande quantidade de dados já tem transformado os negócios e exigido novas habilidades dos profissionais. E isso não deve parar por aí. A chamada computação cognitiva deve mudar até a forma como tomamos decisões. A seguir, você confere a entrevista que ele deu a VOCÊ RH.
A computação cognitiva será capaz de substituir o ser humano?
Acredita-se que os computadores serão incapazes de lidar com as nuances de raciocínio que permite aos humanos avaliar o que está acontecendo com o mundo e tomar decisões. O pressuposto por trás dessa crença é de que as pessoas são realmente boas nesse raciocínio — e isso é uma mentira. Na realidade, nós estamos propensos a errar por causa de preconceitos e inclinações que carregamos e que influenciam nossas escolhas. Por conta disso, eu acredito que os sistemas de inteligência artificial nos ajudarão a melhorar nossas opções, evitando os convencionalismos que nos prejudicam. A capacidade dos programas de raciocinar sem esses prejulgamentos é poderosa; a tecnologia está apta a fazer melhor do que nós a gestão de decisões complexas. Por outro lado, assim como as máquinas estão livres das crendices que nos sabotam, nós temos informações sobre o mundo que elas não têm.
Como as pessoas podem se beneficiar dessa tecnologia?
Devido aos recentes avanços, existem áreas nas quais a computação cognitiva funciona inacreditavelmente bem, em particular nos campos em que há uma grande quantidade de dados, a partir dos quais previsões, problemas, oportunidades e avaliações podem ser desenhados. Por outro lado, existem setores nos quais os números ou não existem ou não estão em um formato que permita que sejam utilizados por computadores. É nessa parte que as pessoas e suas experiências continuarão se destacando. O fato de cada “sistema”, tanto o tecnológico quanto o humano, ter seus pontos fortes e seus pontos fracos é um bom argumento para a parceria homem-máquina, que deve combinar o melhor de ambos a fim de superar suas fraquezas.
De que forma a inteligência artificial deve influenciar a gestão de pessoas?
O maior impacto da computação cognitiva será no gerenciamento de carreira. A combinação do processamento de dados com as análises preditivas permitirá não apenas avaliar as pessoas mas também dar a elas conselhos proativos dizendo quais são seus pontos fortes e as áreas que devem focar para se desenvolver. No geral, a inteligência artificial e a ciência de análise de dados que a sustenta farão com que tenhamos indicações baseadas em provas, em vez de apenas suposições. Educação e saúde, por exemplo, são campos em que veremos as máquinas nos ajudando a melhorar não só o que fazemos, mas o que somos, apontando a direção para nos aperfeiçoarmos.
A partir de quando essa tecnologia começará a afetar as carreiras?
Logo. Mas o impacto não será o mesmo que esperamos. Quando a inteligência artificial começar a fazer tarefas mais intelectuais, haverá uma disrupção. Essa ruptura permitirá que os profissionais qualificados assumam posições de coordenação e façam trabalhos mais importantes e estratégicos, enquanto os sistemas inteligentes farão o trabalho tático. Essa linha divisória entre tático e estratégico irá mudar com o passar dos anos, com as máquinas realizando mais e mais serviços. Mas, se construirmos parcerias com as máquinas, isso nos ajudará por um bom tempo.
Precisamos temer a computação cognitiva?
As profissões altamente analíticas irão sentir o impacto dessa tecnologia muito em breve. Com isso, nós teremos menos cargos de entrada e mais posições estratégicas e de planejamento. Com o passar do tempo, a inteligência artificial estará habilitada a realizar tudo que nós fazemos também. No fim das contas, teremos de rediscutir quem nós somos e o que todos nós fazemos como profissionais. Mas esse dia ainda está muito longe.