Estamos saindo da maior crise de nossa história recente desorganizados politica, social e economicamente e com um brutal déficit fiscal e com grandes desafios à frente para recuperar o emprego, a renda e a confiança. É tempo de bravatas ou união?
Para além do desemprego recorde que atinge perto de 14% da população brasileira, sem contar o sub emprego e a informalidade, temos uma economia fragilizada pelo rombo das contas do governo de perto de R$ 870 bilhões, porém com bolsões de prosperidade que reúnem os setores financeiro, agropecuário, a agroindústria, diversos segmentos do consumo e o varejo, como atacarejos, super e hipermercados, material de construção e quase todos que conseguiram se posicionar de forma visionária no canal digital.
Tudo em boa parte estimulado, de forma correta, pelo artificialismo do auxílio emergencial como alternativa para enfrentar o período mais dramático da pandemia, mas que conquistou simpatia geral a ponto de fazer crescer positivamente a avaliação do governo federal.
E que estimula alguma forma de continuidade pelo impacto positivo no consumo, na retomada e na avaliação da população, antes que uma vacina, obrigatória ou não, possa estar disponível em escala massificada para imunizar e permitir a retomada plena de todas as atividades econômicas e sociais.
Até lá estaremos vivendo períodos ainda difíceis, complexos, voláteis e incertos. Ë verdade, de forma desigual entre diferentes setores e segmentos econômicos e sociais. Só para repetir o conceito de um VUCA potencializado pela pandemia. E rebaixados globalmente, deixando de ser uma das dez maiores economias do mundo pelos nossos próprios equívocos, e crescendo na percepção global de que não sabemos, ou não podemos, cuidar corretamente de nossos recursos naturais.
É inegável que, como país, de forma mais geral, estamos mais desorganizados, desiguais, endividados e dependentes do Estado, em particular para preponderantes segmentos de classe mais baixos. E, para completar, começando a enfrentar o repique da pandemia que, a seguir o que aconteceu em países que viveram todo o ciclo com alguns meses de antecedência, deverá ter ainda maior número de contaminados, até por efeito do aumento do número de testes, porém com redução significativa no número de óbitos.
Ou seja, não deveria ser tempo de bravatas, discursos infantilóides no melhor estilo do derrotado presidente Trump, acirramento de disputas ou estímulo à cizânia.
Muito pelo contrário. Deveria ser um tempo de convocar e unir a Nação para o enfrentamento dos nossos problemas estruturais que temos por resolver. Buscar de forma decisiva, levar adiante as inadiáveis Reformas Administrativa e Tributária. Enfrentar com ações decisivas e comunicação positiva as questões que envolvem Sustentabilidade, em especial tudo que diz respeito à Amazônia. Nos aproximarmos das economias que podem contribuir na nossa retomada, seja ela em V, J ou K, para minorar as consequências dramáticas dos problemas que já eram grandes pré-pandemia, mas que foram potencializados nesse período.
E isso começa com a correta avaliação e dimensão dos reais problemas. Mas. para isso, é preciso ter visão, estatura e foco no que é essencial, estrutural e o que é passageiro. E isso nos tem faltado, não só a diversos governos, mas também para boa parte da liderança empresarial. Esse é um momento de buscarmos o consenso possível, porém decidida e rapidamente, pois os problemas podem se agravar.
Se é para ser propositivo…
Nunca tantos discutiram tanto de forma tão intensa, estruturada e embasada sobre nossos problemas. Méritos da disseminação de acesso e uso das redes sociais. A tal ponto que vivemos o crescente drama de nos mantermos conectados e atualizados dado o volume do que nos chega de informação.
Mas nem por isso estamos avançando nas soluções pois, ao final, em termos de mecanismos, estruturas e ações, estamos fazendo a mesma coisa esperando resultados diferentes. O que já se definiu como insanidade.
É preciso atuar para reunir tanta visão, contribuição, entendimento e compreensão para mudar a forma como temos agido para transformar a realidade. Esperar que governos tenham essa iniciativa é pedir para se frustrar. Ou nos damos conta que estamos nos apequenando como País ou Nação, ou vamos pagar pela inanição.
Para ser propositivo, é tempo de a sociedade e dos setores empresariais se integrarem para buscarem caminhos próprios, diferentes das estruturas atuais, para promover a transformação possível agora que, como nunca antes, nos demos conta, discutimos e nos sensibilizamos com os problemas que temos.
Não é mais tempo de diagnósticos e bravatas. Precisamos de ampla e estruturada mobilização para promover a inadiável transformação.
NOTA: Toda a discussão das transformações do varejo norte-americano pós pandemia e seus impactos potenciais em outros mercados e no Brasil vocês poderão acompanhar na série Retail Trends.
Marcos Gouvêa de Souza é diretor-geral da Gouvêa Ecosystem.