Nesta altura poucos são ainda aqueles que acreditam que a pandemia não deixou marcas perenes e estruturais em nossa realidade. Talvez as principais são aquelas ligadas à profunda transformação da realidade a partir do crescimento da relevância do digital em tudo que fazemos. E seu poder transformacional transcende em muito ao uso mais intenso dos canais digitais para compras, informação, comunicação, promoção e relacionamento.
Cresceu de forma impressionante o uso dos canais digitais para absolutamente tudo e, passada a pandemia, haverá claro decréscimo, mas, definitivamente, não voltará aos patamares anteriores.
De forma geral criamos novos padrões de comportamento que alteram a forma como nos comunicamos, as referências e fontes de informação, nossa demanda por atualidade, a própria noção do tempo e, no âmbito do consumo e do varejo, como nos atualizamos, onde comparamos e compramos e nossas expectativas com o nível de serviço.
No Brasil o resultado prático disso é que em um ano a participação das vendas via comércio eletrônico deve dobrar e superar os R$ 100 bilhões de reais. E continuará expandindo em velocidade superior ao que acontecia no passado reconfigurando o mercado, redesenhando participações de marca e varejistas e aumentando a concorrência, ao mesmo tempo que pressiona a rentabilidade bruta dos negócios por permitir uma comparação mais direta e simples de preços e serviços oferecidos.
Sem falar no aumento da concorrência transversal pois os próprios fornecedores e marcas avançam em novos modelos de negócios e canais em busca de uma conexão direta com o consumidor final. Vide exemplos de Unilever com lavanderias Omo ou a P&G com também lavanderias Ariel.
Estamos vivendo uma exponenciação do nível de concorrência com impactos em vendas, participação de mercado, reconfiguração de estratégias e canais de distribuição e rentabilidade bruta e que exigirá que as empresas se tornem ainda mais eficientes em sua gestão buscando equilibrar tudo isso com maior eficiência operacional.
Na componente gestão, dois elementos se tornam fundamentais dentro da nova ordem: inovação e senso de urgência.
Inovação para buscar soluções alternativas que permitam melhoria do nível de vendas, eficiência, produtividade, flexibilidade e a felicidade de quem opera sem o que o negócio perde espaço e pode até desaparecer.
Senso de urgência para que tudo seja feito em velocidade superior ao que acontecia no passado, caso contrário a solução inovadora, quando implantada, pode já não ser tão inovadora assim.
Ao menos esses dois elementos se tornaram fundamentais no novo cenário.
Não será fazendo mais do mesmo que serão encontrados novos caminhos. E não será tudo a seu tempo que as empresas e os negócios poderão sobreviver. E isso é fundamental, em especial, para as pequenas e médias empresas que tem como seu maior diferencial competitivo exatamente a potencial flexibilidade e agilidade.
E é por isso que startups, fintechs e conceitos assemelhados estão criando a ordem.
As grandes corporações têm a seu favor o tamanho, o poder de fogo, o acesso ao crédito e a massa de manobra. E demoram mais tempo para sofrer o impacto do processo transformador.
De forma ideal quando uma grande corporação percebe essa nova ordem pode, e deve, repensar seu modelo de gestão e mesmo sua cultura organizacional para incorporar Labs ou iniciativas inovadoras, limitadas ou mais amplas, para tentar conciliar os benefícios das grandes organizações com as virtudes de pequenos e médios, especialmente aqueles que gravitam no ambiente digital, criando a desejável combinação virtuosa.
Se as plataformas exponenciais, como Google, Amazon, Facebook e muitas outras transformaram a realidade dos negócios no mundo ocidental, os Ecossistemas de Negócios fizeram o mesmo na Ásia, especialmente na China, com Tencent, Alibaba, Didi, JD e muitos outros. Em ambos os conceitos os elementos culturais dominantes eram a capacidade de inovação contínua e ascendente e o senso de urgência para tudo acontecesse rapidamente.
Exemplos na realidade do Brasil podem ser encontrados nas várias frentes. No lado das corporações podemos citar Magalu, XP, Americanas, Carrefour, Santander-Getnet e, mais recentemente, Via Varejo, dentre outras. No lado dos nativos digitais Stone, Rappi, Uber Eats, Mercado Livre, PicPay, dentre muitas.
O fato é que a combinação Inovação e Senso de Urgência, mais do que uma desejável combinação de elementos para criar alternativas para crescer no novo e reconfigurado cenário, tornou-se um binômio fundamental para assegurar a sobrevivência de empresas e negócios.
E quanto mais cedo isso for percebido e a cultura, a organização e o modelo de negócio for repensado, mais oportunidades poderão se abrir.
NOTA: O repensar do modelo de gestão e atitude empresarial na nova realidade também serão temas que estarão na pauta do Global Retail Show, de 13 a 19 de setembro, em 15 países e apresentado por perto de 280 líderes desses setores em todo o mundo. E com duas pesquisas exclusivas, uma sobre o comportamento e atitudes pós-Covid, realização da Mosaiclab e apoio da Toluna, e outra como os empresários brasileiros do setor avaliam a evolução do varejo, essa com apoio da FGV.
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