O Brasil, sem dúvida, é um dos países mais receptivos a pessoas de todo o mundo e, mais ainda, a se abrir para conhecer suas culturas e experimentar seus sabores. Os sabores asiáticos têm ganhado destaque há alguns anos entre os mapas de potencial consumo e aplicação. Gengibre, chás, combinações agridoce, gergelim, caldos saborosos, confeitaria menos açucarada, são apenas a ponta do iceberg.
Mais do que uma tendência que influencia o mercado em geral, temos visto uma importante abertura de novos negócios com influência asiática e queremos provocar o entendimento do porquê. Em fevereiro de 2024, segundo a Data Driva, foram apurados mais de 13 mil restaurantes (sem considerar cafeterias e confeitarias) classificados nas tipologias asiáticas (japonês, chinês, coreano, tailandês etc.); desse total, 85% são restaurantes japoneses.
Destacando as três principais etnias asiáticas estabelecidas no Brasil, temos: os japoneses, que vieram para o País em 1908, incentivados a apoiar a evolução das técnicas agrícolas. O Brasil representa, mundialmente, a segunda maior população de japoneses e descendentes fora do Japão.
Os primeiros chineses chegaram em 1857, mas não se estabeleceram por aqui. O número atual da população chinesa resulta de um crescimento mais expressivo nos últimos 20 anos, estimulado pelas relações comerciais entre Brasil e China.
Por fim, a comunidade coreana, que por muito tempo teve uma presença discreta no Brasil, mais recentemente, passou a se destacar, seja pela ativação cultural gerada por séries e outros elementos divulgados por mídias sociais, gerando maior relação entre os países, inclusive com brasileiros indo para a Coreia do Sul e vice-versa.
É claro que a presença mais robusta de uma população permite uma maior expansão dos negócios correlatos. No entanto, para abordar esse macromovimento, queremos destacar que o crescimento do consumo de alimentos asiáticos no Brasil pode ser atribuído a 10 macrofatores interligados:
- Globalização e acesso à informação: A globalização tem facilitado o intercâmbio cultural, e o acesso à internet permite que as pessoas conheçam e experimentem novas culturas e culinárias. Isso aumenta a curiosidade e o interesse;
- Diversidade cultural: O Brasil é um País multicultural, com uma população aberta a novas experiências gastronômicas. A imigração de comunidades asiáticas, ao longo dos anos, também contribuiu para a introdução e popularização de pratos asiáticos no País.
- Saúde e bem-estar: Muitos alimentos asiáticos são percebidos como opções saudáveis, já que frequentemente incluem ingredientes frescos, vegetais, frutos do mar e métodos de cozimento que preservam nutrientes. Essa percepção tem atraído consumidores que buscam uma dieta mais equilibrada;
- Crescimento de restaurantes e delivery: A expansão de restaurantes asiáticos e a popularização de serviços de entrega de comida facilitaram o acesso a esses alimentos. Isso inclui não apenas grandes centros urbanos, mas também cidades menores que agora têm opções de culinária asiática;
- Influência da mídia e celebridades: Programas de culinária, influenciadores digitais e chefs renomados têm promovido a culinária asiática, aumentando sua visibilidade e atratividade. A popularidade de séries e filmes asiáticos também contribuiu para despertar o interesse por essa cultura;
- Variedade e sabor: A culinária asiática oferece uma ampla variedade de sabores, texturas e pratos que vão desde o picante ao suave, do doce ao salgado, o que agrada a diferentes paladares e incentiva a experimentação;
Podemos adicionar também:
- Exposição cultural: Séries asiáticas, como dramas coreanos (K-dramas) e animes japoneses, frequentemente apresentam cenas de refeições e pratos típicos, despertando a curiosidade dos espectadores sobre esses alimentos;
- Conexão emocional: Os espectadores, muitas vezes, desenvolvem uma conexão emocional com os personagens e suas histórias, o que pode levar a um desejo de experimentar aspectos da cultura, incluindo a culinária;
- Popularidade crescente: Com o aumento da popularidade de plataformas de streaming que oferecem conteúdo asiático, mais pessoas têm acesso a essas séries, ampliando a influência cultural;
- Conteúdo viral: O TikTok é conhecido por sua capacidade de tornar tendências virais rapidamente. Receitas e desafios relacionados a alimentos asiáticos podem se espalhar rapidamente, incentivando os usuários a experimentarem e compartilharem suas próprias experiências.
Essas influências midiáticas ajudam a popularizar e normalizar o consumo de alimentos asiáticos, tornando-os parte do cotidiano de muitos brasileiros.
Identificar negócios de alimentação inovadores nas culinárias coreana, chinesa e japonesa no Brasil envolve observar tendências de mercado, adaptações culturais e a introdução de novas experiências gastronômicas.
Alguns exemplos importantes da culinária coreana, que tem ganhado força, são o Korean Barbecue experiencial, em que a grelha da carne está integrada à mesa, proporcionando uma experiência única. Outros pratos que vêm ganhando destaque são os da comida de rua coreana, geralmente caracterizados por sabores mais apimentados.
Já os destaques da culinária chinesa incluem o ritual do chá e o conceito de culinária fusion, em que elementos da gastronomia chinesa são integrados à cultura brasileira.
Apesar de a culinária japonesa ser dominante em número de estabelecimentos, estamos vivenciando uma nova onda: uma cozinha com sushis criativos, que introduz produtos veganos e vegetarianos; o ramen, que sempre existiu, ganhando popularidade entre os jovens; e o investimento em uma culinária mais tradicional, ensinando os brasileiros a acessar uma gastronomia mais sofisticada.
O fato é que o mercado brasileiro ganha com essa popularização em saúde, diversidade e, principalmente, em técnica. As culinárias asiáticas possuem um estilo muito particular de produção, que pode nos ajudar a sofisticar nossos modelos operacionais, seja pela metodologia, apresentação de produtos, processos bem estabelecidos ou higiene.
Outro diferencial cultural são a disciplina e a contínua busca pela perfeição. Sim, a culinária francesa também traz esses elementos, mas a asiática sinaliza tornar esse modelo mais acessível e democrático ao nosso mercado.
Ensaiei colocar aqui algumas dicas de lugares, mas seria injusta, pois existem muitas opções vencedoras. Então, vou me limitar a reforçar a importância de que todos os envolvidos neste mercado conheçam uma cafeteria ou confeitaria asiática, além de um restaurante ou bar, nos próximos dias, e registrem seus aprendizados.
Vamos juntos nessa jornada de aprendizado das melhores práticas do mercado de alimentação. Inspira foodservice.
Cristina Souza é CEO da Gouvêa Foodservice.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
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