COP30 e o mercado de hospitalidade no Brasil

COP30 e o mercado de hospitalidade no Brasil

O setor de hospitalidade no País busca cada vez mais ampliar sua capacidade para atendimento aos turistas com excelência. E alguns eventos criam pressões e oportunidades para que essa aceleração ocorra. Esse ano, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, também chamada de COP30, por estar na 30ª edição da Conferência das Nações Unidas para promover a discussão sobre o tema, está prevista para ocorrer entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025, na cidade de Belém, no Pará, segundo o anúncio da ONU em 18 de maio de 2023.

Claro que um evento como esse é importantíssimo para o País, não só pela pujança do tema, mas pelo potencial de geração de receitas.

Eu fui uma única vez ao Estado do Pará e foi para a Cidade de Santarém. Então, recentemente, interessada em analisar a confluência entre eventos desse porte e hospitalidade, coloquei foco sobre a COP30 e fui pesquisar a respeito da capacidade hoteleira, pois fiquei curiosa sobre a indicação da cidade pelo presidente.

Belém é a segunda mais populosa cidade da Região Norte do País. Abriga o maior polo comercial do Pará, comercializa produtos do interior amazônico e sedia indústrias do setor alimentício, naval, metalúrgico e químico.

Muitos dos principais pontos turísticos de Belém estão concentrados na região do Centro Histórico, composta pelos bairros Campina e Cidade Velha. Incluem o Theatro da Paz, Basílica de Nossa Senhora de Nazaré, Mercado Ver-o-Peso, Forte do Presépio, Complexo Feliz Lusitânia e a Estação das Docas, além do Mangal das Garças, Bosque Rodrigues Alves, Museu Paraense Emílio Goeldi, Parque da Residência e o Parque Estadual do Utinga.

Além de tudo isso, é cortada pelos rios Guamá, Acará e Maguari, que trazem a riqueza das águas e da floresta para esses visitantes.

O Aeroporto Internacional de Belém (BEL), Júlio Cezar Ribeiro, recebe voos internacionais diretos de Lisboa, Miami, Fort Lauderdale, Caiena, Paramaribo e Guarulhos. E tem capacidade para 7,7 milhões de passageiros por ano, o que parece estar adequado para a demanda.

A última edição da COP foi realizada em Baku, no Azerbaijão, e reuniu cerca de 55 mil pessoas. Se considerarmos o mesmo número, podemos fazer um paralelo de acréscimo de 4,2% de pessoas durante os 11 dias de evento, uma vez que Belém possui uma população de cerca de 1,3 milhão de habitantes.

A cidade tem hoje cerca de 18 mil leitos hoteleiros e espera alcançar 50 mil até a data do evento, segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Pará, Antônio Santiago, que sinalizou em entrevista que todos os hotéis investem em reformas nesse momento.

Para mim acendeu uma luz vermelha, então, fiz uma busca em sites para checar o valor das diárias. Praticamente já sem alternativas, algumas residências são oferecidas por algo entre R$ 8 e R$ 80 mil para o período. Aí, migrei para o Airbnb e casinhas muito simples estão oferecendo um quarto por algo como R$ 2.500.

Minhas preocupações aumentaram nesse momento, mas permaneci otimista sobre os investimentos em hotéis. Então expandi o olhar para questões ligadas à saúde pública. Em 2024, foram registrados 3.189 casos confirmados de dengue em Belém, que teve, em 2023, 443 casos da doença, um número preocupante. Em 2024, foram confirmados apenas três casos de febre amarela no Brasil, incluindo um caso fatal no Amazonas. Ou seja, algo bastante controlável no caso da febre amarela. Mas e a dengue?

O saneamento básico em Belém é precário, com baixos índices de coleta de esgoto e tratamento de água. A cidade estava entre as com piores índices de saneamento do Brasil.

Abastecimento de água:

Coleta de esgoto:

Pesquisei novamente e Belém está realizando obras de saneamento básico para preparar a cidade para a COP30. Os investimentos incluem a construção de redes de esgoto, dragagem de canais, expansão do fornecimento de água e pavimentação de vias. O investimento total é superior a R$ 1 bilhão. Algumas obras já foram entregues e outras estão em fase de finalização. Ufa! Existe todo um trabalho de mudança de comportamento da população também, mas, de qualquer forma, muito bom ver que as mudanças estão encaminhadas.

Então resolvi me focar nos restaurantes. Segundo dados da Data Driva, Belém tem cerca de 12 mil estabelecimentos. Só para dar uma ideia de grandeza, são 89 mil estabelecimentos em uma cidade como o Rio de Janeiro que tem 4,7 vezes mais habitantes.

Meu objetivo não é criticar ou duvidar da capacidade da cidade de Belém em receber esse grandioso evento. O qual, entendo, que está na agenda top 1 de governador e prefeito para que muitos problemas sejam resolvidos até lá.

Confesso que quando comecei a escrever esse artigo pensei: o presidente poderia ter recomendado outra cidade. Mas, ao aprofundar as pesquisas, vejo que a população será grandemente beneficiada por esses investimentos e pode ser um “game changer” para a cidade.

Do ponto de vista de negócios, penso que há uma grande oportunidade para nós do setor de bares e restaurantes (especialmente redes) que, em conjunto com a indústria de alimentos e bebidas, e players da hotelaria, podemos construir soluções pop up de ativação e serviços para apoiar a região e tornar memorável, da forma mais positiva possível, a experiência das visitantes ao País.

Sem dúvida muitos querem consumir a culinária local, mas a busca por culinária internacional será intensa. Afinal, são 11 dias de evento! Sousvide, cook & chill, halal, kosher estarão em alta. Além disso, o envolvimento dos profissionais da saúde (nutricionistas) para a gestão da qualidade são temas óbvios e obrigatórios.

Outra oportunidade é para o setor de câmaras frigoríficas e equipamentos de cozinha para atuação temporária ou contínua, já que essa movimentação poderá aquecer o turismo local. O setor de abastecimento precisa estar completamente preparado e atuar de maneira integrada com a indústria, pois já sabemos dos desafios.

Por fim, essa é a vez e a hora das soluções de tecnologia: robôs que possam ajudar na interface, plataformas digitais de cardápio oferecendo solução multilíngue de acesso aos menus, totens de autoatendimento e pagamento, entre outros.

O Brasil é um país de dimensões continentais e precisamos apurar nosso olhar de intra globalização e fazermos mais.

Temos dados que poderão ajudar no seu planejamento. Conte conosco para representarmos o Brasil da melhor forma possível. Não é só no eixo Rio-SP que devemos buscar fazer a diferença. Temos de acessar e impactar o País.

Vamos nessa!

Cristina Souza é CEO da Gouvêa Foodservice.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
Imagem: Shutterstock

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