A Tok&Stok caminha neste ano para abrir seu capital na bolsa de valores , se surgir uma janela no mercado. A oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) permite a saída da gestora americana Carlyle do negócio. A varejista também vai voltar a abrir lojas, um ano e meio após a última inauguração, e começa a testar um novo modelo de lojas, no formato de quiosques.
Em 2012, o Carlyle pagou R$ 700 milhões por 60% da Tok& Stok – os 40% restantes estão com a família Dubrule, fundadora da rede, com 54 lojas. Atualmente, Carlyle e os fundadores estão no conselho da varejista.
A Tok&Stok no ano passado aumentou receita e lucro e pode usar os números desse balanço para atrair investidores ao IPO. Esta operação tem grande chance de ser 100% secundária, com os recursos indo para o Carlyle.
O processo de abertura de capital da varejista de artigos esportivos Centauro é observado com atenção pela Tok&Stok. “Estamos acompanhando para ver como a oferta deles evolui”, disse ao Valor Ivan Murias, na primeira entrevista desde que assumiu o comando da Tok&Stok, no ano passado. Para o executivo, além do IPO, a hipótese de venda do negócio “a um investidor privado” também seria um “caminho natural”.
No Brasil, não há outras varejistas globais do setor de móveis e decoração, além dos franceses do grupo Adeo, donos da Leroy e da rede Zodio, com apenas uma loja na cidade de São Paulo. A vice-líder do setor é a brasileira Etna, que buscou compradores no passado.
Questionado se poderia haver aproximação com a Ikea, a varejista sueca que começará a abrir lojas na América Latina a partir de 2020, Murias diz que é algo que não cabe a ele tratar. “Há pes- soas no controle, no conselho [de administração] que acompanham o mercado e avaliam os caminhos a tomar, mas [sobre a Ikea] posso dizer hoje que é um negócio que temos monitorado para entender como devem se movimentar aqui”. Os suecos devem inaugurar pontos no Chile em 2020 e estudam abrir lojas no Brasil numa segunda fase de expansão na América Latina.
Murias não menciona datas para um IPO, mas diz que a varejista tem resultados que já a credenciam para tal. Afirma que houve uma melhora nos indicadores operacionais e queda do nível de endividamento no ano passado, a patamar abaixo de uma vez a relação entre lucro e dívida.
Até metade de 2015, a empresa acreditava que iria enfrentar a última crise no consumo sem maiores dificuldades. Mas a empresa acabou afetada pela recessão, com queda no tráfego de consumidores nas lojas, no tíquete médio e nas vendas. Em 2016, o lucro caiu 75% para quase R$ 11 milhões e a receita líquida diminuiu 3%. Em 2017, o lucro voltou a subir para R$ 23,5 milhões, com a receita subindo 6%.
A empresa ainda não publicou no Diário Oficial os números de 2018, mas informa que o lucro superou a marca de R$ 60 milhões. E a receita subiu “um dígito alto”. Em 2017, a receita atingiu R$ 1,029 bilhão. O balanço de 2018 deve ser publicado entre abril e maio.
Segundo Murias, a empresa planeja a inauguração de cinco lojas em 2019, após um ano e meio sem aberturas (a última foi em Aracaju no fim de 2017). Cada nova loja custa, em média, R$ 10 milhões.
Estão sendo testados quiosques, em shopping centers. Cinco foram abertos desde o ano passado nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Cuiabá e estão em fase de análise de resultados.
Também está prevista a abertura de lojas compactas, de até mil metros quadrados, com perspectiva de 100 a 130 novas unidades no prazo de cinco a sete anos. Há oito unidades neste formato hoje. “Quatro unidades vão bem, as outras quatro não têm desempenho bom, estamos fazendo mudanças naquilo que não funciona”.
Ele conta que há cerca de dois anos 3% das vendas eram pelo site, essa taxa foi a 7% no fim de 2018 e hoje está um pouco acima de 10%. A ideia é que atinja algo em torno de 12% neste ano. Esse aumento é pano de fundo de outro processo.
A rede acelerou o trabalho de expansão do comércio eletrônico. Parte do trabalho do ex-CEO, Luiz Fazzio, que liderou a rede de maio de 2017 a junho de 2018, voltou-se à venda on-line. Mas o trabalho de Fazzio foi, especialmente, de deixar a operação mais rentável. A rede admite que ainda é preciso avançar mais na operação digital.
Murias trabalhou com Fazzio na C&A entre 2008 e 2009 e foi contratado por ele para a diretoria da Tok&Stok em 2017. Diz que não veio para a empresa para substituir Fazzio. “Acabou acontecendo, mas não foi planejado”.
Em julho de 2018, a Tok&Stok fechou um acordo com a Vtex, que desenvolve sistemas de tecnologia e gestão para o varejo on-line. Todo o sistema da rede está sendo reestruturado — desde a forma como o cliente completa cadastros para fechar uma compra até a capacidade do site da Tok&Stok estar integrado a shopping centers virtuais, os “marketplaces”.
“Estamos trabalhando com a Vtex agora, olhando questões como integração na precificação e nas promoções do on-line e das lojas. Até então, muito do trabalho ainda era manual”. Isso deve dar espaço para a empresa tomar outras medidas, como lançar o seu próprio aplicativo. Até hoje, a Tok Stok não vende por “app”, mas ele deve ser lançado no segundo semestre.
Fonte: Valor Econômico
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