Em um mundo em constante mudança, desafios de toda ordem, conflitos internos e externos, urge que as lideranças sejam mais eficazes, gerando uma necessidade crescente de conhecimento, novos conhecimentos, desapego de velhos conceitos e práticas.
Como estudante do comportamento humano e da neurociência aplicada a liderança, vejo que existem alguns vieses cognitivos aos quais precisamos ficar atentos, pois podem ser um obstáculo nesse processo de desaprender e reaprender. Um deles e para mim o mais relevante é o efeito Dunning-Kruger.
Cunhado pelos psicólogos David Dunning e Justin Kruger em 1999, ele revela uma peculiaridade intrigante do comportamento humano: as pessoas menos competentes em uma área tendem a superestimar suas habilidades, enquanto as mais competentes geralmente as subestimam. Essa distorção da realidade pode levar a consequências sérias, especialmente no contexto da liderança.
É, portanto, um viés cognitivo, humano, item de série da nossa natureza, que pelo autoconhecimento podemos identificar para, assim, trabalhar internamente os pensamentos que irão se tornar ações e hábitos.
Os geniais psicólogos dividiram o efeito em 4 faces:
- Incompetência inconsciente: indivíduos com baixa capacidade não reconhecem suas falhas, tomando decisões equivocadas e demonstrando resistência ao aprendizado;
- Competência consciente: líderes habilidosos reconhecem seus pontos fortes e fracos, buscando feedback constante para aprimorar suas habilidades;
- Incompetência consciente: líderes com autoconsciência reconhecem suas limitações, buscando ajuda e delegando tarefas com sabedoria;
- Competência inconsciente: líderes talentosos podem subestimar suas habilidades, criando obstáculos à autoconfiança e ao desenvolvimento profissional.
E aqui não existem melhores ou piores, mas sim uma primeira análise interna para descobrir: em qual face me encontro?
O simples fato de não se reconhecer pode gerar inúmeros impactos negativos na liderança e consequentemente na performance e relacionamento com as equipes. Afinal, se não sei o que não sei, perco de vista os pontos de melhoria pessoal.
Mas quais os possíveis impactos negativos que esse viés cognitivo pode causar na liderança?
Tomada de decisões precipitadas
Líderes incompetentes podem tomar decisões precipitadas e erradas, com consequências negativas para a equipe e a organização, pondo em risco sua reputação.
Falta de adaptabilidade
A incapacidade de reconhecer falhas limita a capacidade de adaptação a novas situações e desafios. De novo, se não sei o que não sei, como corrijo?
Dificuldade em dar e receber feedback
A arrogância e a falta de autocrítica impedem o aprendizado e minam a receptividade a críticas construtivas, assim como o debate com o time e a colaboração.
Desmotivação da equipe
A incompetência e a falta de autoconsciência do líder podem desmotivar e frustrar a equipe, levando à baixa produtividade e alta rotatividade.
Felizmente esse é um item de série que vamos desenvolvendo, mas existem formas e mecanismos que nos ajudam a superar os desafios do autoconhecimento e do nosso estilo de liderança.
Alicerçar a liderança eficaz exige a superação do efeito Dunning-Kruger e, para tal, 3 pilares se erguem como bússolas:
- Cultivar a autoconsciência
Buscar feedback honesto de diversas fontes, como pares, mentores e subordinados, para ter uma visão completa de suas habilidades e pontos fracos. Reconhecer falhas e pontos fracos não te faz mais vulnerável, mas fortalece sua avenida de crescimento, aprendendo com os erros e aceitando as críticas para extrair lições valiosas. - Promover o aprendizado contínuo
Investir em treinamento e desenvolvimento profissional, participando de cursos, workshops e programas de mentoria para aprimorar suas habilidades e conhecimentos. A busca por novas experiências amplia nossa visão de mundo e estimula nossa criatividade. Hoje em dia o conhecimento dura muito pouco, é preciso cultivar o lifelong learning. - Desenvolver a humildade
Difícil muitas vezes, mas reconhecer que ninguém é perfeito, e que todos, inclusive os líderes, têm falhas e pontos fracos. Reconhecer que cada integrante do seu time tem algo único que pode acrescentar e complementar para o sucesso do grupo.
Assim como esse, temos vários vieses cognitivos que nos atrapalham se não os conhecermos e soubermos identificá-los nas nossas personalidades e comportamentos.
Uma liderança eficaz atualmente é muito mais sobre ser humano consciente do que a capacidade de gestão.
Pensem nisso essa semana!
Fabio Aloi é sócio-diretor da One Friedman.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
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