Tendo em vista as mudanças ocorridas com a sociedade brasileira, especialmente no que diz respeito à sua estrutura socioeconômica, a ABEP – Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa, optou por colocar em discussão e elaborar um novo critério de classificação, o chamado Critério Brasil.
Previsto para entrar em vigor a partir de Janeiro de 2015, o novo critério começou a ser discutido ainda em 2012, foi programado para entrar em vigor ainda em 2014, mas a data acabou sendo adiada. Este critério sempre teve como objetivo principal estimar de forma padronizada, a capacidade de consumo, permitindo a identificação de grandes grupos.
Não gostaria nem de comentar as outras ações paralelas desenvolvidas, em especial pela Secretaria de Assuntos Estratégicos do Governo Federal e que pretende classificar pessoas e não domicílios, em franca oposição aos valores culturais brasileiros e que expressam o comportamento de consumo no nosso povo.
Algumas mudanças no Critério Brasil são fundamentais, sendo a mais importante aquela que incorpora o conceito de renda permanente desenvolvido pelo economista Milton Friedman e que considera que a renda de uma pessoa ou de uma família tem significado diferente em termos de consumo se esta mora em Xapuri no Acre, em Palmeira dos Índios em Alagoas ou no Rio de Janeiro.
O critério de classificação deve incorporar elementos determinantes do consumo e dentre eles: educação, ocupação, posse de bens, condições de moradia, acesso a serviços públicos e ativos correntes e não financeiros além da própria renda declarada.
Assim sendo, aos itens de posse anteriormente avaliados, sai a TV em cores e entram microcomputadores, lava-louças, microondas, motocicleta e secadora de roupa. Além disto, no que diz respeito às condições de acesso a serviços públicos, completam a análise se o domicílio é servido por água encanada e se a rua é pavimentada.
Em função das respostas, o domicílio do entrevistado recebe uma pontuação e segundo uma tabela este é enquadrado em sete estratos diferentes. Importante ressaltar que, enquanto no Critério Brasil ainda em vigor a classificação contempla classes e A a E, nesta nova classificação os estratos ainda não receberam uma denominação específica.
Esta discussão cresce de importância uma vez que poderemos ter uma nova distribuição da sociedade brasileira e os novos estratos econômicos não obrigatoriamente terão uma correlação com os anteriores. Isto significa que, para análises pontuais, de ações imediatas pouco interfere a utilização de um ou de outro critério.
Já para dimensionamentos e estudos de mercado o rigor deverá ser maior já que o que foi chamado, por exemplo, de um mercado de “X” bilhões de Reais para a classe B2 até hoje, pode não ter relação com os estratos da nova classificação. Todo cuidado deverá ser dedicado a estes novos estudos, além de muita observação sobre a forma como os novos estratos se correlacionarão, para que tantas e tantas informações produzidas até hoje, não se percam.
Muitas discussões ainda estão por vir e é importante estar atento a tudo o que será produzido a respeito, mas uma coisa é verdade: ninguém mudará de perfil de consumo tendo em vista um novo critério de enquadramento. O fundamental é garantir a perenidade das informações e antes de qualquer coisa, continuar a capturar cada vez mais dados e produzir cada vez mais informação, pois o Brasil agradece.
Seria importante ainda que o principal agente de gestão de informação pública no Brasil estivesse mais engajado e incorporasse mais e mais estas discussões do e no mercado descolando um pouco dos bancos e das visões acadêmicas. É muito difícil de acreditar que com todo o aparato tecnológico existente no mundo atual e com a quantidade de funcionários que a instituição possui, ainda não tenhamos o volume final com todos os resultados do Censo Brasil 2010 que tem seus resultados divulgados na forma de pílulas.
É lógico que existem inúmeros outros estudos e demandas no IBGE, mas fico imaginando as grandes empresas brasileiras de pesquisa envolvidas com a coleta, análise e divulgação de informações, em sua maioria não divulgáveis, através de centenas ou milhares de projetos anuais e que chegam a uma somatória de amostras que pode, em alguns casos, ultrapassar a casa do milhão de pessoas. E tudo isto, certamente, com um número de funcionários que é uma fração do organismo público. Bem esta é uma outra discussão e que pode ficar para outra hora.
O importante é caminhar na busca do critério de classificação socioeconômico mais apurado e que reproduza da melhor forma o real perfil de consumo do brasileiro. Cabe à ABEP coordenar e centralizar esta tarefa, mantendo o excelente nível técnico que vem apresentando até hoje em suas propostas. Que os demais organismos, provedores de informação ou criadores de critérios paralelos corram atrás e se incorporem de forma contributiva à construção de uma visão única e definitiva.
Luiz Goes, sócio sênior da GS&MD – Gouvêa de Souza e responsável pela área de Inteligência de Mercado.