Tenho conversado com vários líderes da área de recursos humanos para saber como anda a questão dos programas de diversidade. Desde que Donald Trump assumiu a presidência dos Estados Unidos, várias empresas anunciaram o término de seus programas relacionados à diversidade e inclusão (DEI).
Muitos ficaram preocupados, mas, para mim, é como tirar o véu e trazer a verdade à tona. Empresas que descontinuaram seus programas de diversidade não a tinham em seu core, em sua cultura. Devem ter implementado por pura pressão do mercado, pelo efeito manada. Lógico que muitas empresas também acabaram com programas de DEI porque já avançaram muito e esse assunto já faz parte da cultura da empresa. Nem há como haver retrocesso.
Há quem diga que não é responsabilidade das empresas promover a diversidade e inclusão dentro do mundo corporativo, mas eu ainda não entendo quem dividiu esse mundo ao meio e inventou que não há uma simbiose nesse ecossistema todo.
Somos todos responsáveis por gerar valor, seja ele para nossos filhos, para nossos clientes ou acionistas. E você só sabe disso, como diz minha terapeuta, quando tem uma experiência sentida e não só aprendida com professores ou livros.
Digo isso porque minha filha sofreu um acidente de carro há dois anos. Ela passou a ser incluída como deficiente física, pois, para andar, precisa de uma órtese para firmar o seu pé. Além disso, sua perna ficou cheia de cicatrizes e com certa deformidade.
No entanto, no fim do ano passado, ela foi convidada para desfilar no Brasil Eco Fashion Week e pude sentir o que é inclusão. Ela teve a coragem de ir com uma vestimenta curta, mostrando as marcas de suas pernas.
Crianças com Síndrome de Down, deficientes físicos, também tiveram seu momento de glamour, felizes por terem tido a oportunidade de brilhar na passarela. O público ovacionou o desfile, aplaudindo o tempo todo. Chorei muito de alegria ao ver minha filha corajosa e com um sorriso em seu rosto, preocupada somente em não cair durante a sua passagem.
Diga-me o quanto uma marca, que deu um espaço como esse, não gerou valor para seus acionistas, para seus clientes e, consequentemente, para a sociedade? Quem disse para a sociedade que modelos têm de ser perfeitos?
Eu, como mãe, não sentiria tudo isso se minha filha não estivesse envolvida. Continuaria, no meu mundo quadrado, assistindo aos desfiles tradicionais sem saber que mais pessoas merecem e podem brilhar. A questão de diversidade é muito maior. Quando estamos com pessoas diversas, gerações diferentes, nós ampliamos nosso conhecimento e podemos elevar as discussões para outro patamar.
Podemos, sim, gerar valor aos negócios. Empresas com culturas fortes, e reputação, criam ambientes interessantes, retendo mais talentos, o que contribui para um sucesso geral nos resultados (ou seja, dá lucro também!).
Triste é para as empresas que não reconhecem isso em sua cultura. Ao mesmo tempo, nós, como acionistas ou mesmo consumidores, começamos a ter mais clareza para apostar nossos investimentos em quem realmente gera impacto na sociedade de forma sustentável e não somente visa lucro.
Sandra Takata é presidente do Instituto Mulheres do Varejo.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.