O atual gerente executivo de estratégia da Petrobras e futuro diretor da empresa, Maurício Tolmasquim, disse nesta terça-feira, 18, que a companhia está atrasada na transição energética, mas vai correr atrás do tempo perdido sob a atual gestão, de Jean Paul Prates.
Ora dedicado à revisão do Plano Estratégico da companhia para os próximos anos, Tolmasquim foi indicado por Prates para assumir a diretoria de Transição Energética e Energias Renováveis, uma nova pasta cuja criação ainda precisa ser aprovada pelo Conselho de Administração da empresa.
“Estamos atrasados (na transição energética). Isso não era prioridade na Petrobras”, disse o executivo na abertura de sua fala no seminário “A pluralidade de visões da agenda ESG”, organizado pelo Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP), no início da noite desta terça-feira, 18. O evento marca a abertura das inscrições para o “ESG Energy Forum”, evento do IBP a ser realizado em junho, no Rio.
Minutos depois, Tolmasquim disse: “nossa atitude é de recuperar o tempo perdido, colocar o pé no acelerador (da transição energética)”. A fala vem em linha com suas preferências já bem conhecidas por colocações públicas a favor da energia eólica offshore e veículos de energia limpa, como hidrogênio verde.
Ao fim de sua participação, Tolmasquim reviu seu comentário a jornalistas. Ele disse que a Petrobras está atrasada somente no chamado “escopo 3”, relacionado aos produtos em si, ou seja óleo e combustíveis minerais. Com relação a processos de produção, disse, a empresa está avançada com relação ao restante do mercado. Exemplo disso, afirmou, seria a relativa baixa emissão de CO2 na produção de petróleo.
Exigência financeira
Segundo Tolmasquim, professor da Coppe/UFRJ e ex-presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o mergulho da Petrobras na transição a novas fontes limpas não se trata apenas de um esforço para o Brasil ou para o planeta, mas sim de uma estratégia importante para o futuro financeiro da empresa.
“A Petrobras vai acabar tendo dificuldade de financiamento se não atender alguns critérios colocados internacionalmente. Os grandes fundos de pensão têm critérios cada vez mais restritivos sobre diferentes aspectos da agenda ESG (meio ambiente, social e governança). Não é uma questão apenas de boa vontade, mas de necessidade da empresa se recolocar no mercado de maneira que seja atraente para seus acionistas e financiadores”, disse.
De acordo com o executivo, as empresas de petróleo estão se transformando em ritmos diferentes, mas em bloco, e a Petrobras não vai ficar de fora.
Em seguida, ele fez a ressalva de que esse esforço não significa se afastar da exploração e produção de petróleo. “A Petrobras vai ter durante muitos anos o foco principal no upstream, no pré-sal”, disse. Essa ressalva tem sido feita de forma reiterada após recepções frias do mercado acerca dos planos de Prates de aumentar o investimento em renováveis, ainda que sem grande detalhamento.
Vantagens
Tolmasquim disse, ainda, que as petroleiras têm vantagens em relação a concorrentes do setor de energia, como em eólica offshore, por conhecer o mar. Do mesmo jeito, essas empresas sairiam na frente com relação a negócios de hidrogênio verde, por terem malhas de gasodutos e experiência com transporte de combustíveis.
Tolmasquim também jogou luz nas vantagens competitivas objetivas do País. Ele lembrou que geradores eólicos no mundo têm fator de capacidade em torno de 25% no onshore, enquanto no Brasil esse valor vai a 45% ou 46%, se aproximando do que empresas europeias e americanas atingem na eólica offshore.
“Isso significa gerar energia mais barata. Então a transição energética, nos outros países, significa um peso, custos, enquanto no Brasil pode significar uma vantagem. Além disso, disse, liderar o processo é um ativo político para o País, um “softpower”.
Com informações de Estadão Conteúdo (Gabriel Vasconcelos)
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