“A metafusão desponta como um caminho disruptivo e estratégico, adotado por empresas que buscam um novo patamar de competitividade em um cenário cada vez mais dinâmico, complexo e irreversível. Não se trata de uma fusão societária clássica, mas de uma integração colaborativa e flexível, preservando identidades e estruturas, enquanto amplia capacidades.
Um exemplo atual e emblemático é a recente integração entre os aplicativos iFood e Uber no Brasil. A união ocorre em resposta à entrada de um novo e poderoso concorrente: a Meituan, gigante chinesa do delivery, que acaba de anunciar um investimento de US$ 1 bilhão para lançar sua marca no mercado brasileiro.
Vale lembrar: a Meituan possui mais de 770 milhões de usuários ativos apenas na China, com sua marca Keeta, sendo uma das maiores empresas de delivery do mundo.
Esse movimento segue a lógica da metafusão, como já vimos em outras parcerias estratégicas:
- Magalu e AliExpress, rivais diretos no e-commerce, uniram forças no ano passado para aumentar sua competitividade e complementar suas competências no canal.
- Meituan e Tencent, na China, integraram os aplicativos para facilitar a vida dos consumidores e fortalecer a fidelização por meio de WeChat e WePay.
- Alibaba e Starbucks, também na China, integraram-se nas plataformas Tmall e Alipay.
- Carrefour e Publicis, na França, atuam juntos em retail media, inclusive com operações no Brasil.
- Walmart e Home Depot, nos EUA, trabalham de forma integrada em serviços B2B e B2C.
- Apple e Nike, colaboram na criação de produtos e experiências complementares.
Embora exemplos em outras regiões existam, é inegável que os mercados asiáticos lideram esse movimento, impulsionados pela evolução de ecossistemas interconectados. Essa nova fase prevê não apenas a integração dentro dos ecossistemas, mas também entre eles, como já observamos com iFood e Uber, Magalu e Alibaba, Meituan e Tencent.
Tudo isso se acelera com o avanço do digital e da Inteligência Artificial, que redesenham continuamente o presente e o futuro dos negócios. É uma transformação estrutural que exige visão sistêmica, capacidade de adaptação e ação rápida.
Rigorosamente, decifra-me ou te devoro.”
Dos exemplos e casos tornados públicos, observa-se uma base de objetivos estratégicos para as metafusões:
- Acelerar inovação e expansão sem fusões societárias formais;
- Acessar e integrar competências complementares;
- Compartilhar custos e riscos;
- Ampliar a atuação no mercado e a cobertura de ecossistemas;
- Desenvolver novos negócios a partir de estruturas já existentes.
Da mesma forma, é possível listar uma síntese de características essenciais das metafusões:
- Ausência de fusão societária;
- Alianças com visão de longo prazo e governança compartilhada;
- Preservação das culturas e valores de cada parceiro;
- Compartilhamento de dados, canais, tecnologia e competências;
- Desenvolvimento conjunto de novos modelos de negócio;
- Autonomia jurídica e preservação das marcas;
- Cocriação de valor entre as partes;
- Foco estratégico comum na nova iniciativa.
Na prática, o que diferencia a metafusão de uma fusão tradicional é que as empresas mantêm suas operações independentes, inclusive podendo concorrer em outros segmentos. Seus valores, culturas e finanças permanecem preservados, embora, com o tempo, o sucesso da parceria possa evoluir para outras formas de integração, seja ela parcial ou até total.
Com base nos casos recentes, e em seu potencial e condições competitivas, é esperado que o número de metafusões cresça exponencialmente, impulsionado por sua flexibilidade, menor risco, maior agilidade de implementação e pela preservação das identidades organizacionais envolvidas.
Vale refletir, considerar e agir. Transformações estruturais não pedem licença para passar.
Notas:
Metafusão será o tema macro do Latam Retail Show, que será realizado de 16 a 18 de setembro, em São Paulo, e terá 12 pesquisas inéditas sendo apresentadas, 4 trilhas de conhecimento, mais de 250 palestrantes e cerca de 100 horas de conteúdo exclusivo e mostrará movimentos estratégicos globais e locais envolvendo os setores de varejo e consumo. Informações e inscrições podem ser obtidas por aqui.
Tivemos agora em Chicago a missão técnica organizada por Gouvêa Foodservice participando do NRA Show, o mais importante evento global do setor, com a delegação integrada com Instituto Foodservice Brasil (IFB). No dia 26 de maio, o Connection Foodservice Day – Pós NRA Show, com o que de melhor se viu por lá e análise de sua aplicação na realidade brasileira. Saiba tudo sobre o evento aqui.
No dia 27 de maio, teremos o Digitail, organizado pela Gouvêa Experience com apoio de Gouvêa Consulting. Um evento focado no setor de e-commerce, trazendo uma ampla e profunda discussão do momento e tendências e perspectivas desse setor no mundo e no Brasil. Conheça mais por aqui.
De 31 de maio a 5 de junho, estaremos em Missão Técnica Ásia-Pacífico para participar da NRF Ásia que ocorrerá pela segunda vez em Singapura. Mais informações por aqui.
Marcos Gouvêa de Souza é fundador e diretor-geral da Gouvêa Ecosystem e publisher da plataforma Mercado&Consumo.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
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