Nubank cita “publicidade negativa” e “especulações” sobre asset da fintech em janeiro

Especulações estão relacionadas à recuperação judicial da Americanas

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Ao tratar de riscos reputacionais relacionados a seu negócio, o Nubank afirma que a área de gestão de recursos da fintech foi alvo de “publicidade negativa” e “especulações” em janeiro deste ano. Embora a fintech não dê maiores detalhes, é possível inferir que essas especulações estão relacionadas à recuperação judicial da Americanas.

Em janeiro, cotistas de um fundo de renda fixa gerido pela asset do Nubank tiveram retorno negativo por causa da aplicação do fundo em debêntures da Americanas, que era de cerca de 1% do patrimônio. Os títulos desvalorizaram após a varejista informar um rombo contábil de R$ 20 bilhões, que a levaria a pedir recuperação judicial naquele mesmo mês.

“Mais recentemente, também fomos alvos de publicidade negativa e de especulações de mercado em torno de nossas atividades relacionadas à gestão de recursos em janeiro de 2023”, diz o Nubank no formulário 20F, enviado à SEC, a CVM americana, nesta quinta-feira. “Esta e qualquer futura publicidade negativa poderiam afetar nossa reputação e causar rupturas no negócio.”

A gestora do Nubank não foi a única que aplicou em debêntures da Americanas: outras casas de mercado com estratégias que envolviam crédito privado fizeram o mesmo. Até revelar o rombo contábil, a varejista tinha alta nota de crédito nas principais agências de avaliação de risco.

Remuneração de David Vélez

No ano passado, o CEO e cofundador do Nubank, David Vélez, recebeu remuneração de R$ 350,5 mil (o equivalente a cerca de R$ 1,8 milhão) por seu trabalho na fintech, de acordo com o formulário 20F divulgado pela empresa na SEC, a CVM americana, nesta quinta-feira, 20. Não houve o pagamento de outros valores adicionais a Vélez.

O executivo concordou em receber um salário fixo no ano passado e neste ao encerrar o acordo de compensação variável que o envolvia, e que gerou polêmica no mercado no início de 2022. O acordo determinava que Vélez, que é o controlador do Nubank, receberia ações ordinárias (com direito a voto) da fintech caso o preço dos papéis em bolsa atingisse determinados níveis.

Vélez receberia 1% do total de ações se cada papel fosse negociado a US$ 18,69 por determinado período, e mais 1% se chegasse a US$ 35,30. O acordo era de longo prazo, e esses patamares não chegaram a ser atingidos. Hoje, o Nubank vale US$ 22,5 bilhões na Bolsa de Nova York, o equivalente a R$ 113,8 bilhões, com cada papel negociado a US$ 4,89.

Ainda assim, os altos valores envolvidos no acordo, chamado de CSA (sigla em inglês para acordo de ações contingentes), chamaram atenção do mercado. Diante da mudança no cenário macroeconômico e da busca do Nubank por eficiência, o acordo foi cancelado em novembro do ano passado.

Este encerramento deve produzir economias de US$ 356 milhões até 2029. Entretanto, o Nubank teve de reconhecer um impacto não-caixa deste mesmo valor no balanço do quarto trimestre de 2022, para cumprir as normas contábeis, que exigem que essa rescisão seja registrada como uma aquisição acelerada, mesmo que não haja um desembolso real.

Este reconhecimento mudou as despesas da fintech com a remuneração dos executivos no ano passado. Com os gastos relacionados ao acordo, o montante total chegaria a US$ 122,9 milhões, de acordo com o 20F. Sem eles, caem para US$ 24,7 milhões.

“Notamos que o aumento em 2022 é primordialmente atribuível à inclusão de US$ 78 milhões em nossas despesas relacionadas ao CSA para David Vélez, que foi cancelado de forma unilateral em novembro de 2022, e pelo qual Vélez não recebeu pagamentos”, diz o texto.

Com informações de Estadão Conteúdo (Matheus Piovesana).
Imagem: Shutterstock

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