O isolamento motivado pela pandemia de Covid-19 incentivou o repensar sobre o lar, um movimento transformativo que já era forte devido à urbanização e às novas composições familiares. A casa do futuro é uma fusão de flexibilidade, tecnologia, sustentabilidade e contato com a natureza. O lar teve seu papel de segurança e templo da família ressignificado.
A pesquisa “O consumidor do amanhã”, realizada pela Mosaiclab, mostrou que há um desejo crescente por maior automação e conveniência no dia a dia. Alguns desses desejos são:
- 54% – Aparelhos comandados pelo smartphone;
- 52% – Aparelhos com comando de voz;
- 42% – Aparelhos com Inteligência Artificial (que fazem recomendações sobre o que a pessoa precisa, ligam-se automaticamente);
- 45%- Casa automatizada/“smart houses” (controle de aparelhos, portas, temperatura, iluminação);
- 35% – Impressão 3D de produtos diversos (objetos, ferramentas, acessórios);
- 27% – Aparelhos que enviam ondas e frequências para o cérebro (ex: para relaxamento, meditação, música);
- 25% – Roupas com nanotecnologia, que permitem funções inteligentes, interação com outros aparelhos, aquecimentos, etc.;
- 12% – Desejam ter serviços inteligentes compartilhados (ex: lavanderia, coworking).
Maior gasto energético para conexão também amplia a conscientização. Muitos desejam ter em casa energia sustentável: 55%.
Houve um aumento na pandemia na busca por automação no lar, de forma simplificada, utilizando gadgets como a Alexa para comandos simples, e também automação completa, que vai desde o controle de iluminação, temperatura dos chuveiros e do ar-condicionado, passando pela segurança, com adoção de biometria e controles remotos via celular até mesmo a adaptação do ambiente para relaxamento, com luzes e sons para cada pessoa no lar.
A necessidade de trabalhar e estudar em casa também trouxe uma necessidade de adaptação do lar para atender a esta demanda e o crescimento das compras remotas e o delivery mudaram a forma como os lares são compostos.
Há um movimento no mercado imobiliário para se adaptar às novas tendências de ressignificação do lar e do viver. Alguns empreendimentos Brasil afora já incluem o conceito de viver, trabalhar e comprar em um só lugar. Espaços que integram a natureza e entretenimento, com restaurantes, shoppings, parques abertos, ciclovias, serviços e integração com os canais de compra omnichannel.
As moradias também já estão contemplando infraestrutura para o home office e o homeschooling, seja na disponibilização de internet de altíssima velocidade, seja na adequação dos cômodos para a prática do trabalho e estudos. Há, ainda, uma maior atenção à sustentabilidade, com espaços para carros elétricos, bicicletário, água de reúso e energias renováveis. O lar passa a ser destino e não somente moradia. Tudo gira em torno do lar.
Há exemplos interessantes de empresas que souberam ler as novas necessidades dos consumidores e já trabalham para entregar ofertas que se adaptem a esta nova realidade, como o Shopping Parque da Cidade, em São Paulo, que traz o conceito de integração de moradia, compras, serviços, saúde, natureza e entretenimento em um único complexo integrado, ou a construtora e incorporadora SKR, que já oferece empreendimentos residenciais com 100% das vagas de garagem com sistema de carregamento para carros elétricos, antecipando-se às novas regras municipais que obrigam as construtoras a ofertarem este serviço.
A Nortis identificou também uma oportunidade de unir o home office à moradia em um mesmo empreendimento com o Esquina Pinheiros. O empreendimento oferece, além das unidades residenciais, uma ala com estúdios e escritórios multiuso que podem ser convertidos em espaços de trabalho ou lazer, como academia, escritório, etc.
É claro que essas transformações ainda são restritas a uma parcela pequena da população. A pandemia teve e ainda tem impacto muito grande na vida dos brasileiros, mas um de seus legados é essa mudança comportamental, que deve se tornar mais palpável ao grande público aos poucos.
Este parece ser um caminho sem volta. Mesmo com a vacinação avançando e a reabertura completa da economia, o movimento de ressignificação do lar deixou de ser tendência e passou a se manifestar de forma bastante interessante em produtos e serviços. Vamos aguardar os próximos passos.
Ricardo Contrera é sócio-diretor da Mosaiclab.
Imagens: Envato/Arte/Mercado&Consumo e Divulgação