O perigo e o desconhecido aproximam e abrem perspectivas não consideradas anteriormente. É uma lógica que transcende em muito o mundo dos negócios, mas que é aplicável de forma plena nesse ambiente. A volatilidade dos cenários atuais e a velocidade crescente do ambiente em transformação têm precipitado reflexões estratégicas muito mais profundas e abrangentes em todas as direções, mas também em tudo o que significa repensar modelos e premissas de atuação.
De forma quase antagônica, o varejo avança na incorporação de marcas próprias na busca de diferenciação e melhores condições competitivas, enquanto fornecedores e marcas atuam para desenvolver canais próprios e exclusivos para chegar ao consumidor final em busca de maior velocidade na informação e melhoria na rentabilidade.
Mas Apple, Nike e outras marcas têm desenvolvido canais integrados, com lojas exclusivas da marca, porém, operadas por redes varejistas.
No passado, a lógica o “segredo é alma do negócio” inibia a proximidade e eventual integração de parceiros, empresas concorrentes e até mesmo fornecedores e revendedores.
No cenário atual quando IA (Inteligência Artificial) e mais todas as alternativas de acesso à informação têm seu uso disseminado e massificado, a velocidade para se antecipar, posicionar e diferenciar fala mais alto quando se trata de compor ou integrar para crescer.
Na busca de caminhos alternativos, algumas iniciativas são exemplos importantes pela integração estratégica nas cadeias de valor. Como acontece no setor de foodservice no Brasil, quando fornecedores de produtos, serviços, instalações, equipamentos, inteligência e informação se integram com operadores e varejistas para estudar e desenvolver o mercado e o segmento como um todo, pensando com a lógica do que é melhor para o conjunto dos negócios e o que é melhor para cada empresa.
É uma clara evolução de maturidade empresarial.
Uma combinação que coloca marcas e negócios como McDonald’s, Burger King, Bob’s, Subway, Nestlé, Unilever, BRF, JBS, Marfrig, Coca-Cola, Heineken e mais 70 empresas integradas buscando alternativas para agregar valor para o consumidor e, dessa forma, aumentar a participação do foodservice nos dispêndios com alimentação no País.
Ou como quando 16 redes regionais de supermercados se unem, com apoio também de fornecedores de produtos e serviços, para desenvolver negócios em conjunto e formar uma aliança, a Rede Brasil, unindo suas competências para tornar cada um individualmente mais preparado para diferenciar sua atuação nos mercados que operam.
Da mesma forma como um grupo de 6 supermercados independentes, de médio porte em estados do Nordeste, criaram a Rede Nordeste para compartilhar e desenvolver aprendizados comuns, inclusive na área de importação e marcas próprias.
Ou como em muitas iniciativas no setor de franquias avançam para promover a integração de cadeias de valor para criar vantagem competitiva. E vão da produção agrícola até o consumidor final, envolvendo canais de distribuição e operadores independentes franqueados, em paralelo com operações próprias da marca, como acontece com Cacau Show.
Assim como poderiam ser citados os exemplos de redes de negócios nas áreas de material de construção, farmácias e outros segmentos em que operadores independentes se integram para criar vantagem competitiva sustentável e melhorias na eficiência e produtividade, avançando em formatos diversos para integrar compras, logística, serviços financeiros e outras funções mais.
Em outra área, mas com a mesma lógica, quatro agências de viagem que atuam e competem no segmento luxo, Primetour, Teresa Perez, Matueté e Latitudes, diante do desafio comum de encontrar profissionais preparados para esse atendimento diferenciado, uniram-se para implantar um programa de desenvolvimento profissional que possa oferecer mais alternativas para o crescimento de seus negócios.
O cenário mais amplo parece conspirar contra a visão defasada da independência num universo que é cada vez mais interconectado e onde a cooperação, mais do que a competição, parece ser o caminho a ser considerado no plano mais estratégico.
São inúmeros exemplos que têm surgido da combinação de competências e negócios menores, porém, mais ágeis e flexíveis, que se integram para criar vantagem competitiva, com acesso a plataformas mais estruturadas, numa combinação virtuosa, somando as virtudes de pequenos e médios negócios com os benefícios do que é escalável.
Mas não só os pequenos negócios, já que corporação globais como Carrefour, Auchan, Spar, Lidl, Intermarché e Dia, na Europa; assim como X5, na Rússia; ou Suning, na China, optam por usar o canal de franquias para crescer mais rapidamente, integrando independentes.
Destaque o movimento recente do Carrefour Brasil, com a expansão de sua rede de lojas conveniência através de franquias, movimento anteriormente ensaiado pelo GPA.
Existem algumas poucas certezas com respeito ao futuro próximo, mas entre elas destacam-se a perspectiva de aceleração dos processos evolutivos e transformadores, o aumento da competitividade e a tendência ao aumento da consolidação de negócios. Para compor tudo isso, seria muito oportuno que os modelos que envolvam a integração de cadeias de valor pudessem ser melhor conhecidos, estudados e compartilhados, criando mais opções para a expansão saudável de negócios.
Em especial, no varejo, comércio e no consumo.
Vale refletir.
Nota: Esses novos e importantes elementos que impactam a transformação do varejo e do consumo também serão apresentados e debatidos com 225 palestrantes para os mais diferentes canais, categorias, formatos e modelos de negócios do varejo e do consumo no Latam Retail Show e mais as 10 pesquisas e estudos inéditos que serão apresentados e que têm como tema central “Back to the Future”, de 19 a 21 de setembro, em São Paulo. Conheça mais clicando aqui.
Marcos Gouvêa de Souza é fundador e diretor-geral da Gouvêa Ecosystem e publisher da plataforma Mercado&Consumo.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
Imagens: Shutterstock