NRF 2025 e os ecossistemas de serviços

Em janeiro, Nova York se torna palco do maior evento global de consumo e varejo, a NRF Big Show (National Retail Federation). Em 2025, nossa expectativa é que uma tendência identificada há 2 ou 3 anos se consolide ainda mais: o futuro do varejo não está no varejo.

Essa afirmação, que pode soar provocativa, reflete um movimento que grandes players como Walmart, Target, Amazon, Home Depot, Alibaba, Magazine Luiza, Casas Bahia, entre muitos outros vêm liderando. Esses gigantes estão transformando seus modelos de negócios ao expandir suas operações para além do que tradicionalmente consideramos varejo, criando ecossistemas que oferecem infraestrutura, ativos e know-how para terceiros, incluindo até concorrentes diretos.

A evolução do varejo para ecossistemas de serviços

Ao longo da última década, o varejo passou por uma transição significativa. Grandes empresas começaram a explorar os ativos que construíram ao longo de anos para criar fontes alternativas de receita. Um exemplo clássico é o Walmart, que usa suas mais de 5.200 lojas nos Estados Unidos, canais digitais e alcance massivo não apenas para vender produtos, mas também para operar em segmentos como publicidade, serviços financeiros, saúde e logística. Na NRF 2025 esperamos que um número ainda maior de empresas varejistas anuncie serviços similares, invistam em amplas áreas de exposição na Expo e protagonizem palestras contanto seus cases de sucesso.

NRF
Stand do Walmart na NRF 2024 promovendo seu serviço de logística para outros varejistas

O conceito (e modelo de negócio) de ecossistema de serviço é particularmente atraente em um mercado cada vez mais competitivo e interconectado. Empresas como a Amazon já mostraram o potencial desse modelo ao transformar uma plataforma interna de tecnologia em uma das maiores divisões de serviços empresariais do mundo, a Amazon Web Services (AWS).

Stand da Amazon na NRF 2024 promovendo seus serviços de identificação e meio de pagamento sem fricção

IA como impulsionador

Em 2025, é esperado que a NRF apresente exemplos concretos de como tecnologias avançadas de Inteligência Artificial estão sendo usadas para otimizar a gestão de inventário, criar experiências hiper personalizadas para clientes e ampliar as margens operacionais dos varejistas. A adoção de soluções como aprendizado de máquina (machine learning), processamento de linguagem natural e análise preditiva é o próximo passo para transformar a eficiência interna em oportunidades externas.

O exemplo da Stitch Fix: algoritmos como produto

Entre os casos mais emblemáticos de como essa tendência se aplica a varejistas de diferentes tamanhos e segmentos está a Stitch Fix. Fundada como uma varejista de moda, a empresa rapidamente percebeu que seu verdadeiro diferencial competitivo estava no algoritmo que alimenta suas recomendações personalizadas de roupas para clientes. Esse algoritmo é tão eficaz na combinação de estilo, tamanho e preferências individuais que passou a ser comercializado para outros varejistas de moda como um serviço independente.

A Stitch Fix não vende apenas roupas; ela vende expertise tecnológica. Seu algoritmo utiliza IA para prever quais itens têm maior probabilidade de agradar a cada cliente, otimizando o inventário e reduzindo desperdícios. Isso é um exemplo claro de como os varejistas podem transformar competências internas em produtos viáveis para o mercado.

Recomendo a leitura do excelente site da Stich Fix que demonstra em grande profundidade o funcionamento do seu algoritmo de recomendação.

O que esperar no futuro?

O cenário que se desenha é de um varejo que não se limita ao consumo final.

Nosso objetivo na NRF 2025 é exatamente capturar grandes movimentos estratégicos que irão transformar o cenário do consumo e do varejo no Mundo e no Brasil para podermos acelerar a transformação já. Os varejistas que liderarem essa transformação terão uma vantagem competitiva significativa em um mercado cada vez mais complexo e globalizado.

Em resumo, o futuro do varejo é maior do que o próprio varejo. Trata-se de explorar ao máximo os ativos criados para inovar, atender demandas diversificadas e, acima de tudo, criar valor para o ecossistema como um todo.

Eduardo Yamashita é COO da Gouvêa Ecosystem.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
Imagens: Shutterstock, Eduardo Yamashita e Reprodução 

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