Seja em casa, seja fora dela, o consumo de alimentos é uma das formas mais ricas para compreendermos o comportamento do consumidor, o rumo dos seus desejos e preocupações. Além disso, é uma das formas mais velozes e eficientes para a captação de dados que irão irrigar os Ecossistemas de Negócios. Por isso, empresas de todos os setores passaram a analisar o setor de foodservice sob um novo olhar.
A expressão Big Data surgiu em 1997 e refere-se a volumes significativos de dados que não podem ser processados de maneira eficaz com os aplicativos tradicionais usados habitualmente. O processamento de Big Data começa com dados brutos que não são agregados e na maioria das vezes são impossíveis de armazenar na memória de um único computador.
O mercado de foodservice compreende todos os negócios que realizam transações ligadas ao consumo de alimentos preparados fora do lar, sejam consumidos no local, sejam na casa do consumidor, seja onde ele estiver. A importância desse mercado na integração aos ecossistemas é que as transações para aquisição de alimentos são altamente inclusivas e recorrentes, permitindo obter dados de clientes de diferentes perfis, além do seu comportamento.
Dirigindo o olhar para grandes operadores de foodservice, especialmente as redes, o uso de dados cresce dia a dia, ajudando-as a nutrir e ampliar seus próprios ecossistemas de negócios. Porém, 78% do mercado de alimentação fora do lar no Brasil (fonte: pesquisa Crest 2020, Mosaiclab) é pulverizado e as empresas de tecnologia aplicada ao delivery, nos últimos dez anos, tornaram-se agregadores e um importante manancial de dados.
No ano de 2019, o delivery de alimentos representou 9% dos R$ 215 bilhões de faturamento total do setor e em 2020, no pico da pandemia, representou 32%. Os dados ainda não foram divulgados, mas estimamos que em 2020 o delivery tenha representado entre 15% e 20% do faturamento total do mercado de foodservice. O que desejo destacar é que mesmo o delivery representando uma parcela ainda pequena, grandes Ecossistemas de Negócios, como Grupo Pão de Açúcar e Magazine Luiza, já fizeram movimentos de aquisição de empresas de delivery para usufruir do Big Data disponível nessas transações.
Durante o ano de 2019, mais de 50% do tráfego de foodservice foi composto por pessoas das classes C e D, muitas desbancarizadas e sem acesso aos sistemas de crédito. Os varejistas sequer conhecem essas pessoas, então, movimentos como esses supracitados permitem a conexão com um público antes não acessado.
Em 2017, quando a Amazon adquiriu o Whole Foods, a empresa acessou dados dos consumidores de perfil premium que rapidamente poderiam tornar-se Amazon Prime, que tradicionalmente gastam 130% a mais do que os clientes que não são Prime Members (fonte: Statista).
Empresas que ano a ano recriam o varejo americano integraram operações de foodservice às operações físicas para estimular visitas com ticket médio mais baixo, porém permitem estímulo a partir da circulação na loja, captação de dados do cliente, ativações pontuais ou apenas relacionamento. Ótimos exemplos são a Restoration Hardware, visitada pela Gouvêa Ecosystem durante a NRF 2019, e a Nordstron, visitada durante a NRF 2020. Infelizmente, os sobressaltos da pandemia causada pelo coronavírus em 2020 e 2021 impactaram o modelo, porém, o importante é a compreensão de que, por trás desse tipo de iniciativa, há um contexto de amadurecimento da ciência de dados e ativações ecossistêmicas.
Empresas agregadoras como iFood, Rappi e Uber Eats cresceram enormemente durante a pandemia, além de aplicativos próprios fornecidos por empresas de softwares e startups. O iFood avançou em soluções integradas, o Rappi tem se concentrado no seu modelo de negócios e o Uber Eats já nasceu parte de um ecossistema. Ainda há muito por fazer e pode haver consolidação ou novas iniciativas nos próximos dois a três anos.
Afirmo que, em cinco anos, o setor de foodservice dará um salto em direção à transformação digital, aproximando-se ao varejo. Parece ainda pouco provável que o mercado pulverizado de foodservice organize-se com rapidez para usar a riqueza do seu Big Data, porém, além do varejo, distribuidores, operadores logísticos e da indústria que deseja avançar em iniciativas “Direct to Consumer“, as fintechs deverão entrar fortemente na interação e integração com o foodservice para amplificar suas ações ligadas aos pagamentos digitais.
Este artigo é uma adaptação do texto originalmente escrito para compor o E-book: O Mercado, o Consumo e o Varejo Pós-Pandemia. Para ler o conteúdo completo e o texto dos demais autores acesse este link.
Cristina Souza é CEO da Gouvêa Foodservice
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