10 notas pessoais sobre NRF 2019 – Parte 1

Depois de 35 anos de participação pessoal na NRF Retail’s Big Show, dos quais 29 deles acompanhado de dirigentes, executivos e profissionais dos setores de varejo e consumo brasileiros, líderes que inspiram líderes, podemos ter uma visão ampla e, no mínimo, histórica, sobre a evolução dos grandes temas discutidos e valorizados no evento.

Esse é um resumo muito pessoal do que mais nos impactou na edição deste ano.

1: Os Estados Unidos acabaram de descobrir este ano a disrupção que vem da China. E ainda assim só parcialmente

Pela primeira vez nos 108 anos de história do evento foi dado o necessário destaque ao que está acontecendo na China, em particular nas apresentações dos ecossistemas chineses,  Alibaba e JD. E nas muitas vezes que os demais ecossistemas foram citados em outras apresentações. Os pontos mais mencionados envolveram os novos formatos de varejo, as operações logísticas, a força do mobile payment, os robots, o monitoramento dos consumidores pelo reconhecimento facial, a penetração da internet, a importância do delivery e outros temas mais. Pouco, ou quase nada, foi destacado com respeito ao modelo representado pelos ecossistemas de negócios da China que têm sido mais ágeis, estruturados, flexíveis e organizados para superar as tradicionais plataformas exponenciais de negócios do mundo ocidental, como Amazon, Google, Facebook e outros. Essa aparente miopia empresarial se explica por uma institucionalizada e recorrente tendência de olhar o mundo global a partir da lógica e da visão dos Estados Unidos que têm certa dificuldade em entender a dimensão, profundidade e extensão das transformações que nascem na China e se espalham. O presidente Trump já percebeu mais claramente o tsunami que vem da China e abriu fogo no campo político e de relações externas para tentar conter a onda. Se é que é passível de contenção.

2: A tecnologia existe cada vez mais para servir e diferenciar. E até serve para controlar e processar

Outra evolução marcante no evento deste ano é o avanço da proximidade da tecnologia com os temas que envolvem relacionamento, conveniência, facilidade, alternativas e velocidade em prol da melhor experiência do consumidor. É um processo em constante evolução a migração dos objetivos do uso da tecnologia de controle e processos para sua maior intimidade com o próprio consumidor, criando uma experiência mais fluída, rica, fácil e plural. A cada ano torna-se mais claro que tudo que a tecnologia pode proporcionar de recursos para controlar, reduzir custos, facilitar processos e ampliar alternativas operacionais continuará a evoluir, mas, cada vez mais, haverá a ampliação das alternativas para a incorporação da tecnologia para fazer o omniconsumidor mais satisfeito com sua experiência. E aos poucos também crescem as alternativas que visem o “empoderamento” das equipes para agregar mais valor no relacionamento com o consumidor.

3: O PDX se reinventa continuadamente. E não pode ser diferente

O PDX, a loja exponencial, evolução natural da antiga loja convencional, o PDV, a cada edição do NRF mostra-se ainda mais verdadeira, pelo desafio de oferecer tudo junto e misturado para buscar atrair, reter e ampliar a satisfação dos omniconsumidores. Como proposto por nós há dois anos, o PDX, a loja exponencial é o caminho pelo qual a antiga loja incorpora novas funções e atividades, para além da venda de produtos, se transformando num ponto de experiências, educação, informação, relacionamento, alimentação, orientação, serviços, entretenimento, lazer e… até compras. E o faz, principalmente, pela incorporação de mais tecnologia, integração omni e digital e pela ampliação dos vetores lazer e alimentação. O que era um café dentro da loja se transforma num restaurante, como na RH – Restauration Hardware. O que era um totem que permitia compra no site se transforma numa completa experiência com reconhecimento facial e identificação de consumidores já cadastrados. E não pode ser diferente. A reinvenção da loja é fator crítico num cenário onde a hiperconveniência tende a crescer de forma explosiva favorecendo os canais digitais. Basta lembrar que nas redes chinesas Hema, do Alibaba, e 7 Fresh, da JD, um pouco mais que 50% das compras são entregues via delivery.

4: O trinômio atemporal e cada vez mais atual: Inovação, Velocidade e Gente

A combinação Inovação, Velocidade e Gente como fatores críticos na gestão de negócios é um trinômio atemporal em termos de importância. O que se tornou desafiador e fundamental é reciclar a combinação desses conceitos no contexto atual definido como VUCA – Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo, que apesar de ter sido proposto no final dos anos 80 é cada vez mais atual e foi sendo potencializado ao longo do tempo. O que se destacava em termos de velocidade e inovação no passado recente se tornam desatualizados muito rapidamente pela transformação radical global que não poupa empresas e negócios que não têm no seu DNA e cultura a autotransformação permanente como mantra. E isso fica claro a cada ano. Mas o que tem crescido de importância, especialmente nos mercados ocidentais, em particular nos EUA, é uma melhor compreensão do quão fundamental é o envolvimento diferenciado e integral das pessoas na busca de modelos que possam entregar inovação e velocidade como demandados pelo mercado. A necessidade de buscar novos significados, modelos de negócio e integração entre as três variáveis da equação é o desafio recorrente para todas as organizações, especialmente as que atuam no consumo, pela crescente, irreversível e constante mutação dos omniconsumidores que, em parte, não esqueçamos, também são os colaboradores.

5: Muito além da transformação do varejo é a reconfiguração do mercado

Não podemos falar de miopia. Talvez uma fraqueza ou uma percepção limitada. Fato é que por se tratar de um evento de varejo, tudo gravita em torno do tema e se coloca no epicentro de tudo o omniconsumidor. Nada mais natural. Mas, no mínimo equivocado. As dimensões das transformações que estão acontecendo, e só parcialmente mencionadas, transcendem em muito as questões que envolvem lojas, omnicanal, experiências, logística, meios de pagamento em outros temas.

A considerarmos o que tem acontecido em alguns mercados, em particular China, existe um novo jogo de forças envolvendo os agentes de mercado. A partir das transformações e das relações com os omniconsumidores, potencializados em seu poder pela tecnologia, conveniência e facilidades embarcadas em seus smartphones, através dos superapps.

De forma iminente, pela combinação do uso amplificado da Realidade Virtual e Aumentada, do Reconhecimento Facial e da Íris, pelo uso disseminado da Inteligência Artificial, pelo que a voz irá representar como novo canal de comunicação digital emerge um mundo totalmente novo e mais desafiador, reconfigurando numa velocidade exponencial a realidade atual.

A necessária cautela é não nos apegarmos ao mundo que gravita em torno de nossa zona de conforto e tentarmos entender a realidade a partir de nossos parâmetros, experiências, expertise e visões, minimizando o que nossa vista e sensibilidade não podem alcançar ou entender.

Talvez seja essa a mais importante constatação para todos aqueles que estiveram conosco e que foram alertados para o poder transformador de uma imersão como a que vivenciaram pelo que amplia de horizontes e perspectivas, condensadas em alguns poucos dias distantes de nossa realidade.

No próximo artigo, na semana que vem, vamos tratar dos outros temas que completam essa série das dez visões pessoais:

6: A visão macro do mercado. De exuberante à preocupante, na dose certa

7: As transformações que precipitam transformações, que precipitam transformações

8: A voz é o próximo movimento a falar mais alto

9: Inteligência para além dos dados e analytics

10: Causa e Propósito continuadamente redefinidos e valorizados. E a cada mercado adequados.

 

NOTA: Com essas diferentes perspectivas participamos com uma delegação de mais de 230 dirigentes e executivos dos setores de varejo e consumo do Brasil da NRF Retail’s Big Show, em Nova Iorque, no período de 12 a 16 de janeiro pesquisando e avaliando os cenários e seus impactos em outros mercados.

No período de Fevereiro a Março vamos mostrar o que de mais importante pode ser apreendido num circuito de dez eventos em diversas capitais no Retail Trends – O melhor do pós NRF.

Esse trabalho será resultado da pesquisa em mais de 300 lojas e conceitos, das 38 horas de visitas e wrap ups do grupo que participou da Pré-NRF e de toda a atuação de nosso time no período da NRF, com cobertura de tudo que aconteceu de mais importante no evento, reunindo mais de 30 profissionais, diretamente de NY, envolvidos nesse processo.

E culminando com o Retail Executive Summit, nosso evento em NY, um dia depois do término da NRF e que contou com a presença do CEO Global da JBS, da Amazon, da Saint Gobain, da Ambev-Inbev, da Box 1824, de estudantes brasileiros de Harvard, do cônsul-geral de Israel em Nova Iorque, da jornalista Sandra Coutinho, de Antonio Carlos Pipponzi do lDV e Raia-Drogasil, de Flávio Rocha da Riachuelo e Luíza Helena,  e do envolvimento pessoal e decisivo da audiência participando com perguntas e comentários de todo o debate.

Importante lembrar que no evento deste ano da NRF participaram 1.700 brasileiros, a maior delegação internacional do evento, com um crescimento de 13% sobre o ano anterior.

O que acontece em Nova Iorque não fica em Nova Iorque!

RETAIL TRENDS PÓS NRF 2019

Confira os principais insights e conceitos apresentados durante o NRF Retail’s Big Show 2019.
O evento traz um conteúdo exclusivo sob a curadoria dos especialistas do Grupo GS& que estiveram em Nova Iorque e traduzem para o público nacional a melhor forma de aplicar as tendências e novidades mundiais na realidade brasileira.

Saiba mais em: www.retailtrends.com.br

Sair da versão mobile