O Brasil enfrenta um desafio sem precedentes em seu mercado de trabalho, com um recorde alarmante de 8 milhões de pedidos de demissão registrados em um curto período de tempo. Esse fenômeno não pode ser ignorado, pois reflete não apenas a instabilidade econômica do País, mas um ponto que vale destacar e se perguntar: “Será que o número não é um efeito colateral direto de questões profundas relacionadas à liderança e ao ambiente de trabalho?”
Em um mundo cada vez mais dominado pela Inteligência Artificial (IA) e automação, a liderança humana tornou-se um aspecto crucial para o sucesso das organizações. Enquanto a IA oferece eficiência e precisão na análise de dados e tomada de decisões, os líderes precisam se concentrar em manter e desenvolver suas qualidades humanas para lidar com as complexidades emocionais e interpessoais no local de trabalho.
Um levantamento realizado nos últimos 10 anos pela Potential Project, uma empresa que faz pesquisas para gigantes como HBR, Cisco, Accenture, entre outras, destacou a importância da liderança humana em um mundo cada vez mais dominado pela IA.
Essa pesquisa mostra que os líderes que conseguem equilibrar a eficiência da IA com suas qualidades humanas têm melhores resultados para suas equipes, organizações e para si mesmos.
O papel de liderança humana em um mundo tomado pela IA
A ascensão da Inteligência Artificial trouxe consigo uma série de benefícios e desafios para as organizações. Por um lado, a IA é capaz de processar grandes volumes de dados e identificar padrões com uma precisão sem precedentes, o que pode ser extremamente útil para a tomada de decisões estratégicas. Por outro lado, ainda não consegue replicar completamente a empatia, a compaixão e a sabedoria humanas, que são essenciais para lidar com questões complexas e sutis no ambiente de trabalho.
Nesse sentido, a liderança humana desempenha um papel fundamental em complementar as capacidades da IA. Enquanto a IA pode lidar com tarefas que exigem análise de dados e consistência, os líderes humanos são essenciais para lidar com questões que envolvem emoções, interações pessoais e desenvolvimento individual.
Os desafios da liderança no Brasil
No contexto brasileiro, o recorde de pedidos de demissão destaca a necessidade urgente de uma liderança mais eficaz e compassiva. Muitos colaboradores estão deixando seus empregos devido à falta de reconhecimento, apoio e orientação por parte de seus líderes, a tão falada liderança tóxica. Isso sugere que muitos líderes no Brasil estão falhando em desenvolver e manter um ambiente de trabalho positivo e estimulante.
Uma das principais razões para isso pode ser a falta de treinamento e de desenvolvimento de habilidades da liderança, que pode não estar preparada para lidar com as complexidades emocionais e interpessoais no local de trabalho, levando a conflitos, baixa moral e alta rotatividade de funcionários.
Os líderes brasileiros precisam encontrar um equilíbrio entre aproveitar os benefícios da IA e manter suas qualidades humanas, além de estarem cientes das necessidades emocionais e interpessoais de suas equipes e serem autênticos em suas interações.
A IA ser artificial, mas as suas emoções continuarão a ser naturais.
O Impacto da liderança na alta rotatividade dos colaboradores
Vivemos o que estamos chamando da crise dos talentos. Muito se deve à alta rotatividade de colaboradores, que pode ter um impacto significativo nas organizações, tanto em termos financeiros quanto em desempenho e construção de cultura.
Pessoas e times insatisfeitos são menos produtivos, menos engajados e mais propensos a deixarem a empresa. Além de resultar em custos adicionais com recrutamento, treinamento e integração de novos funcionários, isso ocupa um espaço na agenda dos líderes que poderia ser dedicado à estratégia e à sua boa execução.
A rotatividade também pode afetar negativamente a cultura organizacional e a reputação da empresa. Pessoas que se sentem desvalorizadas ou não ouvidas por seus líderes são mais propensas a falarem mal da empresa para outras pessoas, o que pode prejudicar a imagem da empresa no mercado.
E, por mais que o marketing de uma empresa seja excelente, nada é mais poderoso do que as vozes e os julgamentos criados nas redes sociais.
Como desenvolver uma liderança mais humana
Diante desse cenário, é crucial que os líderes no Brasil e em todo o mundo desenvolvam suas habilidades de liderança para se tornarem mais humanos, autênticos e compassivos. Um dos principais caminhos – para mim, o mais importante – é feito por meio de treinamento e desenvolvimento de habilidades emocionais e interpessoais, como empatia, comunicação eficaz, resolução de conflitos e feedback construtivo.
Além disso, os líderes precisam estar dispostos a ouvir e aprender com seus pares e liderados, reconhecendo que a liderança eficaz não se trata apenas de dar ordens, mas de inspirar, motivar e capacitar as pessoas a alcançarem seu melhor.
Em resumo, o recorde de pedidos de demissão no Brasil destaca a importância crítica da liderança humana em um mundo cada vez mais dominado pela IA.
Os líderes que conseguem equilibrar eficiência e precisão da IA com empatia e compreensão humana vão se destacar no futuro. Para isso, é fundamental investir em seu próprio desenvolvimento pessoal e profissional para se tornar mais eficaz, compassivo e autêntico.
Liderar é desaprender gestão e reaprender a ser humano.
Fabio Aloi é sócio-diretor da Friedman.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
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