A Temu, marketplace do grupo chinês Pinduoduo, recebeu autorização da Receita Federal para operar dentro do Remessa Conforme, programa que oferece isenção do Imposto de Importação para mercadorias até US$ 50.
A autorização foi dada em nome de Elementary Innovation Pte Ltd e publicada no Diário Oficial da União (DOU) desta segunda-feira, 20, por tempo indeterminado e para vendas efetuadas por meio do endereço eletrônico.
A gigante chinesa deve rivalizar principalmente com Shopee e Shein no Brasil. Nos Estados Unidos, passou a operar em 2022 e já ultrapassou a Shein em número de acesso, em outubro de 2023, com 108 milhões de views, número 458,8% maior do que a rival, que teve cerca de 19 milhões de visitas no país no mesmo período, segundo estudo da Semrush.
Em seu site, a Temu diz que a plataforma estará disponível no Brasil “em breve”.
Quem é a Temu
Sediada em Shanghai, na China, a Pinduoduo foi fundada em setembro de 2015. A Temu é uma spin-off controlada por essa organização, criada a partir de um modelo de negócio difícil de ser reproduzido em razão das ofertas superagressivas que pratica e da eliminação de intermediários.
Segundo o diretor de Operações (COO) da Gouvêa Ecosystem, Eduardo Yamashita, a empresa tem um histórico de mudar rapidamente toda a dinâmica de mercado e consumo nos lugares onde passa a operar. E, no Brasil, não deve ser diferente.
“Todos os mercados em que a Temu entrou, ela realmente mudou bastante a dinâmica de consumo por conta da agressividade de comunicação, rápido crescimento e popularidade da plataforma, além de introduzir um novo modelo de negócios que os países, os players locais, geralmente, têm pouco conhecimento e até mesmo pouca infraestrutura para imitar”, analisa Yamashita.
Presente nos mais diversos mercados – europeu, norte-americano e sudeste asiático -, a Temu vende de tudo, daí a semelhança com o e-commerce da Shopee. Entre as principais características do negócio, o COO da Gouvêa Ecosystem destaca sua entrada agressiva em novos mercados, com comunicação massiva e intenso uso de redes sociais, além das mídias tradicionais.
Nos Estados Unidos, fez o seu lançamento no Super Bowl, o jogo anual que decide o campeão da temporada regular da principal liga de futebol americano. De acordo com o executivo, é um dos espaços publicitários mais caros do mundo. Depois da entrada triunfal, em 2023, faturou US$ 13 bilhões em menos de 1 ano nos Estados Unidos.
Desentermediação do varejo
Segundo Eduardo Yamashita, outra característica marcante do modelo de negócios da Temu é a desintermediação do varejo.
No modo convencional, digamos assim, o marketplace adquire produtos da indústria ou faz parcerias com lojas (sellers) que dispõem de determinados itens e quantidades para a venda. A Temu atua dessa forma também, mas não só.
A empresa capta demandas dos usuários da plataforma e passa a recrutar interessados na compra de itens a preços muito baixos. Quanto mais pessoas estiverem interessadas no item, menor o preço. Com isso, os próprios consumidores convidam amigos e parentes para participar da oferta. Isso é feito em escala global e com o pagamento antecipado, ou seja, a compra não é estocada.
Com o dinheiro na mão, a Temu vai até a indústria e negocia diretamente a compra. Em seguida, faz a entrega para todos os seus clientes. Nesse modelo, não há varejistas ou distribuidores intermediários, o que favorece ainda mais o preço praticado na operação.
“De um lado, ocorre um uso muito intenso da mídia social e da força das comunidades que a Temu utiliza nessas ofertas limitadas e na corrida contra o tempo para aumentar o engajamento das pessoas”, explica Yamashita. “De outro, gera uma desintermediação da cadeia, tirando o distribuidor e os varejistas”, complementa. Essa condição permite à Temu praticar preços que a concorrência não consegue acompanhar porque o modelo de negócio dos rivais necessita de uma cadeia de distribuição muito mais ampla e mais cara. “Essa escalada de negócios é impressionante”, diz o executivo.
Plataforma altamente gamificada
Outro grande diferencial da Temu em relação aos concorrentes o alto nível de gamificação de sua plataforma, também incomparável a qualquer outra empresa.
Os jogos, como os da Fazendinha, retêm os usuários por mais tempo logados, mas também destravam oportunidades e ofertas dentro do e-commerce.
Com a aterrissagem da gigante chinesa no Brasil, o País será um dos poucos no mundo a contar com a presença de quase todas as plataformas globais de varejo online: Temu, Shopee, Shein, Alibaba, Mercado Livre e Amazon. “São plataformas muito fortes, fora os locais, como Magalu e todos os marketplaces que a gente conhece”, conclui Yamashita.
Com Larissa Féria, editora-chefe da MERCADO&CONSUMO
Imagem: Reprodução