Mesmo com aumento de preço do cacau, venda de chocolates se mantém em alta no Brasil

Dados da Kantar apontam que chocolate permanece nas compras dentro do lar, mesmo com aumento de preço

Preços do cacau devem levar fabricantes de chocolate a fazer mudanças nos produtos

No final de 2023, o cacau era uma das quatro principais commodities que ainda eram negociadas abaixo de seus picos estabelecidos na década de 1970. Mas isso mudou.

Neste ano, o cacau vem renovando suas máximas históricas devido à escassez de oferta, o que se deve a colheitas mais fracas nos dois principais países produtores: Costa do Marfim e Gana. Como consequência, nos Estados Unidos, a tonelada da commodity atingiu, em abril, a marca recorde de US$ 11,4 mil.

A partir desse cenário, a Organização Internacional do Cacau (ICCO) prevê que a oferta global da commodity deverá cair mais de 10% no atual período. O instituto também projeta um déficit recorde de 400 mil toneladas para este ano.

A crise, no entanto, ainda não foi sentida pelos brasileiros, embora seja possível notar pequenas movimentações nesse sentido. Dentro de casa, por exemplo, o consumidor segue priorizando os chocolates, enquanto fora do lar compartilha a categoria.

Números da Kantar, especializada em dados, insights e consultoria, apontam que, mesmo atingindo o maior patamar de preço em 17 meses (janeiro de 2023 a maio de 2024) dentro do lar, com repasse chegando a ser 19% superior, os chocolates são a única categoria em crescimento na cesta de indulgência.

A empresa também revela que o consumo da categoria dentro do lar é impulsionado pelo volume por viagem e pela frequência de compra, que crescem 8% cada. Aqui, as mulheres maduras e os consumidores da classe C formam o principal comprador.

Ao olhar para o consumo fora do lar, contudo, é possível ver que os chocolates caem 9% em penetração, impactados pela mudança do brasileiro para outras categorias, como sorvetes e biscoitos. Quem ainda mantém o produto na cesta são os jovens e as classes A e B.

Páscoa 2025: indústria precisa se reinventar

Ainda que não tenha impactado as escolhas do consumidor de forma massiva, o alto preço da commodity já traz possíveis riscos para a próxima Páscoa.

“O produto mais tradicional da sazonalidade, os ovos de chocolate, são basicamente o chocolate em si. Para minimizar o repasse de preço para o consumidor, as empresas vão ter de pensar em alternativas que diminuam o uso do cacau, a exemplo dos waffles e dos bombons”, afirma Matheus de Macedo, gerente de Novos Negócios da Kantar.

É válido destacar que, neste ano, o brasileiro voltou a comprar mais na Páscoa. Prova disso é que a sazonalidade cresceu 15% em 2024 na comparação ao ano anterior.

O crescimento vem, principalmente, de formatos regulares. Entre eles, destacaram-se as caixas (45,3% do volume na sazonalidade) e as barras (22,5%). Os típicos ovos de chocolate, por sua vez, corresponderam a apenas 12,6% do volume de mercado.

É válido destacar também que, durante a pandemia de covid-19, o crescimento específico dos ovos de chocolate foi pautado, sobretudo, pelo produto artesanal. Neste ano, porém, a categoria passou a ter como driver os ovos industrializados (aumento de 17,3% na comparação com 2023).

A diversificação na escolha de produtos criou oportunidades para fabricantes do varejo. Nestlé (incluindo Garoto), Neugebauer e Peccin aproveitaram a sazonalidade para vender mais itens regulares, como barras, tabletes e waffles cobertos ou recheados (alta de 16,6% em relação à 2023).

As chocolaterias, no entanto, vêm cada vez mais se destacando na sazonalidade e já correspondem a quase 30% do volume de vendas, movimento puxado especialmente pela Cacau Show (12,6%). O crescimento se deve, destacadamente, aos preços, uma vez que os valores médios cobrados por esses estabelecimentos estão em linha aos praticados por marcas de varejo.

A Kantar ainda informa que, em 2023, abril concentrou cerca de 20% do volume de vendas de chocolate do ano todo e entre todos os players do mercado. Para as chocolaterias, porém, o percentual ultrapassou 30%. A expectativa é que o comportamento se repita neste ano.

Imagem: Shutterstock

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