Coreia: um país, um mercado e um varejo, no mínimo, surpreendentes – Parte 3

SSG Food Market, rede de supermercados do Grupo Shinsegae

No primeiro artigo desta série sobre a Coreia – Momentum 831 – discutimos os aspectos macroeconômicos e de mercado que configuram o comportamento do varejo por lá. Na semana passada, no Momentum 832, mostramos algumas características diferenciadas do varejo da Coreia, e damos continuidade em seguimento ao anterior:

6 – A Coreia está entre os países com maior participação de dispêndios com alimentação fora do lar em relação ao total de gastos com alimentação. No Brasil, esse percentual está na faixa de 33% e na Coreia se aproxima dos 50%, mesmo índice dos Estados Unidos. No começo dos anos 90, na Coreia, esse percentual era de um pouco mais do que 20%. O hábito e a oferta estimulam esse comportamento.

É marcante a quantidade de operações de foodservice de toda natureza espalhadas pelas ruas ofertando de tudo ao mesmo tempo. Sem falar nas operações pop up de alimentos na versão coreana. A partir do meio da tarde surge quase como mágica uma quantidade incrível de carrinhos de alimentos com uma oferta muito variada, que vai de doces e sorvetes a todo tipo de salgados, sucos e bebidas, passando por lagosta, camarão, ostras, sanduíches e o que puder imaginar.

Ficam até por volta das 22h e a demanda alta de locais e visitantes ajuda a manter o fluxo de pessoas que também alimenta o comércio local tradicional. Por conta disso, além dos mercados de rua para alimentação, os varejistas incorporam operações de foodservice em sua oferta para contemplar esse comportamento. As principais redes têm espaços e ofertas generosas para o foodservice, que pode ir do café no topo da loja Dior à ampla e completa oferta de alimentos prontos para consumo com serviço na mesa e preparação na hora nos hipermercados, lojas de departamentos e mesmo nos supermercados.

Um bom exemplo é na SSG Food Market, rede de supermercados com lojas na faixa de 4 mil m2 e operação diferenciada do Grupo Shinsegae, que oferece uma área de alimentação para consumo local ou take way (menor parcela) que rivaliza com os melhores restaurantes da cidade.

Esse mesmo grupo, da mesma forma que Auchan, na França que criou a rede de restaurantes Flunsh, já presente em oito países, também criou e opera uma rede de restaurantes na Coreia, a Peacock Kitchen, além de ter ampla área de foodservice presente na maioria de suas operações e com especial ênfase na loja de departamentos Shinsegae que tem o subsolo todo dedicado a várias operações diferenciadas de alimentação com conceitos e marcas diferentes, além de um supermercado gourmet.

7 – No tópico ‘alimentação fora do lar’, a Coreia é um dos mercados mais ricos em termos de experiência de varejo, convivendo as principais redes internacionais com sua variada oferta, McDonald’s, Pizza Hut, Starbucks (aliás, em sociedade com o grupo Shinsegae) e muitas outras, com a riqueza e variedade de oferta dos locais, que desenvolveram inúmeros conceitos, dos mais sofisticados, aos mais populares, destacando ainda os mercados abertos ou cobertos, com ampla variedade de oferta de produtos preparados e cozidos na hora que são consumidos em bancos e mesas singelos pela população de vários níveis sociais e se tornaram atrações turísticas, como é o caso do Gwangjang Street Market, que tem mais de cem anos de existência.

Mas ao mesmo tempo, se você visita a Galleria Department Store na região de Apgujeong – Rodeo Street, operada nos moldes de um shopping center com as mais importantes marcas internacionais e locais, irá encontrar uma área, também no subsolo, totalmente dedicada à alimentação, ancorada por um supermercado gourmet, onde uma cesta de frutas, cuidadosamente embalada para presente, uma tradição local, tanto quanto no Japão, pode custar US$ 800.

As lojas de conveniência, abertas 24 horas e que proliferam em Seul, têm também em sua oferta de produtos alternativas de foodservice, incluindo sanduíches, bebidas, cafés e frutas embaladas individualmente;

8 – Em tudo que envolve alimentação na Coreia existe uma predominância de preocupação com saudável e natural que, porém, vem decrescendo à medida que cresce a oferta de alimentos processados, oferecidos especialmente pelas redes internacionais de foodservice e nos super e hipermercados.

Para os locais, por conta da extrema preocupação com saúde, beleza e bem-estar, talvez o mais característico comportamento perceptível da população coreana, em tudo que diga respeito a alimentos existe uma exacerbada oferta e valorização do natural e saudável e é evidente que esse é ainda um dos fatores decisivos no processo de compra, mesmo quando compra em barracas ou carrinhos na rua ou nos mercados populares. Nos supermercados, hipermercados, fast food, restaurantes, lojas de conveniência e todas as operações que envolvem alimentos esse traço de preocupação é marcante.

Por conta disso, na oferta de alimentos, o consumo de carne é menos relevante quando se compara com os países ocidentais, predominando os vegetais, tubérculos, frutas, peixes e frango. Mas nota-se um crescimento da oferta de carne, crescendo o interesse pelo produto à medida que o país se torna mais afluente em termos de hábitos e consumo.

NOTA: este é o terceiro artigo sobre o mercado e o varejo da Coreia, dentro da série “O Varejo do Mundo e o Mundo do Varejo”. Em 2020, o Grupo GS& Gouvêa de Souza desenvolverá um programa Insights 360° na Coreia, integrado com visita à Dubai, por conta da Feira Mundial Dubai 2020.

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