O tempo do “achismo” nas decisões de compra no varejo acabou. Hoje, quem ainda escolhe produtos com base apenas em feeling ou decide o sortimento por igual para todas as lojas está assumindo riscos desnecessários e perdendo oportunidades valiosas de aumentar sua margem e girar melhor o estoque. O consumidor mudou, o mercado acelerou e o planejamento comercial precisa acompanhar esse ritmo. Nesse cenário, ganha espaço o conceito de compras inteligentes, um modelo de gestão que une estratégia, dados e agilidade para transformar três pilares fundamentais da operação: alocação, sortimento e Open to Buy.
Da planilha à estratégia
Toda empresa quer vender mais, mas poucas conseguem comprar bem, e o ponto de partida está em saber exatamente quanto comprar, quando comprar e para onde mandar. Não se trata apenas de abastecer lojas, mas de abastecer com inteligência.
O conceito de Open to Buy vem justamente para responder à pergunta que o varejista mais se faz: quanto posso investir em compras sem comprometer a minha saúde financeira? E a resposta não pode mais estar em planilhas isoladas ou documentos copiados de outros ciclos. Ela precisa estar conectada com a realidade de cada loja, com o desempenho real por categoria e com a previsão de venda ajustada à sazonalidade, campanhas e comportamento do cliente.
Quando o Open to Buy é planejado com inteligência, o comprador não só respeita o orçamento como também investe melhor, negocia melhor e compra exatamente o que vai vender.
O produto certo, no lugar certo
Ter estoque não significa ter venda. Quantas vezes vemos um item encalhado em uma loja e esgotado em outra? Essa é a dor da má alocação: dinheiro parado, perda de margem e, pior, ruptura no ponto de venda.
O segredo está em entender a vocação de cada loja. Cada ponto de venda tem um perfil, um tipo de cliente, uma performance diferente. Ignorar isso é nivelar por baixo. Já uma alocação estratégica considera dados reais de giro, sazonalidade, histórico de vendas e potencial de consumo local.
É assim que o varejo deixa de apenas repor produtos e passa a planejar a distribuição com inteligência, colocando o item certo, na quantidade certa, no lugar certo e na hora certa.
Mix eficiente vende mais e sobra menos
Mais variedade nem sempre significa mais vendas. Um sortimento exagerado pode gerar confusão para o cliente e complexidade para a operação. O desafio é montar um mix equilibrado, com produtos que realmente fazem sentido para cada loja.
Ao analisar o desempenho por categoria, o comportamento do cliente por região e o relacionamento entre produtos, o varejo consegue definir um sortimento inteligente. Isso significa ter profundidade nas categorias que vendem mais e reduzir o excesso nas que apenas ocupam espaço e consomem capital.
Com isso, o sortimento deixa de ser padronizado e passa a ser personalizado, o que torna a experiência de compra mais relevante e a operação mais lucrativa.
Dados no centro das decisões
Compras inteligentes só são possíveis quando as decisões estão apoiadas em dados. Não basta saber o que vendeu. É preciso entender por que vendeu, onde vendeu melhor, quando girou mais rápido e quanto ainda é possível crescer naquela linha.
As empresas que estão prosperando hoje são as que usam dados, não apenas para olhar o passado, mas para antecipar o futuro. Elas identificam tendências antes da curva, reagem com velocidade, ajustam sortimento em tempo real e têm clareza sobre onde colocar cada real do orçamento.
Essa nova forma de pensar compras transforma o papel do comprador, que deixa de ser apenas um negociador para se tornar um verdadeiro estrategista comercial.
O fim da adivinhação
No varejo moderno, errar na compra é perder margem, e comprar certo é vender mais com menos risco. Por isso, as empresas que mais crescem são aquelas que abandonaram a improvisação e adotaram uma cultura de planejamento inteligente.
Quando alocação, sortimento e Open to Buy são tratados com estratégia e dados, o resultado aparece na ponta, mais giro, menos estoque parado, menos rupturas, mais margem e uma experiência de compra mais alinhada com o que o consumidor realmente quer.
No fim do dia, compras inteligentes não são apenas uma boa prática, são uma necessidade para quem quer crescer de forma sustentável.
Luana Silva é especialista de Varejo SAP.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
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