A NRF Big Show, maior evento global do setor de consumo e varejo, está prestes a realizar sua 113ª edição, em janeiro de 2024, em Nova York. Esse evento não apenas dita as tendências do setor, mas também compartilha as melhores práticas globalmente e permite um profundo repensar dos nossos negócios.
Há mais de 30 anos, a Gouvêa Ecosystem leva delegações de executivos brasileiros para a NRF, permitindo uma profunda troca de experiências e networking que são tão ou mais importantes que o evento em si.
O gigantismo da NRF
A magnitude da NRF é impressionante: são mais de 50 keynotes, em um auditório para 5.000 a 6.000 pessoas, 125 sessões paralelas e uma expo massiva, com mais de 1.000 expositores em 30.000 m². O desafio é escolher entre as diversas opções de conteúdo, e a expo destaca-se como uma fonte de soluções inocadoras para os desafios do setor.
Make it matter: O tema central da NRF 2024
O tema deste ano será “Make it Matter”, algo como “Faça valer a pena”, em uma tradução livre. Ele reflete a excitação pelo bom desempenho do consumo em 2023 no mercado norte-americano, juntamente com o sucesso das vendas durante os feriados de final de ano.
Comparado com 2022, o animus dos executivos americanos estará consideravelmente melhor dado o afastamento do risco de leve recessão. No ano passado havia um certo consenso de que o Federal Reserve, banco central americano, precisaria endurecer suas medidas para conter a inflação e o crescimento excessivo da economia. Esses fatores se mostram controlados com os dados divulgados no final de 2023.
Tendências e principipais temas da NRF 2024
1. Consumidor em transformação
Globalmente e no Brasil, a preocupação econômica persiste, influenciada pelos custos em alimentação, moradia e transporte, o que impactando a renda disponível. Sob pressões sociais e incertezas da pandemia, surge smart consumer, que pesquisa mais, absolutamente conectado, engajado, que deseja conveniência e busca o consumo com melhor custo-benefício.
A NRF abordará também a ascensão da Geração Alpha, nascidos entre 2010 até 2025. A tecnologia faz parte da sua própria existência, com 44% das crianças brasileiras de 0 a 12 anos possuindo smartphones. As características dessa geração são a curiosidade intensa, independência e uma maior diversidade de estruturas familiares. No entanto, a hiperconexão manifesta também uma geração ansiosa, impaciente e com dificuldades de concentração.
2. Sustentabilidade ampliada
Há alguns anos, testemunhamos o surgimento do termo ESG no cenário financeiro, que se disseminou por diversos setores e há cerca de 5 anos tornou-se a palavra-chave da NRF. Em 2021, observamos uma ênfase significativa na sigla DEI – Diversidade, Equidade e Inclusão, quase como uma extensão da dimensão Social (S) do ESG.
Agora, percebemos a adoção do termo “Sustentabilidade” como uma expansão do conceito, representando um guarda-chuva abrangente que engloba também questões como os desafios dos novos modelos de trabalho, a saúde dos colaboradores, entre outros temas.
3. Novos modelos de negócio
“O futuro do varejo não está no varejo”. Essa foi a fala do presidente global do Walmart no call com investidores há 3 anos.
O que ele pontua é que os principais grupos varejistas do mundo (e do Brasil) estão buscando alternativas para rentabilizar e monetizar seus ativos e a proximidade com o consumidor, diversificando seus negócios através da oferta de serviços, produtos financeiros, logística, soluções de tecnologia, venda de mídia etc.
Em NY, teremos diversas palestras mostrando a evolução desse desenvolvimento de novos negócios, incluindo um enorme espaço e um minievento dedicado para a frente retail media, modelo em que os varejistas passam a ser grandes provedores de media online e offline nos seus canais de conexão com os consumidores.
4. Novos agentes no mercado
Novos protagonistas estão ingressando no cenário do consumo e varejo, redefinindo tanto o modus operandi quanto a cultura do setor. Nos últimos anos, presenciamos a incursão do segmento financeiro, introduzindo uma perspectiva e dinâmica inovadoras no mercado, pautadas pela praticidade, orientação para indicadores econômicos e eficiência.
Ao examinarmos os principais varejistas globais, observamos que 33% do capital do Walmart, 48% do capital da Amazon e 40% do Carrefour estão sob a influência do setor financeiro.
5. Imprevisibilidade do ambiente de negócios
A complexidade do mundo atingiu níveis que ultrapassam a capacidade humana de compreensão. Em uma escala macro, destacam-se eventos recentes como a pandemia, hiperinflação global e o aumento das taxas de juros.
Em uma escala micro, testemunhamos a ascensão de players globais e asiáticos, a constante evolução e declínio de novos canais e plataformas de conexão com o consumidor, bem como o surgimento e profusão de novos concorrentes de múltiplos segmentos, canais, modelos de negócio e geografias.
Essas interconexões entre inúmeras variáveis tornam o ambiente de negócios completamente imprevisível. E saber liderar em um cenário como esse se tornou imperativo e competência-chave nos negócios.
6. Metaconcorrência
Estamos no epicentro da hiperglobalização e, apesar das controvérsias, os varejistas globais continuam a expandir sua atuação no mundo, reconfigurando o cenário de consumo. Impulsionados pela digitalização, as fronteiras que antes delimitavam os mercados desapareceram. Hoje todos competem com todos, buscando a preferência financeira, emocional e a atenção dos consumidores.
Apenas como exemplo, as varejistas de moda agora rivalizam com plataformas globais asiáticas, concorrendo diretamente com casas de apostas pelo bolso do consumidor e disputando a atenção dos clientes com plataformas de streaming, alterando assim os hábitos de consumo.
7. Revolução da IA
A revolução da inteligência artificial (IA) emerge como uma forçade transformação equiparada com as revoluções impostas pela internet há 20 anos, pelos smartphones há 10 anos e mais recentemente pelas redes sociais.
Nesse contexto, entende-se que a IA irá destravar uma nova plataforma de desenvolvimento do consumo e do varejo, alavancados por essa nova tecnologia será discutido na NRF como os varejistas estão usando e vislumbram o futuro do setor com esse novo ferramenta, vermos aplicações diversas passando desde a gestão de atividades operacionais como gestão do sortimento, treinamentos, automação da operação até atividades mais estratégicas e criativas como gestão de preço, geração de conteúdo personalizado etc.
8. Varejo orientado pelos dados
O varejo, historicamente caracterizado pelas decisões ágeis e instintivas no ambiente físico das lojas, encontra-se diante de uma significativa mudança cultural, com a crescente invasão dos dados e das tecnologias que permitem a sua captura e processamento. A iminente disrupção nesse cenário trará uma transformação marcante e o varejo será cada vez menos arte e cada vez mais ciência.
Nos vemos em NY
A NRF Big Show 2024 promete ser mais do que uma vitrine de tendências; é uma experiência transformadora. Em um mundo onde a complexidade e velocidade de transformação ultrapassam a capacidade de compreenção humana, participar dessa jornada com delegação da Gouvêa Ecosystem oferece uma visão ampla e essencial para a adaptação às complexas transformações que moldam nosso futuro.
Eduardo Yamashita é COO da Gouvêa Ecosystem.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
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