“Precisamos nos preparar para o fim da abundância”, disse Kate Ancketill, fundadora e CEO da consultoria britânica GDR, durante a NRF Retail’s Big Show em 2023, destacando os conflitos e as mudanças climáticas como fatores persistentes. Neste ano, Kate alertou sobre um novo desafio que lança incertezas sobre o varejo: a bomba-relógio demográfica.
Enquanto continuamos a lidar com conflitos e questões climáticas, a mudança demográfica emerge como um elemento crítico, impactando diretamente o setor varejista. “Os idosos compram menos produtos e priorizam os serviços, levando a um crescimento mais lento do PIB”, afirma Kate, durante a NRF 2024, que aconteceu entre os dias 14 e 16 de janeiro em Nova York. A MERCADO&CONSUMO fez uma cobertura especial e embarcou com a delegação da Gouvêa Experience.
No Japão, desde 2011, mais fraldas são vendidas para idosos do que para bebês. Embora não seja um problema imediato, representa um processo preocupante, especialmente se a segunda maior economia do mundo continuar envelhecendo. Estudos apontam que 23 países caminham para reduzir pela metade sua população até o final do século.
Segundo Kate, essa mudança demográfica não apenas transforma as dinâmicas econômicas, mas também desafia o modelo de consumo linear, impulsionando a transição para a circularidade.
Outro fator que contribui para a transição para a economia circular é o empobrecimento da população. Recentemente, dois terços dos americanos expressaram sentir-se mais pobres, sinalizando um impacto significativo em seus hábitos de consumo.
A gigante do comércio eletrônico Alibaba, por exemplo, já integra em seu ecossistema um site de segunda mão, indicando uma mudança iminente no paradigma de consumo. Estima-se que até 2030, o mercado de moda de segunda mão dobrará de tamanho.
Outra tendência que vai se intensificar nos próximos anos é o uso da Inteligência Artificial (IA) no varejo. Atualmente, 40% dos varejistas já utilizam alguma forma de IA em seus processos, e a previsão é de que esse número alcance impressionantes 80%.
Kate alerta, porém, para a insegurança emocional que a IA pode desencadear. “Essa preocupação impulsiona a busca por uma IA empática, a ‘empathetic AI’, que se assemelha a uma interação humana, conversando de forma próxima e compreensiva”, diz.
Segundo a especialista, essa busca por empatia não se limitará ao setor de varejo, e se estenderá aos serviços de escritório e jurídico. A ideia é ir além do simples uso da IA como uma ferramenta funcional e integrá-la de maneira a simular a atenção, compreensão e empatia encontradas em interações humanas.
As 3 principais tendênciasque vão alimentar a transformação do consumo linear para o circular são:
Consumidor guardião
Hoje, os consumidores não são apenas compradores. Eles se tornaram os guardiões dos produtos que adquirem. “Conscientes do impacto ambiental, buscam opções que permitam não apenas a compra de produtos novos, mas também a escolha de produtos usados, aluguel, assinatura e venda”, diz Kate.
A ideia de devolver ativamente produtos à economia circular está se tornando uma prática comum, impulsionada tanto pela consciência do consumidor quanto pelas mudanças legislativas.
Na Áustria, por exemplo, o governo oferece subsídios de até 200 euros para reparos de eletrônicos. Na França, o governo paga até 25 euros para a reparação de calçados e roupas. Essas medidas demonstram que os incentivos financeiros podem ser um catalisador eficaz para envolver os consumidores e os varejistas nesse processo de transição.
Kate também citou que 88% dos britânicos afirmaram ter alterado seu comportamento de consumo após assistir ao documentário que mostrava duas gaivotas alimentando seus filhotes com pequenos pedaços de plástico. “O documentário serve como um lembrete urgente de que não há mais tempo a perder e que a mudança é imperativa”, diz.
IA empática
A Inteligência Artificial conversacional está cada vez mais integrada em nosso dia a dia e vai continuar evoluindo rapidamente nos próximos anos. Mais de 142 milhões de pessoas nos Estados Unidos já usam Alexa ou Google Home.
E a crescente popularidade dessas tecnologias aponta para um futuro em que cada pessoa e marca terá sua própria IA. “Acredito que nos próximos 5 anos, todos terão sua própria IA pessoal. O governo terá sua própria IA, todas as organizações sem fins lucrativos, cada músico, artista, gravadora ou empresa representada por um site ou aplicativo”, diz Kate.
A IA, destaca Kate, vai funcionar como organizadora e desempenhará papéis de ensino, apoio e orientação. A interação será tão autêntica que os usuários sentirão que estão tendo uma conversa real, com detalhes como a respiração e a atmosfera da conversa, proporcionando experiências únicas e, por vezes, até mesmo engraçadas.
Como exemplo, Kate citou a PI, IA generativa lançada pela Inflection AI. “Você realmente sente que está tendo uma conversa de verdade. Você pode ouvir a respiração entre as palavras e, às vezes, ela faz você rir. É uma conversa diferente de tudo que já fiz antes”, conta.
Reality check
Mais desinformação se espalhará pelas redes, abrindo a possibilidade de danos à reputação de pessoas e empresas. Segundo o inquérito Ford Trends 2024, 78% das pessoas em todo o mundo já não concordam sobre o que é e o que não é verdade.
Nesta era da pós-verdade, haverá um movimento contrário em direção ao real e haverá uma maior necessidade de experiências físicas, emocionalmente amplificadas e imersivas no mundo real.
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