O maior e mais importante encontro global do setor de foodservice no maior mercado mundial, os Estados Unidos, acontece em Chicago até a próxima terça-feira, 24, e deve receber perto de 45 mil participantes de toda cadeia de valor desse setor, com mais de 1.500 expositores celebrando a retomada física do evento que não ocorreu em 2020 e 2021.
O Brasil estará presente com delegações que reúnem perto de 600 executivos, entre expositores e profissionais ligados ao setor e com uma apresentação focada na realidade atual e futura desse segmento no País.
Importante destacar que no setor de alimentação em todo o mundo o negócio de foodservice, alimentos preparados fora do lar para consumo, é a vertente que mais cresce, redesenhando o mercado de alimentos e criando novos canais, formatos, conceitos e modelos de negócios. Tudo isso é matéria-prima dos debates, discussões, estudos, pesquisas e da maior exposição durante o evento.
O impacto é marcante em Chicago, que tem esse como um dos maiores eventos dos que acontecem na cidade.
Os novos hábitos e as expectativas dos consumidores, que foram reconfigurados durante a pandemia, alterando ou acelerando as tendências anteriores e as novas transformações estruturais do setor de alimentação, são os temas predominantes nessa indústria que mostra surpreendente e renovado vigor após ter sido uma das mais afetadas durante a pandemia.
Nos Estados Unidos, as novas demandas, focadas em alimentos mais saudáveis e naturais com maior conveniência, facilidade e experiência, conflitam com situações críticas no cenário atual, que envolve a falta de mão de obra, inflação elevada e dificuldades de abastecimento. Isso torna o cenário muito mais desafiador para fornecedores, prestadores de serviços e operadores em busca de soluções estruturais, estratégicas e táticas para os negócios dentro dessa nova realidade.
A elevada inflação média de 8,5% nos Estados Unidos tem alcançado patamares entre 18% e 21% no setor de proteína animal, base dos custos do setor de foodservice. Esse cenário gera uma inusitada situação para o segmento, que tem de absorver esse custo e repassá-lo a um consumidor cada vez mais orientado, consciente sobre valor dos produtos adquiridos e, pressionado pela inflação, se torna ainda mais preocupado com o tema.
O elevado nível de emprego, que gera um dos mais baixos índices históricos de desemprego nos Estados Unidos, gerou uma falta estrutural de mão de obra que afeta em especial os setores de varejo e hospitalidade, que incluem o foodervice.
A situação está num ponto onde o início do trabalho de um novo funcionário gera um bônus de adesão. As indicações de potenciais funcionários também são premiadas com bônus para quem faz a indicação.
E hotéis e restaurantes alertam seus clientes que seus padrões habituais de serviços estão comprometidos pela falta de mão de obra. Jogo aberto e inevitável.
O elemento desafiador final envolve as dificuldades de abastecimento de produtos, consequência do cenário global de escassez e stress logístico causados pela retomada global e os problemas gerados a partir da invasão da Ucrânia pela Rússia.
Em outra vertente, é clara a evolução estrutural de mudança de hábitos que faz crescer a tendência de maior participação no setor de alimentos preparados fora do lar, combinado com fatores que envolvem menos tempo dedicado, praticidade, aumento da oferta de alternativas mais competitivas e os novos paradigmas incorporados do home office e home schooling com o avanço do delivery entregando rapidez e funcionalidade.
Mas é importante lembrar que, ao mesmo tempo, existe profunda mudança estrutural no que diz respeito ao que se come, com aumento da oferta e da demanda das proteínas plant based, mais orgânicas e naturais, que criaram novas referências, especialmente para os consumidores mais jovens e conectados com os temas ligados à sustentabilidade.
Essa combinação de fatores compõe o cenário em que a retomada é muito valorizada, porém, os desafios do curto prazo impõem cautela, repensar de modelos e mudanças estruturais para atender um consumidor ávido por retomar antigos hábitos. Ao mesmo tempo, eles estão mais conscientes e cautelosos sobre o que compram, onde compram e o quanto pagam, criando desafios e oportunidades que fazem com que todo o setor de foodservice viva essa combinação única de momento mágico e desafiador ao mesmo tempo.
Nota. No artigo da próxima semana vamos tratar dos impactos e perspectivas no Brasil das transformações estruturais do setor de foodservice.
Marcos Gouvêa de Souza é fundador e diretor-geral da Gouvêa Ecosystem e publisher da plataforma Mercado&Consumo.
Imagem: Maurício Hitai