“É fazendo que se aprende a fazer aquilo que se deve aprender a fazer.” A frase, ou quase um trava-língua, de Aristótoles resume o momento profissional que vivemos. O mercado de trabalho, tal qual a sociedade como um todo, sempre esteve em constante mudança. E sempre restou a nós, seres humanos, aprender e nos adaptar às transformações.
A grande questão é que, no mundo atual, essas mudanças acontecem em uma velocidade jamais vista. A pandemia, as tecnologias, a entrada das novas gerações no mercado de trabalho, entre outros acontecimentos, aceleraram o ritmo das transformações.
Então, como preparar nossa cognição para acompanhar as novidades?
Todos nós somos consumidores. Em todos os momentos do dia, consumimos algo: produto, serviço, informação. A partir do momento em que nossas vontades e nossos estilos de vida mudam – de forma forçada ou não, levando em conta a quarentena que vivemos recentemente –, o varejo também precisa mudar.
Há não muito tempo, por exemplo, uma ida ao supermercado era simples: anotar a lista de compras em um papel, escolher a mercadoria, passar no caixa, pagar e ir embora. Hoje, não há como oferecer só isso aos clientes. O varejista precisa entregar uma experiência; não apenas uma ida ao mercado. Autoatendimento inteligente, aplicativo de compras e tecnologias que preveem o que o consumidor quer comprar são alguns exemplos de sistemas esperados quando uma pessoa vai comprar o arroz e feijão do dia a dia. O foco é a jornada do cliente.
É claro que a tecnologia tem um papel importante nesse cenário. Porém, o investimento apenas em tecnologia não salva uma empresa da concorrência. Os verdadeiros ativos são as pessoas. Os varejistas, desde os grandes até os menores, já entenderam que o foco na experiência do cliente anda de mãos dadas com a transformação digital. O grande diferencial está naqueles que investem na capacitação profissional dos seus colaboradores. De nada vale implementar um grande sistema de Inteligência Artificial (IA) se as pessoas não estiverem preparadas para recebê-lo.
Agora, voltando à reflexão inicial, capacitar alguém não é uma tarefa simples. Disponibilizar teorias, livros e slides repletos de textos não é o suficiente para impactar uma pessoa. Esse modelo de ensino faz parte daquela “decoreba” de escola. O aluno lê, guarda a informação por alguns momentos e depois esquece. Os executivos precisam estar imersos em situações e desafios reais para que aprendam o conteúdo na prática e consigam acompanhar as mudanças. Aristóteles, há muitos séculos, estava certo: é fazendo que se aprende.
Recentemente, a Gonow1, startup de educação e tecnologia, apresentou o Retailthon, o primeiro Hackathon do varejo. Durante três dias de experiência, os participantes identificaram um problema na empresa em que trabalham, criaram um plano de negócios, desenvolveram uma solução e apresentaram o produto final.
O foco foi na aprendizagem prática e na busca por soluções, em um cenário de constantes mudanças. É visível a diferença do impacto quando alguém aprende fazendo, e não apenas observando e anotando.
Fazer, errar, ser orientado, refazer, errar de novo, experimentar, ser novamente orientado e seguir até que possibilidades de solução sejam encontradas é muito mais interessante e efetivo para o aprendizado. O modelo tradicional já cumpriu sua função. Por mais que possamos fazer críticas a ele, foi este modelo que nos trouxe até aqui. Porém, agora, precisamos expandir nossa capacidade cognitiva para dar conta de um novo mundo.
Neste contexto, muitas pessoas acreditam que têm dificuldade em aprender e, sobre isso, eu afirmo: exceto em casos específicos que devem ser diagnosticados por médicos, todos temos a cognição necessária para acompanhar qualquer nível de conteúdo. Resta-nos mergulhar na multiexperiência de conteúdo. Apenas uma sequência de slides teóricos não resolve mais nossos problemas, sobretudo em relação aos grandes desafios que o varejo está enfrentando.
Rodrigo Maia dos Santos é CEO da Gonow1.
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