Estudo da Insead – uma das principais escolas de administração do mundo, divulgado em Davos nessa semana, o qual demonstra o nível de competitividade de talentos digitais entre 132 países, apresenta o Brasil em 80ª posição. O que parece ser ruim fica ainda mais trágico quando observamos que em um importante índice que compõe o estudo, “a fuga de cérebros”, o Brasil saiu da 45ª para a 70ª posição. Certamente existem gramas mais verdinhas em países com maiores condições de empregabilidade. Mas será que a crise de talentos acontece apenas no setor digital?
No varejo o desafio é ainda maior do que reter talentos. O desafio começa em ter pessoas genuinamente interessadas em trabalhar e fazer carreira no varejo. Recente painel da NRF 2020, com participação de John Furner, CEO da Walmart nos EUA, evidenciou esse drama quando Furner declarou que jamais havia aspirado trilhar sua carreira no varejo em seus planos de juventude… mesmo tendo seu pai como exemplo de profissional de carreira do varejo.
Pergunte a algumas crianças o que elas querem ser quando crescerem. Você escutará as mais diversas respostas, mas dificilmente escutará “vendedor de lojas”. O mais interessante é que, apesar do baixo interesse em trabalhar nesse setor e poucos planejamentos de carreira no varejo, a indústria de varejo norte americana contrata 1 em cada 4 trabalhadores do país. São aproximadamente 42 milhões de empregos gerados pela indústria do varejo norte americana. São 29 milhões de empregos diretos, sendo 45% desses fora de posições de vendas.
A indústria de varejo é a grande porta de entrada no mercado de trabalho em todas as partes do mundo. Sem grandes exigências técnicas para uma posição de trabalho e a urgente necessidade de compor os quadros de loja, jovens enxergam aí a grande oportunidade de sair da condição de desempregados quando terminam ou interrompem seus estudos. Essa porta de entrada acaba dificultando ainda mais a montagem de times verdadeiramente produtivos, pois a falta de talentos para execução das atividades acaba derrubando os resultados e a lucratividade das redes e lojas.
Conscientes de que poucos trabalhadores empregados no varejo possuem talentos natos para o desenvolvimento de carreiras de sucesso no varejo, muitas redes desenvolvem suas academias corporativas e engajam seus empregados em trilhas de aprendizado contínuo para desenvolver conhecimento e habilidades específicas desse setor de trabalho multidisciplinar e altamente competitivo. É assim que o varejo tem formado talentos para permitir a expansão das redes e a melhoria de resultados. O gigantesco desafio é reter esses talentos dentro da companhia. Como fazer para evitar que os talentos desenvolvidos em casa, com alto esforço e investimento, olhem para as gramas dos vizinhos e provoquem uma fuga de cérebros dentro da própria indústria do varejo?
Você deve estar se perguntando: E se eu investir na formação de talentos e eles me deixarem? A resposta é simples: É melhor do que não investir no desenvolvimento deles e eles ficarem! Ter uma máquina poderosa de formação de talentos internamente é condição para você ganhar competitividade no varejo.
As oito peças-chave da máquina de talentos:
- Tenha um propósito relevante para o mundo – O trabalhador moderno, principalmente os millennials, querem fazer parte de um time que promove o bem para o Mundo. Se você quer atrair mais pessoas engajadas em sua marca, ela tem que ter um propósito alinhado com o mind set dessas pessoas;
- Curta a diversidade – O mundo está cada vez mais diversificado e pluralizado. Aproveite isso para atrair pessoas diferentes e curta o que cada um pode agregar de diferenciação ao seu negócio. Lembre-se que seu cliente também é diversificado;
- Esteja sempre com as portas abertas – Pessoas só entram em sua casa se a porta estiver aberta. Construa um verdadeiro sistema de recrutamento contínuo. Você pode não ter vagas, mas esteja sempre de portas abertas para quem quer trabalhar com você;
- Selecione os comportamentos certos – Tenha processos de seleção focados em comportamentos alinhados à sua cultura corporativa. Não dê tanto valor às experiências profissionais pregressas e conhecimentos técnicos adquiridos anteriormente. Ensinar comportamentos é muito mais difícil que desenvolver competências técnicas de seu negócio;
- Crie um sistema de qualificação contínua e estimule o aprendizado – Se responsabilize pelo desenvolvimento profissional e pessoal de cada empregado. Mobilizar as pessoas para que sejam melhores a cada dia e dar condições para isso pode ser a chave para que tenham um relacionamento de longo prazo com você;
- Valorize todas as posições do jogo – Não importa o cargo. Uma rede de lojas de varejo é um sistema de trabalho. O cargo mais simples pode comprometer toda estratégia de atendimento ao cliente. Se cada um recebe seu devido valor no sistema, aumentam as chances de se conquistar um time que trabalha unido pelos resultados planejados;
- Escute ativamente e aprenda a aprender – Ensinar é importante, mas aprender é mais ainda. Quanto mais alta a posição hierárquica, maior deverá ser a capacidade de relacionamento e a capacidade de escutar ativamente aqueles que estão fazendo a empresa acontecer. Acabou a era do Manda quem pode, obedece quem tem juízo;
- Seja humano – O varejo é feito de pessoas, para pessoas e com pessoas. Olhar para o outro valorizando sua história e sua individualidade tornará você mais humanizado no ambiente de trabalho.
* Imagem reprodução