Pensando fora da caixa. Ou do país

Globe South America

Por Marcos Gouvêa de Souza*

No período de 2004 a 2014, o crescimento econômico do Brasil, medido pela expansão do PIB, foi puxado pelo crescimento do consumo e, consequentemente, do varejo, em todas as suas formas. Foi o que se convencionou chamar da Década de Ouro do Varejo.

Infelizmente foi e dificilmente teremos outro período igual num futuro próximo.

Não existem novas possibilidades de agregar mais 50 milhões de brasileiros ao mercado de consumo e, ao contrário, uma parte desses está voltando para patamares anteriores do ciclo de crescimento por conta do cenário atual de estagnação e involução.

Enquanto amargamos crescimento negativo do PIB e do consumo em 2015 e 2016, outros países latino-americanos, especialmente Colômbia, Chile, Peru, Panamá e México, estão apresentando crescimento significativo. Mas para todos, o passado recente foi melhor.

Numa análise mais ampla, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), aponta que no período de 2014 – 2020 o crescimento regional deverá ser de 1,7%, muito abaixo dos 4% do período de 2003 – 2013, em boa parte puxado pelo desempenho brasileiro e pela queda dos preços das commodities globalmente.

Mas, numa visão mais estratégica, enquanto o Brasil viverá uma luta brutal por participação de mercado e rentabilidade, por conta de um “bolo” de mercado menor, outros países na América Latina continuarão a expandir com boas possibilidades de retorno de investimentos.

Isso ocorre especialmente por conta de menores custos operacionais, mercados mais abertos à importação de bens de consumo e legislações menos complexas em muitos aspectos, mercados individualmente menores, porém menos complicados e competitivos em diversos setores e categorias.

É verdade que em vários deles os varejistas chilenos, que viveram sua estabilização econômica antes do Brasil, já avançaram bastante e têm hoje, além da facilidade de entrada pelo idioma, uma presença já marcante.

Mas visitas recentes que fizemos a alguns desses países mostram uma ausência quase total de varejistas brasileiros, com exceção de algumas marcas de franquias.

De fato, a ausência de marcas brasileiras é ainda mais marcante, pois não se vêem cafés brasileiros, carne ou frango, só para ficar nos alimentos, apesar de sermos dentre os maiores produtores globais. Parodiando, parece falta de apetite por esses mercados, ao nosso lado.

Grupos como JBS, BRF e outros do setor de café, preferiram ajustar seu foco para outros mercados globais, potencialmente mais interessantes, do que se concentrarem na região.

Até porque a proposta do Mercosul, que poderia ser um incrementador de negócios, nunca passou de muito discurso e pouca ação efetiva na área econômica.

Seguramente, o que aconteceu em particular para varejistas e franqueadores, envolve o foco estratégico totalmente concentrado no aproveitamento das oportunidades geradas no mercado brasileiro que já conheciam e crescia positivamente, preferindo deixar o mercado latino-americano para outra oportunidade.

Agora, parece que a necessidade vai se impor à oportunidade.

No período 2016 – 2020, gostemos ou não, nossa economia, consumo e varejo terão expansão menor e o quadro competitivo vai ampliar, com fortes pressões sobre a rentabilidade.

Seria uma ótima oportunidade, para não dizer necessidade, que varejistas e franqueadores, além de empresas de e-commerce, shoppings e outras, se abrissem para melhor entender o que acontece na América Latina, ao mesmo tempo que pressionassem o governo para programas de estímulo para expansão na região.

Deixar de lado a ideologia do Mercosul e partir para mais ação e realização, parece ser outra demanda natural. Como em tudo na vida, onde há males que vêm para o bem, talvez a atual crise ajude a empurrar os setores de consumo do Brasil a reverem suas estratégias de longo prazo.

Nota. No Latam Retail Show, de 23 a 25 de agosto deste ano, no Center Norte em São Paulo, especial atenção será dedicada ao intercâmbio de informações e rodadas de negócios, envolvendo varejistas, franqueadores, shoppings centers, e-commerce e fornecedores de produtos, equipamentos, instalações, tecnologia e serviços convergentes com essas áreas na América Latina.

*Marcos Gouvêa de Souza (mgsouza@gsmd.com.br) é diretor-geral da GS&MD – Gouvêa de Souza. Siga-o no Twitter: @marcosgouveaGS

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