A informação precisa sobre quando teremos uma vida igual à da pré-pandemia é ainda volátil. Na última sexta-feira, assisti a uma apresentação do Dr. Sidney Klajner, presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, e nem ele, líder de um dos mais importantes complexos hospitalares brasileiros, pôde nos responder.
A mensagem é que hoje sabemos muito mais sobre o vírus do que no início e que devemos acelerar o cronograma brasileiro em relação à vacinação no início do segundo semestre. Sem dúvidas vacinar-se é o melhor caminho e, além disso, as ações individuais preventivas são fundamentais. Finalizou com o reforço de que a comunidade médica e científica no Brasil e no mundo está comprometida em compartilhar todo e qualquer avanço sobre o tema.
Em uma reflexão paralela sobre como cada negócio de alimentação fora do lar tem contribuído por fazer mais pelos clientes ante suas necessidades, fui revisitar um estudo do segundo semestre de 2020.
Trata-se da pesquisa “Tomorrow’s Consumer”, realizada pela Mosaiclab e pela Toluna em agosto de 2020 com 17 países. Em um recorte especial do Brasil destacado no gráfico a seguir, fica evidente que nos próximos dez anos os consumidores referem desejar:
- Aumentar a frequência em visitas a bares/restaurantes, seu consumo em delivery e a prática da alimentação saudável.
- Reduzir seu consumo em alimentação indulgente e bebidas alcoólicas.
Boas notícias para o setor se pensamos na recuperação a médio prazo. Porém, a curto prazo, somente se pudéssemos usufruir de benefícios como os do mercado americano, que aquecem a economia por lá nesse momento.
No Brasil, temos de lidar com a aridez do crescimento do desemprego e políticas econômicas fracas para a recuperação. Então, novamente a garra, a criatividade e a resiliência empresarial são fundamentais.
Mas o tema desse artigo não é somente sobre o contexto comercial. Quero desafiar a todos sobre a reflexão da qualidade da sua oferta ao consumidor e os impactos a curto, médio e longo prazo. Quando pensamos em saúde, devemos nos lembrar de que cerca de 20% da população brasileira está obesa (dados da Abeso). A questão não é estética. O fato é que a obesidade é a precursora de outras doenças crônico-degenerativas, como diabetes, hipertensão arterial, doenças coronarianas, entre outras.
Em uma situação de pandemia como a que vivemos, pessoas com essas e outras comorbidades estão correndo mais risco.
Assim, um movimento importante a ser liderado pelos negócios de alimentação fora do lar é o de protagonizar a transformação da sua oferta saudável em algo sexy, interessante e gostoso aos olhos e paladares dos seus clientes.
Se as pessoas vão cozinhar menos, nossa responsabilidade é ainda maior. Os aplicativos obrigam os consumidores a comprarem alimentos em um raio determinado devido ao tempo de entrega, o que é perfeitamente compreensível em termos de qualidade de serviço, mas restringe as escolhas. A escolha de bares e restaurantes também tem se baseado na vizinhança, o que novamente restringe o universo dos clientes.
Com esse cenário, os ciclos de renovação de cardápios devem ser mais curtos e frequentes para que os clientes identifiquem as novidades e possam ser mais bem atendidos. A cada novo ciclo, experimentações! Testar a redução ou modificação de ingredientes é sempre inteligente, bom para a gestão do negócio e ótimo para a saúde do cliente.
O consumidor busca comer alimentos que lhe tragam felicidade. Se a felicidade só incluir gordura, excesso de sódio e açúcar, isso não faz sentido para a longevidade do nosso compromisso em receber e satisfazer nossos clientes.
A escolhe é do cliente, mas a responsabilidade é nossa.
Cristina Souza é CEO da Gouvêa Foodservice
Imagem: Envato/Arte/Mercado&Consumo