É na confiança que mora o perigo

Dos fatores determinantes do consumo e do varejo que são renda, emprego, crédito e confiança do consumidor é esse último que apresenta o comportamento mais preocupante no momento e também determinante do clima cauteloso que se percebe no mercado.

O consumo das famílias, que representa perto de 60% do PIB, cresceu 2,2% no primeiro trimestre deste ano sobre o mesmo período do ano passado e sua fragilidade traz consigo a perspectiva de mais um ano de baixo crescimento da economia e influencia o desempenho do próximo ano.

O quadro geral deveria se mostrar mais positivo, pois a renda das famílias continua a evoluir, ainda que em níveis inferiores ao passado recente, e o emprego se mostra ainda bastante vigoroso, proporcionando aumento da massa salarial, complementados pelo manutenção do nível de oferta de crédito, com redução da inadimplência, segundo os dados do Banco Central  e uma relativa estabilidade do nível de endividamento das famílias em relação em relação à renda dos últimos 12 meses.

Porém o que assistimos é distinto do que sinalizam esses indicadores e quase que exclusivamente por conta do comportamento do Índice de Confiança dos Consumidores que atingiu em Maio o seu baixo nível desde o mesmo mês em 2009, ou seja, o menor nos últimos cinco anos.

Logo após o período mais dramático da crise internacional naquele ano de 2009, a Confiança dos Consumidores começava a reagir e atingiu seu pico em Abril de 2012 contribuindo para um comportamento positivo do consumo das famílias e do varejo, que teve naquele ano o seu maior crescimento nos anos recentes, 8,4%, na comparação com o ano anterior. Anteriormente o maior crescimento havia sido em 2010 com 10,9%.

O quadro atual de perda da Confiança do Consumidor tem muito a ver com os índices de inflação recentes, especialmente no item alimentação, que atinge diretamente os segmentos de menor poder aquisitivo que são obrigados a rever seu padrão de consumo, impondo restrições em relação àquilo que vinham comprando e impactando diretamente sua percepção da realidade e, principalmente, gerando preocupações com o futuro próximo.

Dos dois vetores que compõem a Confiança do Consumidor, o curto e o longo prazo, é a percepção das preocupações com o futuro, mais do que o presente, que mais estão impactando a queda da confiança.

Além do problema da inflação para os segmentos de menor poder aquisitivo, existe generalizadamente o sentimento de que as coisas estão saindo do controle, com os movimentos populares nas ruas, as greves, as manifestações eclodindo em todo o país, a sensação de insegurança e um clima de pessimismo que está contaminando o comportamento da população e do consumidor que, se imaginou, seria exatamente ao contrário às vésperas da Copa do Mundo.

Esse quadro geral contaminou também o empresariado dos diversos setores do país, trazendo consigo um certo clima de desânimo e cautela que refreia investimentos que poderiam gerar renda e emprego e, num momento seguinte, consumo e expansão de negócios.

As notícias e a  leitura diária das matérias divulgadas pelos diversos veículos de comunicação, convencional ou digital, conflitam com o clima de falsa euforia e ufanismo que a propaganda oficial e privada tentam criar.

O início da Copa em mais alguns dias e o desempenho da seleção brasileira poderão, momentaneamente, criar um comportamento menos racional e mais emotivo mas, passada a Copa e dependendo do que aconteça nos campos e fora dele, poderemos ter a retomada desse sentimento de inegável frustração, preocupação e cautela que deverão dar o tom até a eleição com inegáveis consequências no consumo e no comportamento do varejo ao longo do segundo semestre.

Toda cautela deve ser considerada.

 

Por Marcos Gouvêa de Souza (mgsouza@gsmd.com.br) diretor-geral da GS&MD – Gouvêa de Souza.

 

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