Jogai por nós

É mesmo uma prece. Quase uma súplica que nasce do sentimento que começamos a viver a partir da semana passada com o início da Copa no Brasil. Ainda que a transmissão da televisão possa mostrar de forma ampla e com muitos mais detalhes e riqueza de conteúdo o que acontece, somente o sentimento ao vivo transmite a essência da emoção. Aquela que aperta o coração e faz a voz tremer.

Quem estava no estádio não conseguiu enxergar o choro incontido de alguns jogadores brasileiros mas praticamente todos sentiram a emoção e a energia que estava no ar e poucos foram os que não cantaram mais alto, mesmo depois que os noventa segundos da introdução oficial ao hino terminou. E continuaram cantando alto e sonoro quase que pedindo aos jogadores perfilados: Jogai por nós.

Nos momentos em que antecederam aquele instante houve um crescente de emoção e convicção de que muito poderia ter sido diferente e melhor, mas também havia um sentimento forte de que, como Nação, temos no futebol uma das mais fortes alternativas de expressão e que valeria a pena relevar fatos para viver intensamente esse período.

Mas é preciso também registrar, e a televisão não pode ou não quis fazer, o grito de revolta, se referindo à presidenta, expresso de forma inadequada porém incontrolável, de que como está não pode ficar. E ignorar ou minimizar esse sentimento, ainda que expresso em São Paulo, um estado líder no plano econômico, por um público privilegiado e formador de opinião, pode ser um sério equívoco de interpretação.

Nas próximas semanas muito do que pode acontecer, dentro e fora dos estádios-arenas, poderá impactar o comportamento de curto, médio e longo prazo no Brasil.

Desde o extremo de decepções no futebol que extrapolem os gramados e se convertam em potencializadores de revoltas coletivas, até resultados extraordinários que criem uma cortina de fumaça e inibam a percepção do todo gerando, porém, um sentimento de orgulho e autoconfiança.

Seja quais forem os resultados entre esses dois extremos, o consumo, o varejo e a economia serão diretamente afetados.

No momento temos uma combinação preocupante de fatores envolvendo menor crescimento da renda, o início previsto das oscilações no nível de emprego, crédito disponível porém mais caro e mais seletivo e o menor nível de confiança do consumidor dos últimos cinco anos, o que é uma equação preocupante para o desempenho do consumo no segundo semestre do ano.

Como esses fatores reagirão ao que acontecerá nas próximas semanas e que se tornou o assunto prioritário e dominante no país no momento merece, mais do que atenção e preocupação, e justifica a súplica: Jogai por nós !

 

 Por Marcos Gouvêa de Souza (mgsouza@gsmd.com.br) diretor-geral da GS&MD – Gouvêa de Souza.

 

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