Tem mais um artigo do diretor-geral da GS&MD Gouvêa de Souza, Marcos Gouvêa de Souza, no portal da Revista Exame.com:
Enquanto na França taxistas inconformados param a cidade e destroem carros de operadores no Uber, nos Estados Unidos e também na Alemanha, a Ford, General Motors e BMW anunciam um programa de compartilhamento de veículos pelos quais proprietários de alguns modelos dessas marcas, através de aplicativos, poderão disponibilizá-los para uso de outros motoristas.
Tem tudo a ver com a Era do Compartilhamento que estamos vivendo. São mais manifestações de inconformismo de um lado e inovadoras iniciativas de outro, que emergem dessa nova realidade.
E o tempo já mostrou que é mais produtivo se aliar do que brigar contra realidades precipitadas pelo avanço da tecnologia.
Não é só na França que o Uber, parte desse novo desenho de mercado, causa distúrbios e incompreensão. Aqui no Brasil, em outros países europeus e nos Estados Unidos, o tema tem sido frequentemente debatido envolvendo desde aspectos tributários até garantia e reserva de mercado. Enquanto isso, numa inevitável evolução, variantes do Uber para passageiros avançam para o setor de cargas e a Amazon já ensaia programa que permitirá entregas de produtos por prestadores eventuais de serviços. Necessariamente deveríamos também considerar isso parte dessa Era do Compartilhamento.
Compartilhando Informação
As primeiras visões envolvendo essa emergente realidade diziam respeito à evolução da Sociedade da Informação para a do Compartilhamento, precipitada em particular pela difusão do acesso às redes sociais e à multiplicação das alternativas de conexão
instantânea, especialmente por conta do avanço da participação dos smartphones.
Os telefones inteligentes representaram 92,5 % de todos os aparelhos vendidos no Brasil no período de Janeiro a Abril deste ano, segundo dados do IDC, e contribuem para o redesenho desse cenário envolvendo consumidores e cidadãos e fazendo emergir novos hábitos, atitudes e comportamentos no mercado.
Nesse cenário o compartilhamento de informações, percepções e análises, ao mesmo tempo que criam uma nova realidade envolvendo comunicação interpessoal e amplia o conceito de que onde o ser é mais relevante do que o ter.
Como parte desse novo quadro, especialmente importante para o varejo, o mercado e o consumo, a aquisição de bens e produtos tenderá a ser parcialmente substituída pelo acesso e compartilhamento, substituindo aquisição, ou transação comercial de compra e venda, por prestação de serviços, locação, empréstimo ou permissão de uso.
Maturidade de Mercado
Como resultado visível desse processo transformador, economias, regiões e mercados mais maduros serão aqueles onde os serviços tenham participação crescente no seu PIB.
Em muitas áreas de atividades essa é uma realidade sem volta redesenhando ameaças e oportunidades.
Um dos setores onde esse processo é mais evidente é na alimentação, com o crescente aumento da alimentação fora do lar em relação ao total de gastos de alimentação que no Brasil evoluiu de 26,3% em 2004 para os atuais 36% e tudo indica continuará a crescer. Troca-se aquisição de alimentos por aumento do consumo de solução em alimentação.
Mais e mais alimentos são comprados prontos ou semi-prontos para serem consumidos ao invés de serem comprados para serem manipulados em casa, transformando radicalmente o negócio futuro de super, hipers e lojas de conveniência, mas alterando muitos outros setores, como as próprias drugstores na Europa e nos Estado Unidos.
Proximamente estaremos avaliando a maturidade de uma economia não apenas pela participação do segmento de serviços no PIB desses mercados mas também, e principalmente, por indicadores que possam medir o índice de compartilhamento no acesso a bens e serviços da população. É só uma questão de tempo.
(Exame)