Tecnologia no varejo é meio e não fim em si mesmo

Todo ano, durante e após o maior evento do varejo nos Estados Unidos, o NRF Retail’s Big Show, que acontece em Nova Iorque no começo de janeiro, somos obrigados a fazer o alerta: tecnologia no varejo é meio e não um fim em si mesmo.

Isso porque ocorre uma distorção na percepção de quem participa do evento, tal o protagonismo que a tecnologia assume em tudo que diga respeito ao negócio do varejo, pois sua massiva presença na feira, nas apresentações, nos debates e nas palestras principais.

A explicação é básica: são as empresas ligadas à tecnologia os maiores expositores e patrocinadores do evento. Daí porque tanto espaço e relevância para o tema.

Mas é inegável que a transformação recente do setor no mundo tem tudo a ver com a evolução combinada do consumidor e da tecnologia.

O processo de transferência de protagonismo no varejo, da localização do passado (as três coisas mais importantes do varejo: Localização, Localização, Localização), aos produtos, à experiência ou ao atual meta-empoderamento do omniconsumidor-cidadão, tudo está diretamente ligado à evolução da tecnologia e sua vertente digital dos dias atuais.

Há, sem dúvida, razões suficientes para tanta ênfase à tecnologia, como viabilizadora e agente transformador da realidade. E não só no varejo. Na economia, na sociedade e na realidade como um todo.

De diferentes formas e com diversas finalidades.

De suas contribuições iniciais como instrumento de controle e melhoria de eficiência e produtividade operacional, primórdios do uso da tecnologia, evoluímos rapidamente para seu uso como elemento de melhoria da experiência do consumidor e, mais recentemente, para sua utilização combinada para monitoramento e predição de comportamentos.

Porém, na realidade atual, tudo isso operado de forma integrada, combinada e ao mesmo tempo, ou seja, permite a melhoria da eficiência operacional junto com a experiência diferenciada do consumidor na loja e no digital e ainda contribui para a maximização do retorno financeiro ao aumentar a eficiência no uso dos recursos de toda natureza em toda a cadeia de valor. Não é pouca coisa.

Só não podemos nos envolver a ponto de maximizar a importância e acharmos que tudo se resume à tecnologia, especialmente quando tratamos do digital.

É claro que Amazon, Alibaba ou JD são negócios ou modelos, quando tratamos de varejo, que só existem porque criaram disrupção pela tecnologia e se diferenciam e crescem pelo que têm feito em termos de tecnologia. São os conceitos e negócios onde, de fato, a tecnologia é o fator fundamental, combinado com um modelo único e diferenciado, alinhado com tendências futuras irreversíveis. E por conta disso têm o valor de mercado que têm e crescem tanto.

E que os varejos nascidos físicos, Walmart, Target, Casino, Carrefour, Tesco e muitos outros, correm atrás de soluções e propostas que os tornem mais competitivos na nova realidade, antes que sejam tragados pelo buraco negro que já sugou Sears, JC Penney, Computer USA, Bloomingdales e muitas outras marcas, algumas das quais continuam vagando sem rumo no mercado.

Mas é preciso lembrar que outras como Costco, Aldi, Lidl, Uniqlo, Zara, Louis Vuitton, Gucci, e muitas outras, cada uma com sua proposta e em seu segmento, continuem crescendo, se reinventando e expandindo com modelos de negócios, nascidos tradicionais, e que têm a habilidade e competência para colocarem a tecnologia e o digital combinados com sua proposta e entregando, a seu modo, eficiência, experiência, valor, conveniência e retorno. Ou tudo isso junto e um pouco mais.

É inegável o papel fundamental, para não dizer, transcendental da tecnologia na reinvenção ou recriação do varejo.

E se houver dúvidas é só comparar a evolução do valor de mercado de empresas como Walmart, maior varejista do mundo, com Amazon e Alibaba. Fica líquido e certo no que o mundo financeiro, sempre um parâmetro fundamental de avaliação, está apostando para o futuro.

Mas para todos aqueles do varejo, nascido físico, a lógica é clara, a tecnologia é instrumento fundamental de melhoria e até mesmo sobrevivência do negócio, não importa o setor, alimentos, conveniência, foodservice, eletroeletrônicos, material de construção, combustíveis, veículos, moda, móveis, cosméticos e cuidados pessoais, luxo e todos os demais.

Mas o alerta também é claro: tecnologia não resolve problemas de modelo de negócio equivocado, estratégia inconsistente ou gestão incompetente. Não importa quão disruptiva possa ser.

Tecnologia é meio para potencializar negócios corretamente posicionados e estrategicamente orientados e não tábua de salvação para resgatar morto-vivo.

NOTA: Começando por São Paulo, no próximo dia 06/2 iniciamos o ciclo Retail Trends – Pós NRF 2020 que consolida as principais visões e os aprendizados envolvendo as visitas e debates aos conceitos mais inovadores e que sinalizam as principais tendências estratégicas no consumo e no varejo nos Estados Unidos. Consolida também os aprendizados vindos do Retail Executive Summit, evento que realizamos em Nova Iorque e que faz parte da NRF Retail Week.

Igualmente consolida o aprendizado das visitas à feira da NRF e apresenta, em caráter exclusivo os resultados de pesquisa envolvendo a utilização e os investimentos previstos para tecnologia por algumas das principais redes de varejo do Brasil. Outra pesquisa inédita vai avaliar o nível de conhecimento e pró-atividade de empresas ligadas ao consumo e ao varejo com relação às iminentes mudanças que envolvem todo o cenário financeiro do Brasil.

Além de contar com a presença de líderes dos setores de varejo e consumo avaliando as transformações em curso no mercado brasileiro. Os líderes debatem o presente e o futuro do mercado e do setor varejista num momento de profunda transição estrutural.

* Imagem reprodução

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