Prateleiras vazias e fios expostos em lojas acentuam imagem de ‘bagunça’ da Americanas

Para especialistas, se no passado essas características atraíam consumidores atrás de promoções, agora podem comprometer ainda mais

Americanas

O rombo financeiro da Americanas e o pedido de recuperação judicial ressaltaram uma polêmica já antiga envolvendo a imagem das lojas físicas da rede: a sensação de “decadência” das unidades. Prateleiras vazias, bagunça nos corredores e desabastecimento são alguns dos problemas narrados por usuários nas redes sociais.

Em unidades visitadas nesta semana pelo Estadão, foi possível encontrar, além da falta de produtos, lojas com paredes mofadas e até com a fiação no teto exposta. Para especialistas, se no passado essas características atraíam consumidores atrás de promoções, agora podem comprometer ainda mais a imagem da varejista no mercado. Questionada, a Americanas informou que “segue operando normalmente, mantendo seu propósito de entregar a melhor experiência”.

Ulysses Reis, especialista em varejo da Strong Business School (SBS), explica que sensação de “bagunça” citada por clientes pode estar ligada ao “planograma” da varejista, ou seja, à forma como a disposição dos produtos é feita na unidade. Ele conta que marcas que querem passar a impressão de “baratas” e “cheias de ofertas” costumam aderir a essa estratégia para atrair os clientes – que veriam essa “desorganização” como um sinal de promoções e queima de estoques. “Esse tipo de estratégia é muito comum em negócios como atacarejos populares ou pequenas lojas voltadas para o público C e D”, afirma.

O especialista da SBS diz acreditar que, diante das últimas notícias envolvendo as dificuldades financeiras da companhia, a falta de produtos nas gôndolas e buracos nas prateleiras seriam um claro indicativo de problemas de estoque.

“Eu mesmo visitei algumas unidades da Americanas para ver a situação e constatei falta de produtos nas gôndolas e poucos produtos expostos. Principalmente no caso de itens de maior valor agregado (como smartphones e outros eletrônicos)”, afirma Reis. “Nós também vemos que já existe uma falta de produtos de ‘giro elevado’ (com alta saída), o que já é um sinal de dificuldades de negociar com os fornecedores.”

Redes sociais

Para Lilian Carvalho, professora de marketing da FGV, a situação de “decadência” das lojas físicas da varejista já é algo cristalizado e antigo na companhia, o que pode, no curto prazo, atrapalhar ainda mais a imagem já delicada da companhia. “A Americanas era bem decadente há algum tempo. Não me parece que no caso deles seja uma estratégia deliberada, mas foi piorando com o passar do tempo”, diz.

Outro fator destacado por Lilian é o impacto dessa conversa em relação à decadência visual das lojas que chega às redes sociais. A professora da FGV lembra que, no passado recente, outros nomes do setor enfrentaram problemas contábeis, mas conseguiram manter a crise de imagem sob controle.

“O escândalo da Americanas rompeu a bolha do mercado financeiro e chegou ao consumidor final. Está todo mundo comentando”, afirma. “Antes, as empresas entravam em recuperação judicial e ficavam restritas aos jornais especializados. Hoje, com as rede sociais, a decadência das Americanas se transformou em um viral.”

Com informações de Estadão Conteúdo: (Wesley Gonsalves)

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