Henrique Meirelles analisa o impacto global da China e alerta para desafios fiscais no Brasil

Ex-ministro da Fazenda destacou o superávit comercial chinês, pressões inflacionárias nos EUA e os avanços econômicos brasileiros durante o Retail Trends Pós-NRF 2025

Henrique Meirelles, ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central, compartilhou sua visão sobre o panorama econômico mundial e brasileiro durante o Retail Trends Pós-NRF 2025, que acontece hoje, 28, no Teatro Bradesco, em São Paulo. O evento reuniu executivos e especialistas para discutir aprendizados observados na NRF Retail’s Big Show, maior evento de varejo do mundo.

Meirelles começou analisando o contexto global, destacando a força produtiva da China, que registrou um superávit comercial de US$ 900 bilhões em 2024, apesar das dificuldades no setor imobiliário. “A China está afetando diversos mercados com seu modelo de produção intensivo e trabalho duro. Isso impacta economias como a Alemanha e os Estados Unidos, que, por sua vez, enfrentam desafios na indústria tradicional e nas tecnologias, agora ameaçadas pela ascensão de empresas como a DeepSeek”, apontou.

Ao abordar os Estados Unidos, Meirelles alertou sobre possíveis pressões inflacionárias decorrentes de políticas protecionistas e restrições à entrada de imigrantes. “A falta de mão de obra já afeta setores essenciais, como o de transporte, e pode gerar aumento de custos e elevação das taxas de juros. Isso, por sua vez, atrai investimentos financeiros para os EUA e tem reflexos globais”, afirmou.

No Brasil, Meirelles destacou avanços significativos em produtividade, atribuídos a reformas estruturais implementadas no passado, como a trabalhista e a criação do cadastro positivo, que possibilitou a evolução para o Open Finance e a introdução do Pix. “O Pix é um exemplo notável de inclusão financeira e eficiência. Em 2023, cerca de 100 milhões de brasileiros usaram a ferramenta, com 80% das transações abaixo de R$ 40, beneficiando a população de baixa renda”, disse.

Contudo, o economista alertou para os riscos fiscais. “O Brasil tem crescido acima das expectativas, mas a expansão fiscal e a alta carga tributária limitam a capacidade de arrecadação. A preocupação maior está na evolução da dívida pública, que, segundo o FMI, pode atingir 90% do PIB. Isso pode levar a uma crise se os investidores demandarem retornos maiores em títulos públicos”, analisou.

Meirelles reforçou a importância de uma reforma administrativa para equilibrar as contas públicas, citando como exemplo a experiência em São Paulo, que gerou um saldo de R$ 53 bilhões. “O Brasil tem reservas internacionais robustas, o que evita crises cambiais e dá fôlego à economia. No entanto, precisamos agir para reduzir o déficit público e garantir a sustentabilidade de longo prazo”, concluiu.

Meirelles

Abertura

O diretor-geral da Gouvêa Ecosystem, Marcos Gouvêa, deu inicio ao evento destacando a profunda transformação do varejo global, marcada pela integração de canais, novas tecnologias e pela ascensão da inteligência artificial (IA). Em sua palestra, Gouvêa ressaltou a importância de observar tendências além do Ocidente, com foco especial na Ásia, região que tem acelerado mudanças e impulsionado inovações no mercado global.

“É preciso abrir horizontes. A Ásia tem provocado uma aceleração do mundo ocidental para acompanhar as transformações que estão acontecendo”, afirmou. Ele também enfatizou o conceito de Omni POS, uma evolução do ponto de venda tradicional para uma plataforma integrada de soluções, onde produtos e serviços coexistem para atender um consumidor cada vez mais empoderado e orientado pelo valor.

Durante a apresentação, Gouvêa destacou como a combinação de conveniência, valor e experiência se tornou central para o chamado omniconsumidor. Segundo ele, o avanço do e-commerce e da IA gerou um consumidor mais exigente e informado, redefinindo a equação de valor. “A orientação para valor não é exclusiva de classes emergentes. Mesmo consumidores mais afluentes têm demonstrado maior sensibilidade ao custo-benefício”, explicou.

Outro ponto abordado foi o impacto da IA no relacionamento entre empresas e consumidores. Gouvêa destacou que a tecnologia não apenas empodera o consumidor, mas também força empresas a inovar e reduzir a distância com o cliente final. Ele citou exemplos como Magalu, Mercado Livre e Boticário, que estão se transformando em plataformas de soluções integradas.

O executivo também alertou para o cenário de incertezas no plano político, econômico e social, que demandam flexibilidade e adaptação das empresas. Ele concluiu reforçando a importância de compreender e antecipar as mudanças do mercado, promovendo integração e inovação em todos os pontos de contato com o consumidor.

Imagem: Divulgação

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