A indústria química brasileira atingiu o menor nível de capacidade instalada da história no ano de 2023, de 64%. O valor é seis pontos porcentuais abaixo do registrado no ano anterior, segundo os dados consolidados do relatório de acompanhamento conjuntural (RAC) feito pela Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), entidade que representa o setor.
Se considerado apenas o mês de dezembro de 2023, o nível de capacidade instalada alcançou patamares ainda menores, em 60% do nível de utilização, o que representa uma queda de nove pontos porcentuais na comparação com o mesmo mês em 2022, e estável ante novembro.
A Abiquim aponta ainda que a produção em 2023 registrou queda de 10,1% ante o ano anterior, enquanto as vendas internas recuaram 9,4% e as exportações retraíram 10,9% no mesmo intervalo de comparação. As importações de produtos químicos, por sua vez, cresceram 7,8%, em meio a uma concorrência intensa dos produtos nacionais ante os de origem asiática, principalmente oriundos da China.
O Consumo Aparente Nacional (CAN) registrou queda de 1,5% em 2023 ante o ano anterior, o que representa a segunda queda consecutiva para o indicador, conforme apontou a diretora de economia e estatística da Abiquim, Fátima Giovanna Coviello Ferreira, que relembrou que em 2022 a demanda já havia recuado 5,8%.
“O setor não consegue competir com a agressividade do importado, tampouco buscar alternativas no mercado externo”, afirmou Fátima, que acrescentou o fato de que a indústria química nacional vem perdendo competitividade de forma estrutural desde 2007, último ano em que houve o registro de um padrão considerado normal para o setor.
“De lá para cá, vem se acentuando ano a ano a perda de competitividade no Brasil, com importações crescentes e que ocupam espaço cada vez maior em relação ao atendimento da demanda local. Todos os grupos de produtos pesquisados na amostra do RAC, sem exceção, apresentaram aumento no nível de ociosidade. Por outro lado, apesar da criticidade do momento, todos os grupos de produtos analisados possuem espaço para elevar a produção no curto prazo”, afirmou Coviello.
Entre janeiro e dezembro de 2023, o segmento de produtos químicos de uso industrial registrou deflação de 12,7%. Segundo a Abiquim, o fenômeno é reflexo, basicamente, do comportamento do mercado internacional, visto que os preços no mercado nacional refletem o ambiente externo.
O economista Paulo Gala, da Fundação Getulio Vargas, afirmou que o cenário do setor químico – representado por forte queda em vendas, produção, exportação e deflação – é profundamente preocupante, visto que o ano de 2023 foi um período em que a economia brasileira apresentou um crescimento de 3%. Em contrapartida, a indústria química apresentou uma contração de 10%. “Isso mostra claramente um grave processo de desindustrialização da economia nacional”, afirmou.
Paulo Gala acrescenta que setores mais sofisticados do ponto de vista tecnológico e que possuem salários mais elevados têm perdido espaço no Produto Interno Bruto (PIB), o que contrasta com o crescimento registrado no ano passado pela economia, impulsionado principalmente pelo setor de serviços, que possui menor nível de complexidade.
“Esse resultado é consequência da concorrência desafiadora de produtos asiáticos, com destaque para os chineses. A presença desses produtos no mercado brasileiro, muitas vezes resultante de práticas como dumping ambiental e subsídios públicos, dificulta consideravelmente a competição para a produção doméstica brasileira”, disse Gala.
O economista apontou que, diante do quadro, há forte necessidade de uma ação do governo para proteger e fortalecer a indústria química. A Abiquim endossa o posicionamento colocado por Paulo Gala e reconhece a importância de iniciativas como a nova política industrial, bem como o programa Gás para Empregar, que devem melhorar questões estruturais do País, na visão da entidade.
Contudo, a Abiquim defende a adoção de uma ação emergencial, como a implementação da lista transitória de elevação das alíquotas de importação, defendida pela Abiquim, para que se tenha tempo de produzir efeito nas agendas estruturais.
“A manutenção do quadro internacional atual, associado à elevada ociosidade e às crescentes importações, pode comprometer o parque instalado, trazendo consequências desastrosas ao País, que podem resultar em desativação de unidades, perdas de postos de trabalho e menor arrecadação de impostos pelo setor químico, que é atualmente o primeiro no pagamento de tributos federais”, afirmou Fátima Coviello, da Abiquim.
Segundo a representante da Abiquim, o governo perdeu quase R$ 8 bilhões em arrecadação de impostos federais por conta da queda da produção de químicos registrada em 2023.
Com informações de Estadão Conteúdo (Jorge Barbosa)
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