Estamos todos assistindo atônitos o desenrolar de um filme de horror que, se tudo correr bem, poderá ter um final mais feliz.
Especialmente por pressão da sociedade, quase tudo tem conspirado a favor de um desenlace dramático, onde o estupor atual pode terminar com a condenação de corruptos e corruptores que tanto dano causaram ao Brasil.
Mas a única forma para termos esse final mais feliz é nos mantermos alertas evitando que conchavos e artimanhas criem situações onde a punição exemplar possa ser substituída por penas alternativas ou mais singelas. Esse é o dever maior de todos nós neste momento.
E esse artigo é só mais uma contribuição na tomada de consciência e na manifestação de intransigência que deve ser de todos aqueles que têm algum compromisso com um país mais ético e justo.
Neste momento, vale lembrar a inflação da corrupção, aquela que foi gerada por desvio de recursos ou elevação dos custos das obras – as mais diversas –, para irrigar contas partidárias ou pessoais de políticos, funcionários e dirigentes corruptos.
Os números são – e continuarão a ser –, imprecisos e, provavelmente, nunca se chegará ao real valor do que foi desviado, em escala crescente, nos anos mais recentes. Só de uma das mais importantes construtoras, eles próprios admitem algo próximo a US$ 5 bilhões. Corrupção classe mundial!
Quando, em recente viagem à Europa, comentávamos sobre esse número, a reação era de absoluta incredulidade pelo valor do mesmo e como se permitiu chegar a esse ponto num país socialmente carente e injusto. Para não falar como se aceitou chegar a esse ponto com o conluio das elites mais esclarecidas, institucional e sociologicamente falando.
Se imaginarmos que, de quase tudo o que foi contratado nos anos recentes nas diversas esferas de governo no Brasil, uma parcela, seja ela qual seja, foi inflacionada para irrigar a corrupção, temos um indicador mais preciso do tamanho da inflação da corrupção no país.
Valores de dezenas de bilhões de reais que foram desviados da Educação, da Saúde e da Segurança, atividades fundamentais dos governos, para serem destinados a partidos, dirigentes, funcionários e políticos, esterilizando recursos que deveriam ser usados para melhoria das condições gerais da população.
E que obrigava sucessivas manobras na tentativa de arrecadar mais pelos entes estatais para compensar as perdas havidas pela corrupção.
E vivemos nessa espiral descontrolada de ineficiência, corrupção e desatino institucional obrigando, especialmente o setor privado ético nacional, a desdobrar-se para competir num cenário global cada vez mais complexo. E carregando o peso de um Estado em quase todas as suas esferas, que onerava a competitividade, reduzia empregos e ainda gerava perda de receita líquida.
Tudo isso se tornou um peso insuportável!
E é disso agora que podemos nos livrar, totalmente ou, pelo menos, parcialmente, se quisermos ser hiperrealistas.
Só não podemos nos conformar com mais conchavos e protelações.
O ônus da inflação da corrupção é por demais pesado para aceitarmos meias soluções.
Quem tenha um mínimo de consciência e discernimento deve se tornar defensor intransigente de um processo radical e estrutural de transformação do país para que possamos voltar a sonhar com uma sociedade mais ética, justa e competitiva globalmente.
É o mínimo que podemos deixar como legado depois de termos compactuado, direta ou indiretamente, com o que se fez com o Brasil.
Tempo de resgate.