A consolidação nos shopping centers já começou

A consolidação nos shopping centers já começou

Na semana passada, a brMalls aceitou analisar uma nova proposta da Aliansce Sonae, que tenta promover a união entre essas superpoderosas companhias de shopping centers. Não há como garantir que a iniciativa será bem-sucedida. Porém, independentemente do desfecho, essa movimentação sinaliza que a consolidação de mercado entre os shoppings deve ganhar mais velocidade.

Aliás, olhando com atenção, dá para notar que a consolidação já está avançando, a todo vapor, sem que muita gente se desse conta disso. Sabe onde? Entre os shoppings independentes. Para se ter uma ideia, apenas quatro redes especializadas na administração de empreendimentos de terceiros, AD Shopping, Lumine, Argo e Soul Malls, hoje gerenciam ao todo 88 centros comerciais, o que representa algo em torno de 14% dos shoppings filiados à Abrasce – Associação Brasileira de Shopping Centers.

O crescimento das gestoras de shoppings de terceiros representa de fato uma consolidação do setor. A AD Shopping, que ano passado completou 30 anos de atuação no País, é na prática a maior administradora brasileira, com 40 shoppings sob sua responsabilidade. Para efeito de comparação, o portfólio resultante de uma eventual fusão entre Aliansce Sonae e brMalls somaria 61 empreendimentos. A AD sozinha já administra dois terços desse total.

Os shoppings independentes sempre foram muito relevantes no País. Muitos são líderes nos mercados onde atuam. Mas os ventos mudaram rápido e a gestão de centros comerciais tornou-se mais complexa por conta das transformações que afetam o setor. Cresceu a pressão por redução de custos, aumentaram as dificuldades para a área de comercialização, a cobrança por maior efetividade nas ações de marketing ficou mais intensa. Isso sem falar na necessidade de investir em novos projetos, como base de dados de clientes, iniciativas relacionadas com omnicanalidade e apoio aos lojistas locais. Quando tudo isso é colocado na balança, muitos empreendedores acabam achando melhor negócio terceirizar a gestão, para preservar as receitas.

Luana Bomfim, sócia-diretora da Argo, é uma das que acreditam que o cenário desafiador e competitivo tem levado mais empreendedores a buscar administradoras especializadas, para garantir melhores resultados. “Ineficiências condominiais, que em momentos de mercado favorável passariam despercebidas, hoje podem representar a diferença entre ter um condomínio deficitário, com altos aportes dos empreendedores, e um condomínio com operação e custos ajustados à demanda do empreendimento, gerando um fluxo de caixa mais saudável”, explica ela.

Para Claudio Sallum, sócio da Lumine, mais importante do que a economia nos custos, gerada pelas sinergias na gestão patrimonial de diversos empreendimentos, é entregar resultados na comercialização. “Os empreendedores entendem que podemos trazer melhores locações. Em função da capilaridade dos shoppings que administramos, pelo relacionamento que desenvolvemos com os lojistas e pelo benchmark proporcionado pelas informações que coletamos. Isso tem sido decisivo na escolha por uma administradora terceirizada.”

Nem tudo são flores, é claro. Cada shopping administrado conta com uma estrutura societária diferente. Por isso, as vantagens em fazer parte de uma rede de shoppings independentes concentram-se principalmente em economias operacionais, ganhos comerciais e estrutura de gestão mais robusta. Projetos relacionados com a evolução do modelo de negócio são mais complicados de serem implantados. Isso acontece tanto pela dificuldade no rateio dos investimentos quanto pela falta de uma visão compartilhada de futuro entre os diversos acionistas.

Consolidação de mercado não é um fenômeno novo, mas está ganhando mais força por aqui. Em setores como o da educação e o da saúde, esse é um processo em franca expansão, o que tem dificultado a vida de operadores de menor porte. A construção de Ecossistemas de Negócios por empresas como Magalu, Via, Arezzo e Renner pode elevar a concentração também no varejo, prejudicando a competitividade de varejistas menos estruturados. Portanto, não será surpresa se algo parecido acontecer com os shoppings, em um curto espaço de tempo. Quem viver, verá.

Luiz Alberto Marinho é sócio-diretor da Gouvêa Malls.
Imagem: Shutterstock

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