O quadro atual é resultado da combinação perversa de um poder executivo fragilizado, um legislativo inconsequente e um judiciário empoderado, mas desalinhado.
As consequências são o país paralisado, a população desassistida, os consumidores desabastecidos e as lideranças empresariais atônitas.
E o que mais preocupa é que as próximas eleições, ou as seguintes, ou as posteriores, não irão mudar essa situação, pois o quadro atual é resultado de uma deterioração estrutural que avançou e se torna agora avassaladora em suas consequências.
A imprevidência no trato dos grandes temas nacionais, o curto-prazismo dominante na condução dos assuntos estratégicos, a corrupção e compadrio, o clima deteriorado, porque leviano, de relacionamento entre poderes, contribuíram para que chegássemos ao ponto atual, onde domina o permanente sobressalto e a dificuldade de pensar e planejar o futuro.
Permanecemos, portanto, sujeitos à espiral viciosa de deterioração do cenário sócio-político que interfere de forma contundente no quadro econômico, inibindo o crescimento, a melhoria do emprego, da renda e da confiança de consumidores e empresários.
Na reconstrução do Japão, após a Segunda Guerra Mundial, os empresários dos mais diversos setores avocaram para si parte da responsabilidade e criaram o Keidanren, órgão máximo de organização empresarial, para atuar junto aos outros poderes constituídos. E seu papel foi decisivo nesse processo e essa organização permanece até hoje alinhada em seus propósitos de contribuir para o crescimento do país.
O que temos hoje vivido no Brasil tem o impacto de uma guerra, porém com outros tipos de danos.
Talvez fosse o momento oportuno para que pensássemos que outra estrutura poderia viabilizar a recuperação do que tem sido sistematicamente destruído nesses últimos anos.
Uma estrutura que combinasse de forma competente e comprometida com o longo prazo, as incríveis potencialidades naturais e aquelas desenvolvidas no Brasil melhorando resultados no curto, médio e longo prazo.
Um Quarto Poder, formado pelas lideranças empresariais, supra setorial e supra regional, para atuar no reequilíbrio de forças e na agregação de visão e competência, para transformar estruturalmente o país.
Tão simples de enunciar, tão complexo de viabilizar.
Mas a crescente deterioração do quadro atual e, pior, a falta de perspectiva de transformação estrutural à frente deveriam nos estimular a pensar diferente e de maneira ambiciosa. Sem minimizar as dificuldades de sua implantação.
Muitos anos de um modelo associativista de entidades sem muita representatividade, ou de representatividade relevante apenas setorial ou regional, criaram uma indesejável pulverização da representação empresarial que se tornou, ao longo do tempo, passiva, acomodadada, leniente ou focada apenas nas questões de curto prazo em seu âmbito de atuação.
Mas, de forma muito diferente, seus líderes, enquanto empresários, desenvolveram e praticam a visão estratégica, a economia permanente de custos, a busca da racionalidade, a permanente preocupação com a produtividade, a governança apoiada nas melhores práticas.
Permanentemente avaliados e julgados por consumidores mais empoderados, pesquisam, estudam e implantam ações que permitam o desenvolvimento de seus negócios.
Não é exatamente isso que precisamos como país, apenas substituindo consumidores por cidadãos?
No cenário atual, a coisa pública, com raras e honrosas exceções, e, especialmente, no âmbito federal, está acéfala e corrompida em seus valores, estruturas e organização. E não será uma próxima eleição que irá alterar esse cenário. Nem as seguintes.
Um caminho seria atuar de forma decisiva para a criação desse Quarto Poder, formado pelo integração organizada do setor empresarial, similar ao Keidanren, no Japão, para buscar, de forma estrutural, alternativas orientadas pela visão estratégica e pela busca da eficiência na questão das coisas públicas.
Que o caos do atual momento ao menos nos estimule a pensamentos mais ambiciosos e estruturais para nossos problemas. Exatamente como faríamos em nossas empresas.
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