Navegando pelas incertezas tarifárias: estratégias para o varejo em tempos de instabilidade

Navegando pelas incertezas tarifárias: estratégias para o varejo em tempos de instabilidade

Medidas econômicas recentes impactaram o mercado e as relações comerciais internacionais. A introdução de sobretaxas sobre produtos importados, incluindo itens de origem brasileira, intensificou a incerteza para exportadores e afetou diretamente setores estratégicos. No Brasil, o varejo desponta entre os mais impactados, dada sua forte dependência de cadeias de suprimento globais — extremamente sensíveis a oscilações cambiais, entraves logísticos e variações tributárias.

De acordo com a Fitch Ratings (2025), o setor vem operando com margens mais apertadas em um cenário macroeconômico desafiador, marcado por juros elevados, inflação persistente e endividamento crescente das famílias. Somam-se a isso a desaceleração econômica global e a instabilidade nas políticas comerciais, que têm forçado empresas brasileiras a repensar suas estratégias operacionais para manter competitividade e resiliência.

Especialistas alertam que o maior impacto dessas medidas está na instabilidade: inflação nos EUA, possibilidade de aumento de juros e retração nos investimentos formam um cenário volátil que exige resiliência e agilidade. Para o varejo brasileiro, isso se traduz em margens pressionadas, demanda imprevisível e estoques desbalanceados.

Nesse contexto, a gestão inteligente de estoques torna-se uma alavanca estratégica — e a Inteligência Artificial (IA) deixa de ser um “brinquedo impressionante” para se tornar uma solução real e transformadora. Sistemas baseados em IA já permitem que o varejo sincronize planejamento e execução de forma quase imediata, respondendo às mudanças do mercado em ciclos de horas ou dias, e não mais semanas ou meses. É a garantia de alocação eficiente dos produtos certos, no lugar certo, no tempo certo e nos volumes necessários.

Mais do que prever vendas futuras, essas soluções analisam padrões comportamentais, como tendências de consumo locais, e ajustam automaticamente a distribuição de produtos em tempo real. Isso possibilita não só reduzir rupturas e excessos de estoque, mas também aumentar a margem bruta por loja e garantir uma experiência de compra mais satisfatória para o consumidor.

Um dos diferenciais desse tipo de tecnologia é sua capacidade de combinar múltiplas fontes de dados — históricos, em tempo real e contextuais — para sugerir ações práticas e imediatas. Seja reequilibrando sortimentos entre lojas, otimizando o reabastecimento ou sugerindo intervenções promocionais com base no giro de estoque, essas soluções colocam a IA a serviço da execução, e não apenas da análise.

Esse novo modelo operacional permite que o varejo atue com proatividade em um ambiente de incerteza. Em vez de reagir tardiamente às mudanças nas tarifas ou às condições de mercado, os varejistas passam a tomar decisões com base em insights acionáveis e atualizados, mantendo a competitividade mesmo diante de cenários adversos.

A nova onda de protecionismo global reforça uma velha lição: o mundo muda rápido demais para que o varejo dependa de planejamentos estáticos. A Inteligência Artificial aplicada com foco estratégico, especialmente na gestão de estoques e na operação em tempo real, oferece ao setor uma maneira concreta de transformar a volatilidade em vantagem competitiva. Não se trata apenas de resistir à crise, mas de evoluir por meio dela.

Renato Mussacredi é diretor de Vendas e Marketing da Onebeat.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
Imagem: Agência Brasil

Sair da versão mobile