Sua empresa está preparada para contratar pessoas de comunidades periféricas?

Começo com essa provocação falando da contratação de pessoas de comunidades periféricas no título, pois participei de um jantar, promovido pelo Emprega Comunidades, mais conhecido como “LinkedIn das Favelas”, um projeto desenvolvido dentro do G10 Favelas.

Estiveram presentes vários empresários, CEOs e diretores de empresas para conhecer o projeto. Só para vocês terem uma ideia, os cadastrados pelo Emprega Comunidades passam por uma capacitação, aprendem a fazer o currículo. Dos 10 mil cadastrados, 3.700 foram empregados entre 2017 até o primeiro semestre de 2024. No ano passado 174 foram empregados em 2023. Eu tenho certeza de que esse número pode crescer.

De um lado, temos o varejo precisando de mão-de-obra, do outro, pessoas que procuram emprego. Fico me perguntando se temos ambientes preparados e menos preconceituosos dentro do mundo corporativo. Isso porque a fundadora do projeto comentou durante o evento que várias pessoas colocavam o bairro do Morumbi (um bairro de classe alta) no currículo ao invés de Paraisópolis (a segunda maior comunidade periférica de São Paulo). Um bairro fica ao lado do outro. Faziam isso, pois não eram chamados para entrevistas. No entanto, hoje são encorajados a colocar onde realmente moram.

Se o pessoal tem coragem de assumir que mora na favela, o que os RHs, diretores e CEOs têm feito para promover transformações e contratar pessoas da comunidade periférica? Há essa conscientização? Há acolhimento?

Para vocês terem ideia, a favela é uma potência! Estudo realizado pela Shopper Experience com o Novo Outdoor Social (NOS), durante o ano de 2023, o potencial de consumo anual das pessoas da comunidade é de R$ 167 bi. Outro dado interessante é que 60% dos empreendedores da favela são mulheres, que partem para serem donas do próprio negócio por necessidade e por não terem rede de apoio. Elas também precisam de auxílio, pois pouco mais de um terço dos negócios têm CNPJ.

Dá trabalho? Pensando em curto prazo, pode ser! Mas assim como muitos países asiáticos, o plano é de longo prazo, sempre pensando em grandes transformações. Sabemos que precisamos melhorar todo o sistema educacional e possibilitar ainda mais acesso e qualidade de ensino. De acordo com o estudo, somente 7% das pessoas da favela tem ensino superior completo e 69% da população é preta ou parda. Contudo, dá para esperar ou sempre teremos uma desculpa para promover mudanças? É necessário sair da zona de conforto.

Dentro do Instituto Mulheres do Varejo, o qual eu presido, iremos mentorar mulheres do Emprega Comunidades que queiram atuar no varejo. É uma forma de mostrar perspectivas para esse público e conscientizar empresas de que existem pessoas preparadas e que podem ser desenvolvidas. Rejane Santos, fundadora do projeto, afirma que as empresas contratam consultorias enormes para acessar as pessoas da comunidade e fazem de forma não adequada, pois não vivem o ambiente de perto. Por isso, o “LinkedIn das Favelas” é importante e cresce a cada ano.

E para demonstrar todo o trabalho, vamos fazer visitas com empresas interessadas, até o G10, em Paraisópolis, para que nossa mente preconceituosa veja como eles são incrivelmente organizados.

Fiz essa provocação no jantar e faço para você que lê este artigo: que tal conhecer o projeto, começar a contratar pessoas da comunidade periférica e preparar seu ambiente para acolhê-las? O primeiro passo pode fazer grandes e importantes mudanças em seus negócios e um aprendizado e engajamento ainda maior entre seus colaboradores. A diversidade é extremamente necessária, pois cada um de nós pode elevar nossas consciências para outro patamar. Aja agora!

Sandra Takata é presidente do Instituto Mulheres do Varejo.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.

Imagens: Shutterstock e Reprodução

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