Com uma história marcada pela imagem de “sapato da vovó”, a Usaflex, fabricante gaúcha de calçados confortáveis, acredita que esse retrato já é coisa do passado. Passando por uma fase de reformulação de negócios desde que mudou de dono, há cinco anos, a empresa começa a rejuvenescer sua clientela com um processo de transformação digital iniciado este ano e que deverá consumir R$ 100 milhões até 2025. O dinheiro poderá ser usado, em parte, para uma aquisição voltada ao mundo online.
Apesar de a estratégia ainda estar no início, os resultados já começam a aparecer. Até pouco tempo atrás , 70% das vendas vinham de mulheres acima de 40 anos – número que agora é de 55%. No digital, diz o presidente da empresa, Sergio Bocayuva, 60% das vendas se concentram em mulheres de 25 a 45 anos. A estratégia de migração para a internet é ousada. A meta é passar de 5,8% de vendas pela web, em 2020, para 27,8%, em 2025.
Reflexo da pandemia de covid-19, a aposta da Usaflex no digital motivou a contratação do executivo Lucas Neves, ex-Lojas Renner. “No futuro IPO (oferta inicial de ações), uma das perguntas que os potenciais investidores tendem a fazer é sobre como está a venda no digital”, diz Neves, que adianta que a marca estará mais forte, em breve, nos marketplaces. Hoje, já é possível encontrá-la nas plataformas de C&A, Renner e Mercado Livre, por exemplo.
No início dessa jornada rumo ao mundo online, 54 lojas da Usaflex, de 270, já estão plugadas ao canal digital. Esse número subirá a 100, em outubro, e a 178, em novembro. Em paralelo, o número de lojas físicas também vai crescer: a previsão é de que chegue a uma faixa entre 430 a 515 também em 2025.
Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), Eduardo Terra, a referência no setor de calçados, quando o assunto é digitalização, é a Arezzo. Por lá, a fatia do online já chega em 25%. “A Arezzo evidencia o potencial que a Usaflex tem de crescimento no digital”, comenta.
Vitrine com visual jovial
O processo de rejuvenescimento da clientela tem tido outro empurrão. Ao ampliar a abertura de franquias, a empresa passou a decidir o que seria exposto nas vitrines. Saíram os sapatos funcionais, e entraram calçados de visual mais jovial. Como resultado, a marca conseguiu dar mais visibilidade à sua grade, de cerca de 350 modelos.
Sócio da Varese Retal, Alberto Serrentino observa que todo o mercado do “comfort shoes” (sapato confortável) vive o desafio de acabar com a associação de se destinar apenas ao público de terceira idade. “A moda está ficando mais confortável. As mulheres mais jovens também não querem escolher entre um produto de moda e um produto confortável.”
Estreia na Bolsa
O presidente da Usaflex diz que, apesar de a ida à B3 fazer sentido para o negócio, a ideia é de que isso ocorra somente após a virada digital. O planejamento estratégico inclui um faturamento de R$ 1 bilhão em 2023 – mais do que o dobro dos R$ 390 milhões anotados em 2019. Além de vender no mercado interno, a empresa exporta para 53 países.
Bocayuva assumiu o comando da companhia em 2016, quando comprou uma fatia de 70% da Usaflex com o fundo de private equity (que compra participação em empresas) Axxon. A “dobradinha” foi um repeteco após o investimento conjunto na varejista de produtos saudáveis Mundo Verde, vendida em 2014 ao empresário Carlos Wizard.
No mercado brasileiro, a principal concorrente direta da Usaflex é a Piccadilly, também focada no sapato confortável. No entanto, outras gigantes do setor passaram a olhar o mercado ao qual a companhia é associada. Entre elas estão a Arezzo e a Beira Rio, que também lançaram linhas com o mesmo apelo – Alma e Modare, respectivamente.
Com informações de Estadão Conteúdo
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