Nos últimos anos, os varejistas tiveram que se adaptar a um modelo de vendas 100% online e, depois, a investir num atendimento personalizado e multicanal para atender a transformação dos hábitos do consumidor. Mas qual o caminho a seguir nos próximos anos? Conhecido como guru das “megatendências”, o especialista em inovação e fundador da Non-Obvious Agency, Rohit Bhargava apontou 5 tendências para o varejo nos próximos anos em entrevista à Mercado&Consumo.
“A primeira é o que chamo de human mode. Trata-se de uma tendência que diz que quanto mais tecnologia houver no mundo, mais precisamos de conexão humana e de experiências autênticas de compras. São essas experiências que levam à lealdade dos consumidores”, diz.
A outra tendência é a flex commerce, que é a ideia de que o varejo pode tirar lições de outras indústrias. Ou seja, as fronteiras que costumavam existir entre serviços financeiros, de viagens, de saúde ou de varejo estão sumindo. E assim é possível pegar ideias de uma indústria e usá-las em outra.
“Hoje os consumidores compram no varejo usando serviços bancários. O mesmo ocorre com a aquisição de cuidados de saúde. Então, minha sugestão é para as pessoas deixarem de olhar apenas para o setor em que atuam e passarem a observar outros mercados. Vá para um evento que é para outra indústria. Leia uma publicação que não é para sua indústria. Isso amplia suas perspectivas e sua mentalidade”, afirma.
A terceira é a identidade ampliada. Com as pessoas vivendo cada vez mais de forma digital, mostrando suas características de formas diferentes em cada uma das plataformas. “Com isso, as identidades são amplificadas. Isso cria mais oportunidades para as empresas de varejo nos alcançarem, se elas entenderem isso”, afirma Bhargava.
O varejo sem gênero também deve se acentuar nos próximos anos, segundo Bhargava. “Produtos e serviços que eram destinados a gêneros específicos, hoje são para todo mundo. Isso abarca desde passaportes, onde as pessoas podem declarar um terceiro gênero, até produtos que tinham a questão de gênero vinculada a eles sem necessidade real, como roupa íntima, por exemplo. Ninguém precisa de uma calcinha masculina ou feminina. As pessoas simplesmente compram calcinhas”, explica.
A quinta tendência destaca Bhargava são as tecnologias protetivas, que contemplam desde os alertas de gastos fora do padrão feitos por operadoras de cartão de crédito a outras tecnologias destinadas a nos proteger.
Segundo Bhargava, as mudanças de comportamento trazidas pela pandemia, com o trabalho remoto e o estudo a distância, continuarão impactando as empresas. Hoje as pessoas não querem trabalhar em casa nem nos escritórios 100% do tempo. Na faculdade, principalmente, o modelo híbrido de estudos é muito forte, mesmo com a possibilidade de ensino 100% presencial.
“As pessoas estão querendo controlar mais suas rotinas, fazer coisas diferentes em dias diferentes. Quando pensamos nos consumidores, quanto mais controle eles tiverem, mais eles vão demandar e maior será sua expectativa em relação a produtos e serviços”, diz.
Tendências imediatas
O guru das tendências esteve, na última semana, no Brasil no evento HSM+, evento de inovação e gestão. Em sua palestra, Bhargava trouxe 6 tendências imediatas para o mundo dos negócios em 2023.
Ele prevê que colocar as pessoas no centro é a primeira tendência. Ou seja, empresas devem trazer mais humanidade aos produtos. “A P&G colocou bolinhas atrás das embalagens para ajudar deficientes visuais, mas esta mudança no produto ajuda também quem está tomando banho de olho fechado. Isso significa fazer um produto com mais empatia”.
Outra tendência é a identidade amplificada, que representa ter um olhar mais amplo e ver as pessoas fora de seus estereótipos. É o que a Harley-Davidson está fazendo com propagandas de mulheres nas suas motos. “A pergunta que você tem que fazer é ‘como nós podemos abraçar todas as identidades e promover um empoderamento de gênero?’”
A terceira tendência é a do conhecimento instantâneo, porque todos esperam adquirir conhecimento de forma mais rápida. “Isso fez com que um jornal forneça conteúdos em duas versões: uma completa e outra mais rápida. As empresas podem pensar em como podem ajudar as pessoas a ficar mais espertas mais rapidamente”.
Mais uma tendência é a de revitalizar produtos, permitindo que as pessoas decidam como querem consumir: comprar um smartphone ou ter um antigo com a bateria que dura 6 dias. Ouvir música no Spotify ou num toca-discos. Isso representa oferecer opções às pessoas.
Por fim, o fluxo de comércio é a tendência onde as empresas abrem seu leque de opções, inovando fora de sua indústria, como a Tacobell fez ao abrir um hotel ou a Apple ao abrir um banco. “A chave é entender as pessoas. Fazer produtos entendendo o que as pessoas querem porque, afinal, quem entende as pessoas sempre vence porque consegue prever o futuro”, argumenta Rohit.
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