A falta de mão de obra qualificada é a principal ameaça para o crescimento dos negócios do setor de consumo nos próximos 12 meses no Brasil. A conclusão é da 28ª edição da Global CEO Survey, pesquisa realizada pela PwC que ouviu mais de 4.700 líderes empresariais de mais de 100 países. Nesta semana, a consultoria apresentou dados relativos a empresas de consumo especificamente aqui do Brasil, comparando-os com a média geral.
“Embora otimistas em relação ao crescimento da economia, os CEOs do setor estão atentos aos riscos. No setor de consumo no Brasil, a falta de mão de obra qualificada é apontada como a principal ameaça, mas a questão no país vai além da capacitação, como é perguntado na pesquisa. A preocupação é tão predominante que outras ameaças, como riscos cibernéticos e disrupção tecnológica, que são preocupações importantes na indústria, são percebidas com menor intensidade neste estudo”, afirma Luciana Medeiros, sócia e líder da indústria de Consumo e Varejo da PwC Brasil.
Os CEOs do setor de consumo estão otimistas com relação ao andamento da economia, embora mantenham uma postura equilibrada entre confiança e cautela: 62% dos líderes desse setor projetam uma aceleração da economia local nos próximos 12 meses, abaixo da média nacional, que inclui outros setores, de 73%.
Este otimismo é maior em relação ao crescimento da economia local do que da global: 59% dos líderes desse setor projetam uma aceleração da economia global nos próximos 12 meses, abaixo da média nacional de 68%, mas próximo da média mundial de 58%.
Quais as principais preocupações dos CEOs?
A escassez de mão de obra qualificada foi indicada por 41% dos CEOs de empresas de consumo no Brasil quando questionados sobre fatores que levam a empresa a estar muito ou extremamente exposta a perdas financeiras. No Brasil, quando avaliados todos os setores, esta é uma preocupação de 30% dos CEOs.
A segunda maior preocupação dos líderes do setor é a segurança cibernética, apontada por 31% dos líderes de empresas de consumo.
No total, 59% dos líderes do setor planejam aumentar as suas equipes neste ano, um percentual acima da média nacional. Além disso, o uso da Inteligência Artificial (IA) para aprimorar estratégias relacionadas à força de trabalho e ao desenvolvimento de competências é apontado por 82% dos CEOs do setor.
“Esta movimentação, tanto em relação à procura por mão de obra quanto por tecnologia, se conecta com uma busca das empresas do setor por eficiência. Os resultados desta pesquisa nos refletem bem esta movimentação”, completa Luciana Medeiros.
A pesquisa também revela a necessidade de reinvenção das empresas de consumo. Para 33% dos participantes, as empresas que lideram não serão viáveis economicamente pelos próximos dez anos se mantiverem os rumos atuais. O percentual mostra um leve crescimento em relação aos 30% registrados na mesma pesquisa em 2024, porém está abaixo da média nacional, em que 45% dos executivos apontam a necessidade de reinvenção das empresas.
O que esperar da IA?
A adoção de ferramentas de Inteligência Artificial (IA) é apontada com um dos principais caminhos nesta trilha de reinvenção. Segundo a pesquisa, 63% dos líderes de consumo no Brasil dizem que a IA generativa resultou em ganhos de eficiência no uso do tempo dos funcionários. A média geral no País é de 52%.
Além disso, 41% dos executivos das empresas de consumo identificaram aumento na receita (34% no Brasil) e 34% na dizem que a IA gerou mais lucratividade (31% no Brasil). Os resultados ainda estão abaixo das expectativas do ano passado, mas o otimismo persiste: 57% dos CEOs do setor e 61% no Brasil esperam que a IA generativa impulsione a lucratividade de suas empresas nos próximos 12 meses.
“Temos observado como as empresas estão utilizando a IA para otimizar suas operações de supply chain. A IA também está bastante presente nas áreas de marketing e nas soluções de experiência do cliente, como por exemplo modelos de loja, gestão dos estoques e previsão de demanda. Integrar tecnologia, inovação, personalização e sustentabilidade são os pilares de estratégias bem-sucedidas”, afirma Luciana Medeiros. O nível de confiança dos CEOs do setor em integrar a IA aos processos essenciais da empresa é semelhante ao da média geral brasileira: 51%.
Aumento da competição no setor
No setor de Consumo no Brasil, 33% dos CEOs dizem que suas empresas começaram a competir em pelo menos um novo setor nos últimos cinco anos – em contraste com 45% na média geral de todos os setores no país. Elas adotaram iniciativas como ofertas nas áreas de setores de serviços financeiros, por exemplo, com carteiras digitais e soluções de crédito; de bem-estar, por meio de alimentos funcionais; e de tecnologia, com plataformas digitais e soluções de e-commerce. Este movimento tem o propósito de diversificar as fontes de receita e aproveitar novas oportunidades.
“O setor de consumo é mais vulnerável à entrada de novos players devido à sua conexão direta com o público final – empresas de outros setores podem facilmente integrar serviços de consumo em seus portfólios, intensificando a concorrência. O setor está mais propenso a ser um alvo de novos competidores, enquanto é menos agressivo em explorar mercados além de sua área tradicional de atuação”, explica Luciana Medeiros.
Resultados e sustentabilidade
O recorte brasileiro para a indústria de consumo da CEO Survey também mostra que iniciativas de baixo impacto climático trazem resultados positivos. Para 51% dos líderes do setor, os investimentos de baixo impacto climático levaram à redução de custos ou a um impacto irrelevante. O percentual está levemente abaixo da média brasileira de 69%, o que demonstra uma oportunidade de crescimento para o setor.
Outro dado relevante é que 62% dos CEOs do país no setor (59% no Brasil) afirmaram que sua remuneração variável está vinculada a métricas de sustentabilidade. Essa relação reforça a tendência de que, quanto maior o percentual da remuneração atrelado a esses indicadores, maior a probabilidade de ganhos de receita associados a investimentos climáticos.
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