A credibilidade é um ativo intangível que tem impulsionado o sucesso dos negócios de foodservice pós-pandemia. Afirmação óbvia? Vamos aos fatos.
Durante a pandemia de covid-19, o cliente passou a se preocupar e valorizar ações que tangibilizassem indicadores de segurança dos alimentos. Como as mesas eram limpas, vídeos das áreas de produção, disponibilidade de álcool em gel, embalagem dupla para o delivery e todos os demais cuidados que todos podemos nos lembrar.
Segundo a Data Driva, entre 2020 e 2021, foram abertos 200 mil e 211 mil respectivamente novos CNPJs ligados ao setor de operações de alimentação. Do total de mais de 1,9 milhão de CNPJs de negócios de foodservice, os MEIs representam dois terços. De janeiro a março de 2024 foram encerrados 79 mil CNPJs do setor. Se usarmos a lógica de participação de mercado, temos mais de 50 mil MEIs encerradas somente nesse período.
As microempresas são negócios mais frágeis por serem menos preparadas empresarialmente, não terem marcas fortes e, mais do que isso, não terem regularidade de padrão de serviço e qualidade. Então, os consumidores experimentam, mas abandonam o consumo. Essas empresas, por fragilidade em seu caixa, perdem força e não sobrevivem.
Segundo dados da Associação Brasileira de Franchising, em 2023, o franchising brasileiro previa um crescimento geral de 9,5% a 12%. O número geral foi de 13,8%. Porém, no franchising, a performance do foodservice foi de 17,9%, ou seja, 5,9 pontos percentuais acima do máximo projetado.
Parte desse crescimento vem da expansão em número de unidades, situação comum em um contexto pós-crise, quando pessoas que perderam empregos corporativos buscam o franchising como opção de investimento, quase uma forma de compra do emprego, além, é claro, da competência das empresas em criarem novos formatos, se tornarem mais eficientes e atrairem investidores.
Outra parte vem do aumento de ticket médio. E esse aumento está composto por aumento de preços, adesão dos clientes a ações promocionais, integração de canais físicos e digitais, mas especialmente à fidelização dos clientes a marcas que realmente entregam sua promessa.
Ilustrados esses dois paralelos, é fundamental reforçar que o mercado de alimentação é altamente pulverizado. Temos 22% de redes, contra 78% de negócios independentes, ou seja, há um contexto de desigualdade em profissionalização.
O consumidor é omnichannel, exigente ao extremo e implacável com marcas que o fazem gastar mal o seu dinheiro, principalmente, no contexto de perda do poder de compra que vivemos atualmente.
Ou seja, se o cliente for consumir um alimento preparado fora de casa, tudo precisa ser perfeito, a qualidade, o atendimento e, principalmente a experiência.
Grandes marcas como Cacau Show nasceram de pequenos empreendimentos individuais e, hoje, são referência. Apesar de os clientes serem mais rígidos em suas expectativas e padrões é fundamental que os elos do setor se mobilizem.
Uma forma de reduzir as distâncias são a organização e o protagonismo de indústrias e distribuidores de alimentos, somados a associações e entidades, para que os MEIs de hoje tenham suporte e aceleração ao seu processo de profissionalização.
Outra questão é estimularmos as pessoas a integrarem modelos vencedores. Dessa forma, cabe uma reflexão das marcas de franquias e redes buscarem formatos estruturados que permitam que os atendentes de hoje possam ter um plano de carreira e no futuro se tornem donos de lojas, permitindo que todo aprendizado ao longo de sua jornada o torne um empresário de sucesso.
Um circulo virtuoso em que todos podem ganhar. Vale a reflexão!
Cristina Souza é CEO da Gouvêa Foodservice.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
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